O Congresso está completamente fragmentado, com aliados que se confundem com oposição e lideranças que oscilam entre disputar o título ou se esconder dos holofotes. No Executivo, ministros brigam por protagonismo, cada um com uma pauta, e tentam se sobrepor à agenda legislativa. Para especialistas, esses são alguns dos sinais, cada vez mais claros, de que o governo está dividido em grupos com interesses mais próprios do que coletivos.
Há dois que tentam aparentar uma boa relação, mas têm objetivos antagônicas: militares e equipe econômica. Um exemplo clássico do choque de interesses é a reforma da Previdência. O Ministério da Economia quer aprovar um projeto com o maior ganho possível, mirando R$ 1 trilhão em 10 anos, mas o da Defesa foi o primeiro a desidratar o texto, ao propor contrapartidas para as Forças Armadas.
“Tem outro grupo que não tem uma agenda prioritária, mas tem jogado casca de banana na agenda do Paulo Guedes”, comentou o gerente de análise e política da consultoria Prospectiva, Thiago Vidal. Ele acrescentou à lista os “barulhentos ideológicos” — do Itamaraty, por exemplo — e o ministro da Justiça, Sérgio Moro. A diferença entre os dois, segundo ele, é que “os grupos ideológicos, em geral, jogam para si, enquanto Moro joga para a plateia”.
A postura do ministro da Justiça, na visão do especialista, é perigosa. “Para conseguir o que quer, ele assume que o governo está fraco e deslegitima outras pautas. Tenta ganhar no tapetão uma pauta que não tem prioridade agora”, afirmou. Prejudica ainda mais o cenário o fato de o presidente Jair Bolsonaro não tomar partido e não decidir qual é a prioridade do governo, já que não tem como agradar a todos os grupos de uma vez.
O chefe do Executivo precisa assumir responsabilidades, como a da articulação política da PEC da Previdência, uma das mais essenciais no momento. Para Vidal, se continuar como está, e ele não decidir o que, de fato, importa, os ministros podem começar a abandonar o barco, e ele, ficar sem nenhuma das pautas.
Na opinião do cientista político César Alexandre Carvalho, da CAC Consultoria, a estratégia de “continuar batendo na velha política”, que ajudou a colocar Bolsonaro no Planalto, está começando a dar problemas. “Ele vai ter que fazer uma reforma ministerial, cedo ou tarde. E o caminho é mais ou menos adotado pelo governo do presidente Lula: um núcleo duro, com o pessoal de confiança, e os ministérios distribuídos entre os partidos”, acredita o especialista. Para Carvalho, está claro que as legendas demandam cargos e que, sem eles, as pautas não vão avançar.
Informações do Jornal Correio Braziliense