No final de 2014, a nação despertou do ilusório sonho em que fora embalada por lideranças políticas promotoras de um processo de corrupção sem precedentes. Corrupção era uma das estratégias para manter o poder e, também, enriquecer próceres e aliados, que a Lava Jato tornou conhecidos pela sociedade.
O populismo foi outra estratégia para manter uma ampla base de dependentes votantes e alimentar a propaganda do “nunca antes na história desse país se fez tanto pelas classes menos favorecidas”. A gestão populista enganadora, eleitoreira e irresponsável implantou programas de bem-estar social com dinheiro público, sem lograr altos índices de desenvolvimento, capazes de mantê-los e, ainda, gerar excedentes para garantir o constante progresso do país. A ascensão das classes pobres foi apenas temporária.
Enquanto a sociedade se iludia, as lideranças petistas e peemedebistas, então aliadas, surfaram na onda da popularidade. Por outro lado, uma oposição desfibrada fazia jogo de cena sem defender, de fato, a moralidade na política e a correção do rumo pelo qual o país era conduzido ao caos. Muitos dos seus membros foram cúmplices na corrupção. Toda liderança política tem responsabilidade pelo profundo fosso onde empurrou o Brasil.
Os países do primeiro mundo puderam manter políticas amplas e duradouras de bem-estar social, mas só as implantaram após alcançar elevados padrões de riqueza, progresso sustentável e maturidade política. Hoje, muitos estão revendo programas sociais, pela dificuldade de financiá-los. O Brasil, por falta de visão de futuro, covardia moral, gestão irresponsável e populismo das lideranças políticas, estabeleceu programas sociais e benefícios previdenciários sem ter atingido padrões de riqueza e desenvolvimento capazes de sustentá-los. A realidade veio à tona e querem que o custo da incúria caiba à população.
A reforma da previdência é, sem dúvidas, urgente. Porém, a liderança, nos três Poderes, não esqueça que o exemplo vem de cima e que, sem ele, não convencerá a nação a aceitar sacrifícios. A sociedade sabe que arcará com um pesado ônus para o Brasil sair do abismo, mas exige que a liderança aperte, e muito, o próprio cinto. Nos altos escalões do serviço público existem megassalários turbinados por benesses complementares, cuja legalidade sem legitimidade afronta a justiça e espolia o contribuinte.
Antes de reformar a previdência, cujas consequências mais pesadas cairão nas classes médias e inferiores, a liderança nacional tem que cortar na própria carne. Congele, temporariamente, os salários nos mais altos escalões, diminua a diferença salarial entre os graus hierárquicos e estabeleça a isonomia entre servidores de mesmo nível lotados em diferentes Poderes.
Normatize a concessão de direitos especiais, mantendo apenas os justificáveis pela necessidade e legitimidade. Reestude a concessão e o valor de direitos especiais como: passagem aérea gratuita; transporte em aeronave oficial; cota gratuita de combustível; transporte terrestre gratuito; indenização para pagamento de auxiliares de gabinete; indenização para remessa de correspondência; aposentadoria após dois mandatos legislativos; planos de saúde privilegiados; auxílios paletó, ensino e moradia, este último a quem tenha residência própria ou disponibilizada; e outras mordomias inexplicáveis.
São vencimentos indiretos a quem já se encontra no topo da pirâmide salarial, a maioria pagos em todos os estados. A economia feita com a revisão desses megavencimentos e privilégios não resolverá a crise econômica, mas é a única forma de conferir base moral para impor sacrifícios a setores da sociedade, alguns sem mais reservas para cortar.
Isso é utopia, dirão muitos, pois a liderança pensa apenas em seus interesses e não no bem da nação. Ninguém espera espírito público da antiga liderança patrimonialista corrompida, que afronta a nação com mentiras ao explicar suas manobras para usurpar o tesouro nacional em benefício próprio. Infelizmente, essa doença moral contaminou a sociedade, que perdeu referenciais de dignidade ao ser submetida aos maus exemplos impunes e a uma sistemática orquestração contra os valores morais, sociais e cívicos.
Porém, há uma nova liderança e a nação reagiu. Tudo pode estar mudando. No entanto, a cura não virá de partidos desmoralizados e descompromissados ou de eleições incapazes de aperfeiçoar, por si só, a democracia como se tenta iludir a nação. Um choque de valores terá de vir da sociedade, ser aplicado nela própria, assimilado pelas famílias e por um sistema educacional moral e profissionalmente recuperado, capaz de formar cidadãos íntegros e cientes de suas responsabilidades cívicas.
A liderança falida não tem mais certeza da impunidade e a sociedade, não mais omissa, exige moralidade, transparência, espírito público e exemplo dos três Poderes, ciente de que só assim teremos um país digno e justo.
A mensagem tem que ser bem clara: querem sacrifícios? Deem-nos exemplos!
General da Reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva
Informações do Portal Blitz Digital