Por Lilian Tahan , da Coluna Grande Angular – Em 26 de abril, o Metrópoles revelou que familiares da secretária de Segurança Pública do Distrito Federal, Márcia de Alencar, tinham o benefício, regulamentado pela Casa Militar, de ir para a escola em viatura oficial, sob escolta policial. Uma prerrogativa inédita deste governo. No mesmo dia, a reportagem também revelou que a gestora nomeou sua ex-empregada doméstica para exercer cargo de confiança no gabinete da secretaria.

Os episódios motivaram tanto a abertura de um inquérito no Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) quanto a convocação de Márcia para prestar esclarecimentos na Câmara Legislativa. Agora, um novo fato pode aumentar o constrangimento da secretária.

No último dia 17, Márcia sobrevoou Brasília a bordo de um helicóptero do Detran. Ela levava o filho de carona. Era o dia da votação do processo de impeachment no plenário da Câmara dos Deputados. Confrontada sobre o tema, Márcia admitiu ao Metrópoles que o filho a acompanhou porque havia uma vaga no voo. Tudo com a “devida permissão do piloto”.Disposta a convencer os cidadãos de que suas condutas não são reprováveis, mas fazem parte da prerrogativa do cargo que ocupa, Márcia conversou com o Metrópoles. Negou qualquer indisposição com policiais civis ou militares, disse que está fazendo um trabalho corretíssimo e elogiadíssimo em Brasília e resumiu como se enxerga: “Tenho muito orgulho de ser mãe, mulher, nordestina e mameluca.” (Ouça áudios no fim da entrevista)

marcia

A seguir, trechos da entrevista de Márcia de Alencar.

Metrópoles – A senhora se tornou uma unanimidade. Nem policiais civis, nem militares aprovam sua nomeação para a Secretaria da Segurança, tampouco concordam com sua forma de gestão. Como lidar com isso?
Márcia de Alencar – Essa informação é bastante inusitada ou despropositada, porque me reúno semanalmente com os titulares da Polícia Militar e da Polícia Civil. Temos uma relação harmônica. Nestes quatro meses de gestão, nós nos reunimos com toda as associações e todos os sindicatos das polícias. Sempre nos tratamos com muita civilidade e muito respeito e muito me surpreende essa afirmação.

Metrópoles – A senhora é a primeira secretária de Segurança Pública do DF a ter à disposição de familiares escolta policial, mesmo sem ter sofrido qualquer ameaça. A senhora não fica constrangida de utilizar uma viatura que poderia estar na rua servindo à sociedade para levar seus filhos à escola?
Márcia de Alencar – Veja. Eu tenho a mesma escolta que o secretário Arthur Trindade tinha. Eu compartilhei essa escolta quando recebi a determinação, ou melhor, a orientação, da Casa Militar, depois que recebi a gestão do Sistema Penitenciário, após a fuga de 10 presos considerados altamente perigosos, dos quais, naquela altura, tínhamos quatro capturas. Portanto, seis presos continuam (foragidos). Do que eu sei, dos 23 secretários que me antecederam, 20 deles eram policiais militares, civis ou federais. Portanto, dos três que me antecederam, o anterior me deixou essa escolta, que é a mesma que utilizo e compartilho a partir dessa recomendação da Casa Militar, bem como o outro civil que foi secretário de Estado, o então professor Roberto Aguiar. Ele também tinha escolta, assim como a maioria dos secretários de Estado de Segurança Pública em todas as unidades da Federação do Brasil.

Metrópoles – A senhora foi a primeira mulher a ocupar a chefia da Secretaria de Segurança Pública no DF. Uma conquista para todas nós. fazer-se de frágil para justificar regalias não é um retrocesso a uma conquista tão importante?
Márcia de Alencar – Não se trata de regalia, por gentileza. Se trata de um dever constitucional e um dever no sentido de segurança institucional. O que está em questão não é uma mulher ou uma mãe. O que está em questão é uma secretária de Estado de Segurança Pública, independentemente de ser homem ou mulher. O fato de ser civil é que está em questão. Nem eu, nem o professor Roberto Aguiar somos obrigados, na condição de especialistas, a termos condutas de policiais, nem nos portarmos como se policiais fôssemos.

Metrópoles – Qualquer profissional da área sabe que um plano de segurança precisa seguir uma série de diretrizes, como o número mínimo de dois policiais no veículo. Enquanto um está dirigindo, o outro fica atento às situações de perigo. No caso de seus filhos, o que se configura é mais o serviço de transporte escolar. A senhora pode nos convencer de que isso realmente se justifica?
Márcia de Alencar – Como todos sabem, há a aproximadamente 13 meses, o Distrito Federal está sob a Lei de Responsabilidade Fiscal. Nós recebemos a orientação da Casa Militar, embora assinada pelo coronel Cláudio Ribas, no dia 1º de abril, apenas no dia 4. Portanto, quando o seu site fez as ilações no dia 26 de abril, não havia tempo hábil de habilitar as condições operacionais em função da Lei de Responsabilidade Fiscal. O que nós adotamos foi compartilhar a mesma escolta que tínhamos desde janeiro, herdada da gestão de Arthur Trindade.

