A sequência de reduções recordes nos indicadores criminais do Rio Grande do Sul, observada desde o ano passado, ganhou uma nova marca em setembro. Pela primeira vez desde que a Secretaria da Segurança Pública (SSP) iniciou a contabilização, em 2002, o número de roubos de veículos no Estado ficou abaixo de 500 casos em um mês. Foram 496 registros, 39,8% menos do que no mesmo período de 2019, que teve 824. É como se durante os 30 dias de setembro apenas um veículo tivesse sido levado por criminosos em cada um dos municípios gaúchos, e ainda restaria uma cidade sem qualquer delito do tipo. Frente ao pico de ocorrências, em setembro de 2015, quando 2.126 condutores tiveram seus automotores roubados, o total atual representa redução de 77%, ou 1.630 casos a menos.
Embora seja possível apontar certa influência do distanciamento social de prevenção à Covid-19, o resultado inédito foi alcançado justamente no mês de maior abertura, em que praticamente todas as atividades que estiveram restritas no início da pandemia já haviam sido retomadas a pleno. Cenário que destaca o êxito do trabalho ininterrupto das forças de segurança e do planejamento estratégico do RS Seguro, a partir da análise mensal realizada pela Gestão de Estatística em Segurança (GESeg).
O roubo de veículos, ao lado dos crimes violentos letais intencionais (CVLI) e do roubo a pedestre, compõe o grupo de indicadores fixos de avaliação nos 23 municípios priorizados pelo programa.
A queda histórica de setembro também contribuiu para aprofundar a diminuição no acumulado desde janeiro de 2020, na comparação com igual período do ano passado. A soma de ocorrências em nove meses baixou 24,6%, de 8.658 para 6.525 – é o menor total para o intervalo desde 2002, primeiro ano da série histórica, que teve 6.389 roubos de veículos.
A marca atual é ainda mais expressiva quando se leva em conta o tamanho da frota no Estado. Nos últimos cinco anos, o número de veículos em circulação no RS cresceu 9%, de 6,4 milhões em 2016 para 7 milhões neste ano, conforme dados do Departamento Estadual de Trânsito (DetranRS).
Na direção oposta, os roubos de veículo caíram 51% no mesmo período: foram 13.302 entre janeiro e setembro de 2016 ou 6.777 casos a mais que o total dos nove meses de 2020. Dessa forma, com frota maior e delitos em baixa, a taxa de roubos de veículo, que há cinco anos era de 208 casos para cada 100 mil automotores, despencou para 93 a cada 100 mil – uma retração de 55%.
Mais do que ampliar a sensação de segurança nas ruas e estradas do RS, a retração nos delitos contra condutores também se reflete em benefício econômico para os gaúchos. Ainda em janeiro, depois de o Estado ter encerrado 2019 com 5 mil roubos de veículo a menos do que no ano anterior, o Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Resseguros e de Capitalização (SINDISEGRS) divulgou estimativa de redução média de 12% no preço dos seguros automotivos. Com o aprofundamento na baixa dos crimes contra motoristas, é possível que esse desconto seja ainda maior, uma vez que o peso da violência na composição do valor final é de cerca de 50%, conforme o sindicato.
Entre os principais fatores responsáveis pela redução recorde, além das ações estratégicas planejadas pelo RS Seguro e executadas pelas forças de segurança, está a ampliação do número de câmeras de videomonitoramento e cercamento eletrônico à disposição do Departamento de Comando e Controle Integrado (DCCI) da SSP. Há um ano, o governo gaúcho assinou a ordem de implantação de 525 novas câmeras e 30 salas de monitoramento em 36 municípios. O investimento de R$ 18 milhões foi viabilizado com parte dos R$ 67 milhões repassados ao RS por emenda parlamentar da bancada federal gaúcha no Congresso, com contrapartida de R$ 6,3 milhões do Executivo estadual.
A implantação dos equipamentos, que já estão funcionando nas 36 cidades contempladas, ampliou para mais de 1,6 mil o número de câmeras que compartilham imagens captadas nas ruas de um total de 127 municípios. Parte desses aparelhos opera com a tecnologia Optical Character Recognition (OCR) – Reconhecimento Ótico de Caracteres, em tradução livre do Inglês –, capaz de fazer a leitura da placa dos veículos e emitir alertas na central de monitoramento caso conste no sistema alguma irregularidade, como ocorrência de roubo ou furto. Quando isso ocorre, a central aciona a guarnição policial mais próxima para fazer a abordagem, o que acelera a localização e prisão de ladrões e receptadores, bem como a recuperação de veículos levados das vítimas.
Só em Porto Alegre, são cerca de 700 câmeras em todas as regiões da cidade. A Capital teve cerca de 1 mil roubos de veículo a menos no acumulado desde janeiro, com 2.762 ocorrências, frente os 3.808 registros em igual período do ano passado (-27%).
Em São Leopoldo, que recebeu 32 pontos de cercamento eletrônico a partir da emenda de bancada, os roubos de veículo caíram de 438 entre janeiro e setembro de 2019 para 319 no mesmo recorte de 2020 (-27%). Canoas, que recebeu 18 novos pontos de cercamento, teve redução de 38% na comparação de nove meses deste ano e do anterior, de 536 para 330 ocorrências.
Homicídios no RS têm queda de 18,3% em setembro
Na esteira das marcas recorde, a Segurança Pública também alcançou redução inédita dos homicídios em setembro. O total no RS caiu de 126 no ano passado para 103 (-18,3%), o menor para o mês em toda a série histórica – o sistema de contabilização permite extrair o número de vítimas no Estado em separado do de ocorrências a partir de 2005.
