Com ruas mais vazias em decorrência das medidas de isolamento no combate à covid-19, o parco movimento nas quadras comerciais e residenciais se tornou atrativo para a prática de crimes. Na Asa Sul, um grupo de moradores denunciou ao Jornal de Brasília um aumento nas ocorrências de furtos e assaltos a casas, comércios e até canteiros de obras nas redondezas da 903. Alguns relatos apontam para o Centro Pop, destinado ao auxílio de pessoas em situação de rua, como aglomerador dos autores.
Um vídeo da câmera de segurança instalada na loja Casa e Festa, na 506 Sul, mostra um grupo de homens cobertos por lençóis brancos à porta do comércio. Em cerca de cinco minutos, os indivíduos sondam possibilidades de entrada e até forçam o portão. Pouco tempo depois, um deles se deita e, espremido, consegue entrar no imóvel.
Morador da 708 Sul, Miguel Galvão tem obras em andamento na mesma quadra da loja invadida.
Na terça-feira (21), enquanto a Companhia Energética de Brasília (CEB) realizava serviços de ligação elétrica, o computador da arquiteta do empreendimento foi furtado. Para o empresário, a responsabilidade pelo incremento na criminalidade é do Centro Pop.
“Aqui nas 700 eu vinculo o aumento ao centro. Eles ficam concentrados ali, não tem acompanhamento da Segurança Pública, nada”, desabafa Galvão.
Para ele, a facilidade para os crimes se dá pela falta de policiamento nas primeiras horas do dia, o que também facilita o planejamento de crimes maiores.
Nesta semana, um supermercado da região foi invadido, e o bando tentou carregar os caixas automáticos do estabelecimento. Ele conta também que um dos casos mais assustadores se deu na madrugada de terça para quarta-feira (22).
“Às 3h, todo mundo foi acordado por uma gritaria. Um usuário de crack entrou no jardim de uma casa e o dono, que tava acordado, reagiu”, conta Miguel. Por sorte, ninguém saiu ferido, mas ele relara que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) demorou 40 minutos para chegar ao local.
Segundo o morador, um grupo dos locais tem reunião marcada com capitães da PMDF hoje.
“Não foram as primeiras vezes. Desde o início do isolamento os casos aumentaram muito, e tem um exército de quase 200 pessoas ao redor do Centro Pop”, finaliza Galvão.
Secretaria se esquiva
Questionada, a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) encaminhou nota à reportagem na qual refuta as acusações feitas pelo moradores da Asa Sul. O órgão destaca a importância do local e diz que a pasta reforçou as medidas tomadas pelo Pop em meio ao surto da covid-19 no DF, mas se eximiu de responsabilidade sobre os delitos.
Para a Sedes, a questão se trata de problema policial, não social. “Atualmente, por conta das medidas de prevenção ao novo coronavírus, essas unidades estão apenas ofertando as refeições e espaço para higienização. O que ocorre de forma ordeira e coordenada, justamente para garantir as medidas de segurança à saúde. No que diz respeito à atos contra a segurança de quaisquer ordem, não é de competência da Política de Desenvolvimento Social”, diz o texto.
Segurança privada cresce
A Setec, empresa especializada em equipamentos de segurança, anunciou aumento de 20% na cartela de clientes do empreendimento. Segundo um dos fundadores da instituição, Agenor Chaves Netto, num primeiro momento houve queda nos contratos, mas logo as vendas voltaram a subir.
“Alguns de nossos clientes ainda cogitaram suspender os nossos serviços para diminuir despesas, mas voltaram atrás quando perceberam que não poderiam abrir mão da segurança para manterem seus comércios íntegros até a reabertura. O prejuízo seria ainda maior”, aponta ele, que prevê aumento de até 40% nos negócios até o fim do isolamento.
Informações do Jornal de Brasília