A volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao cenário nacional, modificou todo o tabuleiro político nos últimos meses. Sob influência do cenário nacional, governadores de 12 estados que não podem ou não pretendem ser candidatos à reeleição têm dificuldades para aglutinar sua base em um nome de consenso à sucessão. A polarização entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula é o pano de fundo da maioria dessas fissuras locais, com pré-candidatos buscando assegurar o apoio de padrinhos nacionais para tomar a dianteira no cenário estadual.

Entre os governadores que defendem uma “terceira via” na eleição presidencial, a preocupação é que uma eventual insatisfação com a montagem de chapas estaduais leve partidos da base a esvaziarem seu palanque para negociar apoios a Bolsonaro ou Lula. Em alguns casos, a migração do vice para o partido do chefe do Executivo surgiu como alternativa para pacificar a base. Em outros estados, desavenças entre o titular e o vice-governador tendem a fragmentar o grupo da situação. Há casos ainda em que governantes cogitam cumprir o mandato até o fim, abrindo mão de disputar outro cargo em 2022, para abrir espaços a aliados.

Na região Nordeste, que tem oito governadores em fim de segundo mandato, todos enfrentam o risco de dissidências na base. No Maranhão, por exemplo, o governador Flávio Dino (PCdoB) se divide entre um apoio a seu vice, Carlos Brandão (PSDB), ou ao senador Weverton da Rocha (PDT). Ambos têm se colocado como pré-candidatos ao governo, ameaçando reeditar o racha da eleição à prefeitura de São Luís em 2020, quando o grupo de Weverton apoiou a vitória do oposicionista Eduardo Braide (Podemos) no segundo turno contra Duarte Jr (Republicanos), que era apoiado por Brandão.

Embora seja aliado de Ciro Gomes, presidenciável do PDT, Weverton se reuniu no início do mês com Lula em Brasília e abriu diálogo com o petista, cuja candidatura em 2022 é apoiada por Dino. Outro elemento que movimenta as costuras à sucessão é a possível filiação de Dino ao PSB, que pretende lançá-lo como candidato ao Senado. Nesta hipótese, Brandão assumiria o governo no início de 2022 abrindo palanque a um presidenciável do PSDB, enquanto Dino consolidaria uma frente de esquerda.

De acordo com o deputado Bira do Pindaré (PSB-MA), em entrevista ao Globo, “o convite ao governador está feito, creio que ele está discutindo a transição”. O PSB vai defender uma aliança na esquerda.

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) conversa com a cúpula petista sobre concorrer ao Senado, visando ampliar a bancada no Congresso. Sem a definição de Camilo, o PT tampouco descarta lançar um nome ao governo. Lideranças do PDT, por sua vez, citam a popularidade de Camilo como razão para apoiar sua tentativa ao Senado, o que deixaria o governo a partir de abril com a vice Izolda Cela (PDT).

Na Bahia e no Sergipe, os governadores Rui Costa (PT) e Belivaldo Chagas (PSD), respectivamente, tendem a trocar uma disputa ao Senado pelo esforço em garantir a adesão de seus vices a suas alianças em 2022. Sem espaço nas chapas majoritárias articuladas por Costa, o vice João Leão (PP) é incentivado por aliados a articular uma candidatura ao governo ou se lançar ao Senado na chapa do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), opositor ao PT.