O governo ganhou a queda de braço com os caminhoneiros. A paralisação prevista para esta segunda-feira (16/12), que, segundo Marconi França, um dos representantes da categoria, contaria com adesão de pelo menos 70% dos 4,5 milhões de profissionais, foi fraca e não atraiu a classe — que há dias se mostrava receosa sobre cruzar os braços e parar as estradas. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que havia garantido que não haveria greve, minimizou os esparsos protestos.
“Acho que está descartado. Observe que hoje (esta segunda-feira — 16/12) já era o dia de início. Não está tendo nada nas estradas, não houve nenhum ponto de bloqueio”, afirmou.
Ele explicou que abriu as portas do ministério e apontou as várias reivindicações atendidas pelo governo, como a queda do valor da multa em balanças nos postos de pesagem, o documento de transporte eletrônico e o agendamento portuário automático. A nova tabela de frete, uma das principais queixas dos caminhoneiros, será lançada em janeiro.
“A categoria vem reconhecendo isso, está participando das nossas reuniões e da construção de soluções. A gente percebe quais são as demandas, tenta tratar e está fazendo isso em conjunto.”
Semana passada, Tarcísio prometeu que a resolução do Código Identificador da Operação de Transportes (Ciot, que deveria ter sido reeditada no dia 11) será publicada ainda nesta semana. De acordo com a assessoria de imprensa do ministério, a reunião que vai definir o Ciot está marcada para hoje, na Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT).
“Vale ressaltar que a pauta foi deliberada na última reunião do Fórum de Transporte Rodoviário de Cargas (TRC), no início do mês, e que seu cronograma de apreciação é de amplo conhecimento da categoria desde então. Portanto, não há qualquer ligação entre a regulamentação e a tentativa frustrada de paralisação desta segunda-feira”, destaca a nota.
Outro que comemorou a baixa adesão à paralisação foi o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. “As informações que eu recebi hoje (esta segunda-feira — 16/12) cedo, e ao longo do fim de semana, é de que a situação está sob controle e não está causando nenhum tipo de problema ao ‘ir e vir’ ou a questões de segurança energética”, afirmou.
Albuquerque reiterou que as razões da greve de 2018 eram outras. “Hoje há um novo governo e resultado. Estamos trabalhando com diálogo e transparência. As motivações da greve do ano passado não existem hoje. O problema é somatório de coisas, não o caso particular do combustível”, disse, ao se referir à reclamação de parte dos caminhoneiros que apontam 11 altas consecutivas no preço do óleo diesel. O ministro também deixou claro que o governo não vai intervir na política de preços da Petrobras. A saída para o problema é o crescimento econômico que permitirá que a categoria seja “absorvida pelo mercado”.
Movimento político
Desde a semana passada, o governo também recebeu uma força do Judiciário. A greve foi proibida em alguns pontos, e as multas a ser aplicadas em caso de descumprimento vão de R$ 100 mil a R$ 300 mil por dia para Marconi França e para a Central Única dos Trabalhadores (CUT/RJ) que apoiou o movimento. Ele admitiu que a paralisação foi fragilizada pelo governo e seus aliados, que usaram o argumento de que se tratava de uma greve política —que, segundo ele, não é verdade.
Marconi lembrou que, em 2018, no governo Temer, o preço do diesel estava no patamar de R$ 3,50. No início de dezembro de 2018, o valor médio já era de R$ 3,718, segundo cálculos da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
“A greve está acontecendo, sim, em Recife, Rio Grande do Sul, Itajaí e Fortaleza. Há 12 pontos de bloqueio pelo país”, afirmou Marconi.
A pequena parte dos caminhoneiros que aderiu foi para casa ontem à noite, mas promete voltar às ruas até que a regulamentação do Ciot seja concretizada.
Um dos chefes da greve de 2018, Wallace Landim, o Chorão, que é dos principais interlocutores entre a categoria e o governo, divulgou pelas redes sociais que “não tem ambiente” para greve. Chorão, que apoiou Bolsonaro e tentou se eleger deputado federal, disse que a fracassada paralisação “é um movimento da esquerda”. “A gente tá vendo como movimento político”, afirmou.
Justiça decidiu impedir bloqueios
Na sexta-feira passada, em São Paulo, a juíza Ana Carolina Miranda de Oliveira, da 1ª Vara do TJSP proibiu “o contingenciamento de pessoas e estacionamento de veículos da manifestação”, atendendo a pedido da Concessionária da Rodovia Presidente Dutra para impedir bloqueios dos caminhoneiros, caso cruzassem os braços. Definiu multa de R$ 300 mil por dia, em caso de descumprimento da decisão, e determinou que os manifestantes ficassem distantes, no mínimo, 500 metros “das praças de pedágio”. No Rio, no domingo, havia um pedido de interdição da greve pela Autopista Fluminense S/A, concessionária da BR-101, no trecho entre Niterói e Campos de Goytacazes, contra Marconi França e Central Única dos Trabalhadores (CUT). A decisão, da juíza Rosana Albuquerque França, era para proibir que a greve travasse o fluxo de veículos e decretou multa diária de R$ 100 mil caso ocorresse. Na análise do presidente da CUT/RJ, Sandro Alex de Oliveira Cezar, “as medidas judiciais são um absurdo”.
Informações do Jornal Correio Braziliense