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O adiamento dos Jogos de Tóquio (Japão) para 2021 deu o primeiro norte à comunidade esportiva após semanas de incertezas em meio à pandemia do novo coronavírus (covid-19). No entanto, ainda há necessidade de mais detalhes sobre o calendário para as comissões técnicas poderem reprogramar a preparação dos atletas. É o que revelam alguns profissionais ouvidos pela Agência Brasil.

“A gente conduz o planejamento baseado nas datas do COI [Comitê Olímpico Internacional] e da Fina [Federação Internacional de Natação] para elaborar nosso cronograma de competição e de treinamentos nacionais e internacionais”, explica Gustavo Otsuka, gerente de natação na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA). “Sabemos que, para alguns, a situação foi muito ruim, mas para outros será um ano a mais de treino, podendo chegar mais velhos e experientes na competição. Pode até trazer benefício, mas é incerto”, pondera.

No polo aquático, por exemplo, a seleção masculina disputaria o Pré-Olímpico da Holanda em março, mas a pandemia da covid-19 fez a competição ser adiada para 31 de maio. A mudança da Olimpíada para 2021 e o estágio ainda avançado da doença na Europa indicam uma nova alteração de data. Por hora, a preocupação da comissão técnica é com detalhes que vão além da parte física na quarentena, para minimizar uma já esperada perda de rendimento.

“A nutricionista fala bastante sobre reduzir grandes quantidades na ingestão de alimentos. Inserir frutas e verduras e evitar mais alimentos calóricos. Muitas vezes, em meio a ansiedade, acaba-se descontando na comida”, alerta o técnico André Avallone, que reassumiu a equipe brasileira em janeiro e também comanda o time masculino de polo aquático do Sesi-SP.

“Estamos respeitando os atletas, deixando eles à vontade mesmo, porque agora não adianta querer treinar ou fazer trabalhos físicos ou táticos. É difícil para o atleta não saber o que acontecerá, quando poderá treinar. Nossa psicóloga diz que nem é mais pensar no dia a dia, mas ‘meio dia em meio dia’. É focar em casa, na família, ter uma quantidade de horas de sono limitada e cuidado com refeição”, completa.

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Brasil enfrentou a República Dominicana, pelo Pré-Olímpico de vôlei feminino, em Uberlândia (MG). – Raul Vasconcelos/rededoesporte.gov.br/Direitos Resevados

Na seleção feminina de vôlei, o acompanhamento remoto também olha além do rendimento, já que tanto o calendário nacional (a temporada da Superliga Feminina foi cancelada) como o internacional (a Liga das Nações, que seria disputada entre maio e julho, foi adiada) ainda são uma incógnita. A única certeza é a vaga olímpica, garantida em agosto do ano passado.  O grupo da seleção nas Olimpíadas de Tóquio 2020 já havia sido sorteado: as brasileiras terão como adversárias as seleções do Japão, Sérvia, Coreia do Sul, República Dominicana e Quênia. 

“Alguns clubes orientam as atletas online, com o preparador físico sugerindo práticas para elas manterem a condição física geral nos parâmetros de base, como força, flexibilidade, coração e pulmão. Há jogadoras que até fazem um paredão para não perder a sensibilidade do braço e da mão. Mas, claro que só estando na quadra, na coletividade, para esse aspecto se tornar cognitivo”, analisa José Elias de Proença, o Zé Elias, preparador físico da seleção.

“Isso requer um planejamento de retorno à atividade, e o que definirá é o tempo de se cuidar, de ficar em isolamento, achatarmos a curva (de contaminação) até que possamos pensar em performance. É o que o Zé (Roberto Guimarães, técnico da seleção feminina) tem colocado: primeiro, vamos pensar na saúde. Se o movimento aumenta a defesa, se as cargas de trabalho em casa fazem com que melhorem o sistema imunológico, atuaremos nesse sentido e depois retornemos, conforme o tempo que tivermos”, conclui o profissional.

Verão e inverno

O caso da maratonista paralímpica Aline Rocha é peculiar. Além de buscar vaga na Paralimpíada de Tóquio, ela também tentará chegar à Paralimpíada de Inverno, em março de 2022, em Pequim (China), no esqui cross-country. Aline, que sofreu um acidente de carro aos 15 anos e ficou paraplégica, foi a primeira brasileira a disputar os Jogos Paralímpicos de Inverno, há dois anos, em Pyeongchang (Coreia do Sul). “Com o adiamento de Tóquio em um ano, só restarão seis meses de preparação específica para os Jogos de Inverno. Isso faz com que o trabalho tenha de ser mais cuidadoso, mais minucioso”, explica o técnico e marido da atleta, Fernando Orso.

“No aspecto físico, não há mudanças tão significativas, mas além da manutenção no ranking mundial [atletismo e esqu]), há uma preparação específica, sobretudo na adaptação à neve. Os treinos em neve terão que acontecer já na temporada antes de Tóquio em 2021″, emenda.

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Aline Rocha, primeira brasileira a disputar os Jogos Paralímpicos de Inverno, na modalidade esqui cross-country.. – Marcio Rodrigues/MPIX/CPB/Direitos Reservados

Para esse ajuste, porém, Fernando e Aline precisam saber o calendário que terão à disposição – ainda não divulgado – e a provável duração da quarentena. “Até por questão de segurança, assim que encerrar o isolamento, ainda nos manteremos protegidos e voltaremos de forma cautelosa”, diz o técnico, prevendo que a atleta estará “perto do ápice” até dois meses após o retorno aos treinos em asfalto e pista.

Enquanto isso, Aline realiza as atividades em casa, em um rolo de treinamento. “O mais prudente é aguardar algumas definições de datas e de critérios de convocação. Com as mudanças, devemos ter todas as principais maratonas no fim do ano. Como cadeirantes conseguem fazer duas ou três delas em intervalos curtos, é possível voltar o planejamento a essas provas no segundo semestre e, em 2021, buscar resultados em pista”, detalha Fernando. “Vai depender muito do cenário do fim de ano. Será importante para decidir quando fazer a base para a temporada. Há tempo, mas aguardamos que as definições saiam o quanto antes”, encerra.

Edição: Cláudia Soares Rodrigues