Metrópoles – A senhora nomeou a Vanda, sua ex-empregada doméstica, como assessora de gabinete. Acha produtivo para a segurança pública do Distrito Federal contratar uma pessoa sem nenhuma experiência na área?
Márcia de Alencar – Não é verdade. Ela, circunstancialmente, viveu essa situação e é de minha extrema confiança. Uma pessoa que tem experiência para o cargo, habilidade para atendimento ao público, que faz atividades administrativas, basicamente de assessoramento do gabinete. Tem nível médio, portanto, habilidades para ocupar a função conforme está determinado pelas prerrogativas do cargo. É uma pessoa que ocupa um cargo de livre provimento. Não há nenhum ato de ilegalidade nessa prática administrativa por mim cometido. É, inclusive, importante registrar neste momento que o seu veículo se utilizou de meios escusos para obter informações a respeito da vida privada dessa senhora, que é uma excelente servidora e que merece ser respeitada.

Metrópoles – Secretária, temos a informação de que a senhora sobrevoou Brasília a bordo de um helicóptero do Detran, recentemente. Nesse voo, também viajaram seus familiares. Acha correto?
Márcia de Alencar – Não tenho familiares em Brasília além dos meus filhos. Eu moro aqui por conta da minha especialidade, trabalho há 22 anos na área de segurança pública, de justiça criminal, e de prevenção à criminalidade. Tenho um currículo vasto. Trabalhei mais de uma década no Ministério da Justiça, entre serviços prestados e cargos de confiança. Trabalhei para as Nações Unidas. Fomos levados para representar o Brasil em outros países. Na Operação Esplanada, tínhamos a necessidade de, pela magnitude da operação, fazer alguns sobrevoos para poder analisar o que tinha sido pactuado com o comitê de pacificação. Trabalhamos de forma exemplar durante todo o processo da operação. Estivemos o tempo inteiro à disposição do Distrito Federal, dos cidadãos e cidadãs que estão neste momento nos lendo para poder oferecer o melhor serviço, a melhor resposta de controle social em um ambiente de disputa antagônica, onde não aconteceu nenhum incidente.

Metrópoles – Secretária, por que os filhos da senhora também sobrevoaram Brasília?
Márcia de Alencar – Os meus filhos não sobrevoaram…

Metrópoles – Isso a senhora está afirmando…
Márcia de Alencar – Eu tenho dois filhos. Conforme o seu site publicou, fica evidente que tenho uma filha. E é uma filha de menor, assim como meu outro filho também é de menor. E minha filha não fez sobrevoo hora nenhuma.

Metrópoles – E o filho, secretária…
Márcia de Alencar – Apenas no segundo voo — que eu era obrigada a fazer, por uma questão de controle operacional —, com a devida permissão do piloto. Nesta situação, em que tinha uma vaga no voo, o meu filho mais velho me acompanhou, naquelas circunstâncias. Era por volta das oito horas da noite de um domingo. Eu estava a serviço, desenvolvendo um bom serviço.

Metrópoles – A Secretaria vem apresentando dados de redução em alguns índices de criminalidade. Mas a população continua a se queixar de falta de segurança. Por quê?
Márcia de Alencar – A sensação de segurança, a percepção de segurança, é diretamente ligada a forma como a mídia potencializa certos tipos de criminalidade. Nós temos o roubo a comércio e o roubo à residência, por exemplo, que não representam nem 5% de todas as estatísticas de crimes contra o patrimônio no DF, que dirá de todas as ocorrências criminais. Portanto, há uma falta de critério de como a imprensa, de um modo geral, comunica os dados da segurança pública. O fato de darmos publicidade às informações é porque consideramos que o cidadão tem de ter acesso aos índices que importam para a sua rotina. Mas, quando essas informações não são tratadas com o devido rigor científico, acaba gerando uma distorção da realidade. Se não tivermos uma política de comunicação local e principalmente das redes sociais que alcancem o nosso cidadão menos informado, estaremos, sem dúvida, deformando todo o esforço republicano de um governo socialista que só pretende garantir fundamentalmente e principalmente o orgulho de viver em Brasília.

(Colaboraram Otto Valle, Thaís Cieglinski, Carlos Carone, Kelly Almeida e Leilane Menezes)

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Fonte: Blog do Callado