Não faz muito tempo, nós, mulheres, resolvemos assumir plenamente a nossa condição de ser humano. Já não aceitamos nos encaixar em rótulos pré-fabricados de feminilidade – bonecas, princesas, frágeis, dependentes, um mero apêndice do homem. Tampouco queremos ser postas em um pedestal, pois lá é onde se coloca aquilo que se quer distante por ser muito intimidador para se ter por perto. Neste Dia Internacional da Mulher, celebramos o rompimento de todas as velhas imagens do sexo feminino e a crescente ocupação dos mais diferentes espaços pelas mulheres. Afinal, nós podemos – e devemos – ser o que quisermos.
Na Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e nas suas vinculadas, não faltam exemplos de mulheres fortes, determinadas, que são inspiração para todos. São delegadas e peritas que solucionam crimes; policiais militares que promovem a segurança coletiva e individual; bombeiras que fazem resgates de acidentados, além de intervirem em situações de perigo. Entre elas, há um sentimento em comum: o orgulho de desempenhar suas funções em um ambiente predominantemente masculino e de mostrar que esse também é um espaço para mulheres.
É o que acredita a diretora da Assessoria de Assistência Biopsicossocial (Abips) da SSPDS, psicóloga Bruna Gadelha. Para ela, as mulheres que trabalham na área da segurança pública têm a missão de abrir portas para que outras possam saber que esse é um lugar também de mulheres. Ela ocupa o cargo de gestora há um ano, mas trabalha na pasta desde 2017.
“Embora eu esteja no setor de saúde, o nosso público é predominantemente masculino. E cada dia que passa, nós conseguimos dar mais espaço para que outras mulheres enxerguem esse ambiente como um ambiente também feminino”, afirma Bruna. A diretora explica que a Abips promove o cuidado dos agentes de segurança pública, oferecendo atendimentos psicológicos, psiquiátricos, serviços sociais, além de ações de saúde e preventivas. “Eu, em particular, saio muito mais forte desse ambiente, enxergando também a possibilidade de mulheres atuarem à frente do serviço operacional, por exemplo”, reforça.
É o caso da perita criminal da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), Leda Queiroz. Atuante na instituição há nove anos, ela conta que, no começo, as pessoas não entendiam o seu desejo de atuar nas ruas, realizando os trabalhos periciais durante as ocorrências. “Associam muito a mulher a uma figura mais delicada, que tem que ficar dentro de um ambiente fechado, controlado, como um laboratório. Para mim, não é assim”, enfatiza.
A engenheira eletricista afirma que seu maior orgulho é contribuir com as informações técnicas para a elucidação dos crimes. “A determinação de autoria de forma técnica, determinação da dinâmica, como aquele crime aconteceu, como aquele acidente de trânsito ocorreu, fazer os levantamentos de impressões digitais, de material genético que possa levar à identificação de quem cometeu aquele crime é a maior satisfação que nós temos”, ressalta.
Diferencial feminino
Já a delegada da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), Rosa de Fátima Oliveira, titular do 25º Distrito Policial (25º DP), colhe os frutos oriundos das batalhas de tantas mulheres, que deram importantes passos para que os espaços fossem cada vez mais preenchidos por figuras femininas. “Sempre foi muito tranquilo, com muito respeito, com muita serenidade, e as coisas fluem naturalmente. Os grupos, quando são formados por homens e mulheres, tendem a ter um resultado muito mais interessante, até por conta do foco, pela forma como são vistas as diversas realidades, as diversas verdades”, explica Rosa, que está na instituição há dez anos.
A capitã da Polícia Militar do Ceará (PMCE), Luziane Freire, que está na corporação há cinco anos, concorda com a delegada. “Nós sabemos que somos tão capazes, tão treinadas quanto os homens. O nosso toque traz diferentes olhares para a ocorrência e até melhores formas de resolver. Na maioria das vezes, eu estive no comando das operações ou composições, como mulher, e comandando vários homens. Todos juntos formamos um belo time”, acredita.
A tenente do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (CBMCE), Renata Stuani, também já fez parte da PMCE por 12 anos. Lá, ela fez cursos complexos, como o do Batalhão de Policiamento de Choque, de Controle de Distúrbios Civis (CDC) e de patrulhamento urbano do Comando Tático Motorizado (Cotam). Agora, na posição de comandante do CBMCE e mãe de um bebê de seis meses, ela se sente completamente realizada. “Me identifiquei demais com a área de salvamento, com a função de comandar, que está sendo uma experiência nova para mim. E cada ocorrência no Corpo de Bombeiros é uma situação totalmente diferente. Como mulher, eu me sinto honrada, orgulhosa demais por ter chegado até aqui, e pretendo ainda galgar degraus mais altos”, planeja a oficial, que integra o CBMCE há um ano.
Este também é o sentimento da capitã da PMCE Pâmela Landim, servidora da Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp) há três anos. “Eu me sinto muito honrada por ter trabalhado e trabalhar com tantas mulheres de grande coragem, de grande honra, na instituição”, afirma. De acordo com ela, atuar na formação de novos agentes públicos de segurança é desafiador. “Fico bastante feliz em saber que eu posso colaborar para a transformação dessa pessoa que chega como civil e passa por esse processo de transformação na instituição, para, então, se tornar uma militar. Para mim, é motivo de muita felicidade e orgulho”, diz.
A capitã acredita que a presença de mulheres deixa o ambiente de trabalho mais leve. “Temos a questão da empatia, a questão de você se solidarizar com o sentimento das pessoas que estão envolvidas, seja na ocorrência ou até mesmo nos seus problemas cotidianos. Eu acho que nós conseguimos ter uma visão de cuidado, seja com o profissional ou com a pessoa que estamos atendendo”, acredita.
Para a perita criminal da Pefoce, Manuela Cândido, diretora da Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) há mais de um ano, é sempre um desafio ser mulher na área de segurança pública e assumir um cargo de gestão, mas com habilidade e competência, é possível exercer todas as atividades. “Tenho muito orgulho de ser mulher e servidora do Estado. É gratificante poder contribuir com a política de segurança pública do Ceará. Apesar dos desafios, nós, mulheres, estamos prontas para atuar nas mais diversas áreas, sem qualquer limitação por questões de gênero. Basta apenas que oportunidades nos sejam dadas”, finaliza ela, que tem formação em Química Industrial.