Com o resultado, foi mantida a diminuição no acumulado deste ano frente ao mesmo período de 2019. Na soma de vítimas entre janeiro e setembro, o total reduziu de 1.380 no ano passado para 1.281 neste ano (-7,2%), o menor número desde 2007, que teve 1.271 óbitos por assassinato no intervalo de nove meses.
Além disso, seis cidades das 23 priorizadas para a análise mensal da GESeg encerraram setembro com zero homicídios registrados: Cachoeirinha, Ijuí, Lajeado, Sapucaia do Sul, Tramandaí e Capão da Canoa – neste último município, completaram-se dois meses consecutivos sem nenhuma vítima de assassinato.
Ataques a banco reduzem 62,3% em setembro
Entre os crimes patrimoniais, que mantiveram cenário generalizado de redução, o destaque é a queda acima da metade nos ataques a banco no Estado em setembro. Enquanto o nono mês de 2019 teve oito ocorrências do gênero, neste ano foram registrados apenas três casos, uma retração de 62,5% – é a maior queda percentual e o menor total no período em toda a série histórica, que a partir de 2012 passou a contabilizar em separado os números de ações contra estabelecimentos bancários.
A redução também é recorde quando considerado o total acumulado desde janeiro. A soma de casos até setembro caiu de 85 em 2019 para 40 em 2020, baixa de 52,9% – assim como na leitura mensal, é o menor total e a maior diminuição percentual desde o início da contagem.
O trabalho de inteligência e pronta-resposta realizado pela Operação Angico da Brigada Militar é um dos principais fatores para desarticulação das organizações criminosas especializadas em atacar instituições financeiras.
Em 13 de setembro, um trio de assaltantes que agiu contra uma agência do Sicredi no município de Itati, no Litoral Norte, foi rapidamente cercado pela mobilização do efetivo da BM. Equipes dos Comandos Regionais do Litoral e da Serra, dos Comandos Rodoviário e Ambiental, do Batalhão de Aviação (BavBM), do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e do 1º e 4º Batalhões de Choque (BP Choque) saturaram a região em poucas horas. Os três assaltantes, localizados embrenhados em uma área de mata, decidiram entrar em confronto com os policiais e acabaram mortos no tiroteio. Nenhum PM ficou ferido. Com o trio, foram apreendidos três fuzis, uma pistola e um revólver. Também foi recuperado dinheiro levado do banco.
Roubo a transporte coletivo é o menor da série histórica
Repetindo a tendência verificada desde o ano passado, os roubos a transporte coletivo se mantêm no menor nível desde que a contabilização em separado desse delito teve início, em 2012, tanto no cenário acumulado quanto no recorte mensal. Em setembro, a queda foi de 150 ocorrências em 2019 para 108 neste ano (-28%). Na soma desde janeiro, os 1.082 casos atuais representam 39,5% menos que os 1.789 registrados em igual período do ano anterior.
Feminicídios têm queda pelo quinto mês consecutivo
O reforço nas campanhas de conscientização e canais de denúncia, além da intensificação nas ações de repressão pelas forças de segurança, resultaram em queda nos feminicídios no RS pelo quinto mês consecutivo. Foram seis vítimas em setembro deste ano contra sete no mesmo intervalo de 2019 (-14%) – o número atual repete 2014, com a menor marca da série histórica. Com isso, o acumulado de mulheres assassinadas em razão do gênero desde janeiro de 2020 segue abaixo do registrado em igual período do ano anterior: passou de 70 para 63 vítimas (-10%).
Na leitura isolada de setembro, houve queda entre as ameaças (-24,3%), as lesões corporais
(-16,4%) e os estupros (-28,2%). Ponto fora da curva foram as tentativas de feminicídio no mês, que dobraram de 14 para 30 (114,3%). O dado reforça que a sociedade não deve relaxar no papel ativo de proteção às mulheres, denunciando imediatamente qualquer forma de agressão ou abuso. Familiares, amigos, vizinhos e até mesmo desconhecidos podem, e devem, fazer denúncia. A tentativa de feminicídio é o ponto final de um ciclo de violência que, se revelado antes, permite às autoridades adotar medidas preventivas para salvar a vida das vítimas e prender os agressores.
Além do 190 da Brigada Militar e do 197 da Polícia Civil, telefones para acionamento em emergências, suspeitas sobre abusos e agressões podem ser notificadas às polícias pelo Disque Denúncia 181, pelo Denúncia Digital, no site da SSP, ou pelo WhatsApp da Polícia Civil: (51) 98444-0606. Em todos os casos, o anonimato é garantido.
Latrocínios acumulam queda de 10,5% no RS
Outro crime contra a vida que acumula redução é o latrocínio. Entre janeiro e setembro de 2019, houve 57 roubos com morte em todo o Estado, enquanto o mesmo período deste ano registrou 51 casos – uma queda de 10,5%. O total atual é o menor para o intervalo de nove meses desde 2009, que teve 45 ocorrências do tipo.
Em setembro, houve um latrocínio a mais do que no mesmo mês do ano passado: de quatro para cinco casos. Ainda assim, o número se mantém abaixo do patamar de 2011, ano em que houve sete ocorrências e a partir do qual teve início a escalada de roubos com morte que se manteve até 2018.
Observação: os números neste texto representam um recorte temporal, retratando os fatos registrados na data da extração de dados do sistema do Observatório Estadual da Segurança Pública, e estão sujeitos a alterações provenientes da revisão de ocorrências, apuração de informações de investigações, diligências, perícias e correção do fato no final da investigação policial. Em relação aos números na planilha referente ao ano de 2019, disponível na página de estatísticas do site da SSP, pode haver pequenas divergências em razão de a extração para esse texto ser mais atual e conter mudanças ocorridas após 31.12.2019. A planilha do ano passado será atualizada juntamente com toda a série temporal, no início de 2021.
Edição: Ascom SSP