Fogo amigo entre os Poderes atinge Previdência e dificulta avanço da PEC

Falta de engajamento do governo na articulação política e interferência dos filhos de Jair Bolsonaro nas pautas do Executivo têm resultado em brigas entre os Poderes e dificultado ainda mais o avanço da agenda econômica

A falta de engajamento do Executivo na articulação política e a interferência dos filhos do presidente Jair Bolsonaro nas pautas do governo têm irritado aliados, resultado em brigas entre os Poderes e dificultado ainda mais o avanço da agenda econômica. Soma-se ao clima instável a prisão do ex-presidente Michel Temer, um dos maiores caciques do MDB, partido de grande influência no Congresso.

Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Bolsonaro precisa ter “mais tempo para cuidar da Previdência” e menos para rede social. O ministro da Economia, Paulo Guedes, resumiu o momento político em poucas palavras: “Não posso falar agora, parece que o pau está comendo”, disse ontem, ao chegar à cerimônia de posse de Solange Paiva Vieira na Superintendência de Seguros Privados (Susep).

As brigas acontecem em todas as esferas, mas o que mais tem potencial de estrago, no momento, é a indisposição entre o Executivo e o Legislativo. Mais especificamente, entre Maia e o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que tem pressionado o presidente da Câmara a pautar o pacote anticrime num momento em que o foco é a reforma, exigência que desencadeou uma série de desentendimentos. A gota d’água foi o apoio do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, à crítica de Moro.

(foto: Reprodução/Twitter)
(foto: Reprodução/Twitter)

Ao lembrar que Moro é um “funcionário do presidente”, como disse Maia, na quinta-feira, o deputado direciona a Bolsonaro uma crítica de boa parte dos parlamentares. “Há uma certa chateação dos congressistas, focalizada por Maia, de que ele não assume a negociação da reforma com o Congresso”, avaliou o gerente de análise e política da consultoria Prospectiva, Thiago Vidal.

Depois de ter sido atacado, Maia anunciou que passará a ter uma atitude pragmática: não vai abrir mão da pauta, que defende desde muito antes de Bolsonaro entrar em cena, mas também não vai assumir mais um papel que não é dele. A articulação da base aliada para aprová-la passará a ser responsabilidade do governo. “A postura é de pressionar o Executivo e deixar claro que ele é uma peça importante no jogo. O governo tem de entender que é preciso dialogar com o Congresso”, pontuou o analista político Creomar de Souza.

Quem sai perdendo com a briga é Bolsonaro, na avaliação do especialista. Ao contrário do governo, Maia transita com facilidade tanto entre os partidos de centro quanto com as siglas de oposição. É uma figura imprescindível para avançar nos projetos de interesse do presidente, avaliou Souza. “Se ficar fora da base, o governo tem de achar um outro tipo de interlocutor. Mas será um desafio grande, pois o Congresso está renovado”, explicou.

O analista lembrou que o governo não tem investido em articuladores e mantém o discurso contra a “velha política”, duas atitudes que podem prejudicar a tramitação dos projetos.

Informações do Jornal Correio Braziliense