Moradores e comerciantes do Lago Sul estão preocupados com a redução do efetivo da Polícia Militar que atende o bairro. Desde o início deste ano, PMs lotados no 5º Batalhão da corporação, responsável pela cobertura da área, estão sendo transferidos para unidades do Guará e da Estrutural. A medida tem deixado insatisfeita tanto a população local, que reclama da insegurança, quanto os policiais militares, que precisam reorganizar a rotina de trabalho.
A preocupação tem se refletido nas estatísticas de roubos e furtos no Lago Sul. De acordo com a Secretaria de Segurança do DF, entre janeiro e março deste ano, cresceram as ocorrências do tipo na cidade em relação ao mesmo período em 2016. Os casos de roubo a pedestres subiram de 13 para 24; a coletivos cresceram de zero para 12; a comércios, de zero para 1; a residências, de cinco para seis; e os furtos a transeuntes passaram de quatro para nove. Só sofreram redução os roubos a veículos (de cinco para quatro) e os furtos em veículos (de 35 para 33).
“É uma luta que enfrentamos há cerca de um ano, mas ninguém nos dá uma resposta”, reclama o advogado Flávio Carmona, vice-presidente do Conselho de Segurança do Lago Sul. De acordo com o representante, os problemas começaram ainda em 2016, mas se agravaram a partir deste ano, quando a Polícia Militar fez uma reorganização de seu organograma, a segunda em 10 meses.
Entre as alterações previstas no plano, estava a junção do comando de três batalhões sob o II Comando de Policiamento Regional Metropolitano (II CPRM): o 4º BPM (Guará II), o 5º BPM (Lago Sul) e o 15º BPM (Estrutural). Desde então, as transferências de policiais militares que atuavam no Lago Sul têm se tornado frequentes. A maior parte é direcionada ao batalhão da Estrutural, inaugurado em janeiro deste ano.
Segundo moradores, a medida agravou uma situação que já era complicada. Flávio Carmona afirma que, até o fim do ano passado, a região do Lago Sul possuía um déficit de 200 policiais militares. Com as transferências que têm ocorrido desde o início do ano, o vice-presidente do conselho alega que o bairro perdeu cerca de 100 PMs e o déficit passou a ser de 300 militares.
Todas as pessoas entrevistadas pela reportagem ressaltaram que são favoráveis ao aumento do policiamento em regiões que também sofrem com a violência, como Guará e Estrutural. O problema, dizem, é fazer mudanças que acabam por prejudicar outras localidades.
Relembre casos recentes de violência no Lago Sul
Desobstrução da orla
Enquanto o efetivo policial diminui, os focos de preocupação da população aumentam. Segundo Carmona, desde que o Governo do DF iniciou os trabalhos de desobstrução da orla do Lago Paranoá, a sensação de insegurança cresceu, principalmente na região da QL 8, onde fica a mansão do ex-senador Valmir Amaral. “Aquela área se tornou um ponto de tráfico de drogas. Há vários moradores de rua habitando no local e o crime ocorre à luz do dia, ao lado de uma escola infantil”, denuncia.
O representante do Conselho de Segurança da região administrativa alerta ainda para a possibilidade de diminuição da proteção a embaixadores por conta da redução de efetivo da PM. “Eles são os representantes de outros países aqui e estão sob total responsabilidade do 5º BPM, independentemente de onde estejam. Sem policiais e viaturas na unidade, a segurança deles fica comprometida”, explica Flávio Carmona.
Os comerciantes do Lago Sul também se mostram apreensivos. “Já estamos vivendo um momento muito difícil, com a crise econômica e a criminalidade na região. Essa transferência de policiais militares aumenta a nossa insegurança e afeta uma população que já estava bastante prejudicada”, afirma o presidente da Associação Comercial do Lago Sul, Márcio Brum.
Policiais militares
Não são só os comerciantes e moradores do Lago Sul que estão insatisfeitos com a situação. Os próprios policiais militares do 5º BPM demonstram aborrecimento. Um PM da unidade, que falou com o Metrópoles sob a condição de anonimato, alega que as transferências desestabilizaram o batalhão.
“Nós estamos na insegurança. Várias equipes estão sendo desfeitas e as rotinas mudaram completamente. Colegas que trabalhavam aqui há mais de 20 anos agora estão tendo que atuar em outro lugar” – Policial militar do 5º BPM (Lago Sul)
O PM denuncia ainda a precarização das condições de trabalho causadas pela redução do efetivo:
“Antes tínhamos sempre quatro viaturas com quatro policiais fazendo rondas pela Lago Sul. Com a situação atual, há dias em que apenas dois carros fazem o policiamento ostensivo de toda a região”.
Outro lado
Acionada pelo Metrópoles para comentar o caso, a Polícia Militar do DF deu respostas evasivas. Apesar de questionada insistentemente pela reportagem, a corporação não confirmou o número de militares realocados.
Em uma primeira nota, a PM informou que “o batalhão da Estrutural foi criado com o intuito de reduzir os índices de criminalidade naquele local e assim foi realizado” e que “a população tem sempre pedido a criação de novos batalhões. Para que isso ocorra, temos de realocar novos policiais e policiais antigos, mas isso não significa que alguma área ficará desguarnecida. PMs se movem o tempo todo a fim de assegurar o bom andamento de nossa atividade-fim, que é a segurança de todo o Distrito Federal”.
Questionada uma segunda vez pela reportagem sobre o número de servidores realocados, a Polícia Militar disse que a transferência de policiais ocorre “de acordo com a necessidade da corporação, para efetivar o policiamento e aumentar a sensação de segurança da população”.
A PMDF alega ainda que, “no caso do 5º Batalhão, policiais do efetivo administrativo foram realocados para a parte operacional tanto deste batalhão quanto de outros do comando de policiamento regional metropolitano. Da mesma forma, para otimizar o policiamento”.
Confira a nota da corporação na íntegra:
A Polícia Militar, por meio do 5º Batalhão de Polícia Militar, responsável pela região do Lago Sul prendeu mais de 100 pessoas no ano de 2017. Além disso, diminuiu em mais de 70% os índices de furto em residência, em mais de 20% os furtos de veículo no Lago Sul e também houve redução de 25% nos roubos à residência em todo o DF, comparando com o mesmo período do ano passado.
O batalhão da Estrutural foi criado com o intuito de reduzir os índices de criminalidade naquele local e assim foi realizado. Informamos ainda que, a maioria das pessoas presas pela Polícia Militar possui uma extensa ficha criminal, o que demonstra que esses criminosos não permanecem presos voltando a cometer crimes.
A PMDF informa que a população tem sempre pedido a criação de novos batalhões, para que isso ocorra temos de realocar novos policiais e policiais antigos, mas isso não significa que alguma área ficará desguarnecida, policiais se movem o tempo todo a fim de assegurar o bom andamento de nossa atividade fim, que é a segurança de todo o Distrito Federal.
Temos implantado operações especiais no sentido de otimizar o patrulhamento e policiamento em serviço gratificado remunerado(SVG), que na maioria das vezes consegue dobrar o número de policiais nas ruas.
Fonte: Site Metrópoles – Texto de Pedro Alves