Terra Prometida: 80 famílias eram obrigadas a bancar “milícia” no DF

Grupo cobrava cerca de R$ 500 de cada residência em assentamento irregular de Planaltina. Quem não pagasse, tinha casa incendiada

RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
Uma quadrilha que extorquia e obrigava famílias a pagar por uma série de serviços tornou-se alvo de operação desencadeada pela Polícia Civil do Distrito Federal nas primeiras horas desta terça-feira (8/5). Policiais foram às ruas para cumprir 15 mandados de prisão e 15 de busca e apreensão em vários pontos de Planaltina. Treze pessoas foram presas.
Boa parte dos alvos morava no acampamento Zilda Xavier, um assentamento irregular na área rural da cidade. O Metrópoles acompanhou a operação. Segundo as investigações, cerca de 80 famílias, distribuídas em 220 barracos, eram obrigadas a contribuir com a “caixinha” do grupo, que funcionava como uma espécie de milícia privada.
A apuração, a cargo da 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina), durou 10 meses. De acordo com as diligências, a organização criminosa atuava na invasão com mão de ferro, cobrando aproximadamente R$ 500 mensais de cada família, uma espécie de “taxa de condomínio”, como se as terras públicas fossem de sua propriedade.
A polícia identificou que o bando agia com lógica de um “embrião de milícia”, preparando-se para extorquir os moradores por meio de outros serviços, como gás e água, tal qual ocorre em comunidades do Rio de Janeiro.
O grupo cometia diversos crimes no local: latrocínio, homicídio, roubo, extorsão, corrupção de menores, incêndio doloso, furto, ameaça, apropriação indébita e grilagem de terra.
“Durante as investigações, identificamos pelo menos 20 delitos praticados por esse grupo. Era um embrião de milícia, mas que nada tem a ver com os grupos armados do Rio de Janeiro. Eles estavam se organizando e conseguimos neutralizar”, explicou o delegado-chefe da 16ª DP, Edson Medina.
Conforme apurado, eles recrutavam moradores da região, inclusive adolescentes, armando-os para extorquir os demais assentados. Quando as famílias negavam o pagamento da taxa cobrada, o grupo invadia os barracos, roubava os pertences, agredia, incendiava o local e vendia o lote para outra pessoa.
O líder do esquema criminoso, identificado como Benedito Gonçalves de Melo Filho, segundo a polícia, controlava também o tráfico de drogas tanto no acampamento quanto na região da Vila Rabelo. Ele foi preso no começo da operação, batizada de Terra Prometida.
Benedito seria dono de um bar de fachada, próximo a uma casa onde passa boa parte das noites. O local é estratégico e fica à beira de um vale que oferece a possibilidade de fuga por uma área verde.
Com base nas diligências, o suspeito costumava dar ordens para queimar os barracos de famílias que se opunham ao pagamento mensal. Várias bocas de fumo foram instaladas nas áreas dominadas pela quadrilha, funcionando no acampamento e na Vila Rabelo.
“Benedito e o grupo faturam alto com a venda de drogas. Ele também usa o bar como um dos pontos de venda”, disse uma fonte policial ouvida pela reportagem.
As investigações vão prosseguir, segundo o titular da 16ª DP. Segundo Edson Medina, “o objetivo é identificar como funcionava o esquema de tráfico de drogas que alimentava financeiramente a quadrilha”.
Fonte: Portal Metrópoles