Tribunal do Crime: PCC condena à pena de morte membros da facção no DF

Organização tenta se fortalecer na capital da República com a transferência de líderes. PCDF prendeu oito integrantes na última sexta (22/3)

Matéria da Jornalista Mirelle Pinheiro do Portal Metrópoles, afirma que o PCC vem tentando se instalar na capital do país, fortalecido com a chegada de lideranças nacionais à Penitenciária Federal de Brasília.

Segundo o Metrópoles, o Primeiro Comando da Capital (PCC) está reproduzindo localmente práticas criminosas já conhecidas no Rio de Janeiro e São Paulo. Uma delas é o Tribunal do Crime, no qual os integrantes da facção são julgados e podem ser condenados à pena de morte por ferirem uma espécie de código interno.

Foi o que aconteceu com dois membros do PCC que atuavam em Samambaia, em maio de 2018. Eles foram torturadoats e mantidos em cativeiros, localizados em Goiás, durante oito dias para depois enfrentarem o julgamento dos comparsas. O erro deles foi cometer uma infração considerada grave pela organização criminosa: comprar drogas do maior rival, o Comando Vermelho. O Metrópoles teve acesso aos detalhes do crime investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

O caso teve início quando a liderança do grupo descobriu que três traficantes compraram um carregamento de entorpecentes do “concorrente” para revender no DF. Pressionado, um deles conseguiu arrumar um álibi e foi inocentado no “processo”. No entanto, acabou tornando-se uma das três testemunhas de acusação contra os supostos colegas.

Tribunal do Crime tende a imitar alguns aspectos da Justiça comum. Por isso, os acusados também tiveram direito a chamar três pessoas para deporem a seu favor. “As testemunhas foram ouvidas por meio de vídeos e ligações. Uma delas estava no Paraguai e foi feita uma videoconferêcia. Todos os relatos das partes eram gravados e submetidos a um dos líderes, que se escondia em Uberlândia (MG)”, contou o delegado-chefe da Divisão de Repressão às Facções Criminosas (Difac), Maurílio Coelho.

Barbárie e gravações

Nesse período, a dupla de acusados foi capturada e levada a um cativeiro no Entorno do DF. “Durante oito dias, fizeram tortura psicológica e física. Ficaram uma semana sem alimentação”, detalhou o investigador.

Os responsáveis por tirar informações dos dois filmavam tudo para repassar ao chefe. Para isso, não pouparam na produção das imagens. Nas cenas, apareciam ostentando armas de grosso calibre. Do município mineiro, o líder fornecia dinheiro e alimentação aos comparsas.

Depois do tempo no cativeiro, o comando do PCC resolveu condenar os “réus” à morte. A execução dos dois deveria receber tratamento elaborado. Isso porque os vídeos do momento do assassinato são enviados aos demais integrantes como forma de alerta a fim de coibir comportamentos e atitudes não aceitos pelo regulamento interno.

Execução


Para não serem identificados nas imagens, os executores iriam aparecer com o rosto do Hulk – o personagem verde dos quadrinhos da Marvel. “Estavam com tudo preparado. Compraram máscaras e já tinham decidido como fariam a execução”, narrou o delegado.

No entanto, algo saiu errado momentos antes da morte dos condenados. Um deles conseguiu fugir e correr até um batalhão da Polícia Militar de Goiás, em Santo Antônio do Descoberto (GO). Ele pediu ajuda aos militares, que foram ao local do cativeiro e resgataram o outro refém.

Máscaras usadas pelos criminosos

Prisões
Identificado apenas como G.M.M. pela Polícia Civil, o acusado de liderar a célula criminosa brasiliense foi preso em 1º de março deste ano na frente da filha e da mulher em uma casa simples do bairro Residencial Pequis, em Uberlândia. No local, não foram encontradas armas nem dinheiro.

O suspeito, de 34 anos, é considerado pela PCDF como um dos bandidos “mais nocivos para a comunidade brasiliense”. Ele se mudou para Uberlândia (MG) no fim de 2018, e comandava de casa a facção da capital do país.

Outros criminosos que participaram do julgamento também foram capturados na operação. No celular de um deles, os investigadores encontraram vídeos e fotos do cativeiro. Em uma das gravações, a qual a reportagem teve acesso, os autores aparecem fumando, ouvindo música e ostentando armas no local onde funcionou o Tribunal do Crime.

Na última sexta-feira (22/3), a Difac , em conjunto com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), prendeu oito membros do PCC na Operação Continuum. “Todos os presos pertencem à facção e contribuíam cometendo crimes ou recrutando novos integrantes, incluindo menores de idade”, explicou do delegado Leonardo de Castro. O efetivo contou com 63 policiais civis.

Veja como foi a Operação Continuum:

“Batismo”

De acordo com o delegado, os policiais localizaram registros de batismo (veja abaixo) dos criminosos na organização. É uma espécie de documento que todos os associados do PCC precisam ter para provar o elo com o grupo. O papel de caderno traz informações como nome completo, idade, telefone, dados dos padrinho, data do batismo e dívidas de drogas.

Marcola


No mesmo dia em que a Polícia Civil percorria as ruas do DF e São Paulo à procura dos criminosos, a Polícia Federal e a Força Aérea Brasileira (FAB) transportavam o líder máximo do PCC de Rondônia para Brasília. Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, desembarcou na Base Aérea nessa sexta (22), às 13h20, e seguiu para o Presídio Federal, onde permanecerá detido.

Ele não veio só. Outros três integrantes chegaram no mesmo voo: Cláudio Barbará da Silva, Patrik Wellinton Salomão, e Pedro Luiz da Silva Moraes, o Chacal. Além deles, cumprem pena na penitenciária federal de Brasília: Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, irmão de Marcola; Antônio José Müller, o Granada; e Reinaldo Teixeira dos Santos, conhecido como Funchal ou Tio Sam.

De acordo com o delegado Maurílio Coelho, a polícia recebeu com tranquilidade a informação sobre a chegada do grupo, uma vez que a corporação vem fazendo a repressão qualificada das facções criminosas. Segundo ele, desde 2012, a polícia realiza operações contra o PCC. Em um período de seis anos, cerca de 300 pessoas foram presas. O policial define as células criminosas como um “câncer”.Monitoramos e estamos atento a qualquer movimentação desses indivíduos. Conseguimos desarticular os grupos, mas percebemos que rapidamente eles tentam se organizar para conseguir mais membros e se fortalecer no DF”delegado Maurílio Coelho

No entanto, a chegada de Marcola à capital foi duramente criticada pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Neste sábado (23), o emedebista disparou críticas contra o ministro da Justiça, Sergio Moro. Disse que não foi comunicado da transferência.

“Fui avisado depois e achei isso um desrespeito. Moro conhece muito de corrupção, de segurança provou que não conhece nada”, disparou, ao responder aos questionamentos da reportagem do Metrópoles, durante agenda pública na Candangolândia. De acordo com Ibaneis, logo após a transferência, Moro o telefonou e “ouviu poucas e boas”. A seccional da Ordem dos Advogados do Brasília no DF (OAB-DF) e políticos de oposição e da base também reprovaram a chegada de Marcola à capital.

Informações do Portal Metrópoles