Na primeira comemoração do Dia do Servidor durante a gestão de Jair Bolsonaro (PSL), representantes de várias categorias, tanto da esfera federal quanto da local, receberam com preocupação as sinalizações feitas pelo Palácio do Planalto, que devem atingir em cheio o funcionalismo.
Embora ainda não esteja formulada, a reforma administrativa é a atual prioridade do governo federal, depois da aprovação da nova Previdência. Dentre outros itens, a pauta deve ameaçar a estabilidade, reduzir salários, alterar jornadas de trabalho, além de reformular o “RH do Estado”, o que também resultará em impacto direto no Distrito Federal.
Recentemente, em viagem oficial a Abu Dhabi, o presidente revelou a intenção de tirar a estabilidade de novos servidores a partir da aprovação da proposta, um dos motivos da apreensão dos funcionários públicos, embora a medida não atinja quem já integra o quadro.
“A gente vê prefeituras, estados — a União nem tanto, ultimamente — que exageram nas contratações. Não pode um prefeito ou um governador pegar um estado inchado pela administração anterior”, justificou o chefe do Executivo nacional. E reafirmou: “Para os novos, apenas. Não queremos causar um trauma junto aos servidores que, em grande parte, exercem um trabalho muito bom”, afirmou Bolsonaro.
O Metrópoles conversou com representantes de diferentes carreiras públicas federais e distritais. De forma unânime, criticaram o discurso bolsonarista, o qual classificam como tentativa de colocar em posições antagônicas os trabalhadores do Estado e a população.
Mobilizada para protestar contra as medidas federais na quarta-feira (30/10/2019), a Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) critica o que considera uma “tentativa” de criminalizar o funcionalismo.
“Quando o governo apresenta essa quantidade de propostas para desmontar o serviço público, ele demonstra não ter proposta de gestão. Mostra números fictícios e uma série de instrumentos a fim de colocar a população contra os servidores. Quando não há projeto, utilizam o funcionalismo público como toalha para enxugar os gastos públicos”, afirmou Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da entidade.
Enxugamento
Segundo o sindicalista, o ministro da Economia, Paulo Guedes, causa apreensão em todas as categorias ao sustentar o discurso de enxugamento da máquina. “O governo gosta muito de comparar nossos índices com o de países desenvolvidos. Então, vamos lá: faltam 200 mil servidores para atender a contento a população brasileira. A força de trabalho no Brasil é de 11%, enquanto na Suíça e nos EUA, é de 22%. Vamos comemorar o dia 28 em forma de protesto. O que está ocorrendo no Brasil resultará no que já está acontecendo no Chile. Estamos descendo a ladeira rumo ao caos”, opinou.
No entendimento de Maurício Sabino Rocha, diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Fundação Universidade de Brasília (Sintfub), o congelamento salarial e o “desmonte” das universidades são os pontos mais preocupantes dentro das medidas adotadas pela União. “De fato, estamos sofrendo um arrocho salarial de mais de quatro anos. O servidor já está com dificuldade de tocar a vida e está cortando tudo o que pode”.
Segundo Rocha, representante da UnB, a estratégia de equiparar a reforma de universidades com a dos demais órgãos resultará em problemas no desenvolvimento de pesquisas científicas. “Ele está querendo engessar as universidades. Isso vai impactar as atividades acadêmicas. Redução de salários, risco de perder a estabilidade. São inúmeras sinalizações ameaçadoras às carreiras. Um discurso é construído com intuito de dizer que o servidor público é um privilegiado, o que obviamente não condiz com a realidade. Tentam distorcer a imagem das categorias junto à população para justificar esses atos arbitrários”, disse.
Informações do Portal Metrópoles