Opinião: "O policial deveria gozar de uma folga para que pudesse exercer um serviço de qualidade"

Em 1983, sete horas da manhã, entrei em forma pela primeira vez na PMDF, no pátio do 1º BPM, onde hoje é a Academia de Polícia Militar. Já naquela época existia o tal do “bico” do Policial Militar. Tínhamos alguns oficiais como gestores de segurança de supermercados, boates e outros tipos de comércios. Os Praças, via de regra eram os seguranças (leões de chácara).

A corporação combatia isso, pois o policial deveria gozar de uma folga para que pudesse exercer um serviço de qualidade em seu turno de serviço.

Hoje vejo que inventaram um tal de Serviço Voluntário Remunerado. Não é isso um tipo de bico? Quer dizer que o policial não precisa de gozar de um descanso para executar um bom serviço nos dias de hoje?

Nada disso. O que acontece é que o sistema inventou uma maneira falsa de não dar uma boa remuneração, mas, ao remunerar o tal do Serviço Voluntário, ceifando a saúde física, mental e social do homem/mulher ludibria a categoria com uma falsa qualidade de vida financeira. Não existe um comprometimento com a adequação do efetivo às reais necessidades da população.

Governadores e muitos gestores (oficiais) da Corporação incentivam tal prática. Não se preocupam com a saúde física, mental e social de nosso maior patrimônio: nossos homens e mulheres.

Eu coloco na conta desses “gestores” cada suicídio, cada família desfeita, cada novo alcoólico, cada dependente, cada desvio de conduta esse peso.

O resultado disso está explicitado na reserva remunerada. Todos se esquecem que um dia estarão lá.  Mas, mesmo assim, engabelam pessoas que voltam ao serviço ativo para um serviço mal remunerado, contribuindo assim para a continuidade da maldade estabelecida.

É chegada a hora de a tropa pensar se vale a pena, se está sendo usada por essas pessoas que não se preocupam com os destinos de nossos Quadros, mas que estão apenas focados na manutenção de seu próprio bem estar.

Texto: Ivon Corrêa- TC Ref