Daniel Santos Oliveira, de 27 anos, morador de Feira de Santana (BA), vende água em semáforos desde 2015, quando concluiu o serviço militar obrigatório. Sempre alimentando a vontade de ser policial militar, foi com o dinheiro da atividade que ele custeou os estudos preparatórios e provas de 27 concursos, até ser finalmente convocado para a Polícia Militar da Bahia. O momento em que concluiu o último teste, marcado por emoção, foi gravado em vídeo e fez sucesso nas redes sociais.

“Meus familiares ficaram sabendo por redes sociais de outras pessoas, sem ser pela minha. Eles não sabiam que eu tinha sido nomeado. O único que sabia era meu pai, que mandou um áudio [que escutei na saída]. Ele é minha inspiração e aí o soldado virou menino. As lágrimas caíram sem conseguir conter”, afirmou o jovem.

“Ano que vem faz sete anos que eu comecei a vender água no semáforo. Nesse período, cinco deles eu tentei concursos públicos, no meio do caminho, passei em Engenharia de Alimentos. Como eu sempre tive a realização de querer ser policial militar, eu resolvi continuar estudando para concursos”.

E assim ele fez, não se importando com os locais em que prestava provas. O primeiro deles foi em 2016, para o concurso da PM de Pernambuco, mas sem estudar, não foi aprovado. Depois, mais focado, tentou vaga em São Paulo quatro vezes, avançando de fase em duas delas. A aprovação veio na 27ª tentativa.

Pretendendo seguir carreira na PM e quem sabe um dia ir para a Polícia Federal, ele encoraja outros concurseiros com histórias parecidas: “Se vocês sonham, que vocês corram atrás. Muitas pessoas vão dizer que vocês não vão conseguir. Assim como disseram para mim, falaram que eu seria um marginal, um criminoso. Não segui as estatísticas. Um jovem negro também tem a oportunidade de mudar a sociedade e o mundo”.

“Minha família é de ‘classe baixa’, não tem nenhum militar. Eu estou sendo o primeiro da família. Nunca tive nenhuma influência, no ensino médio eu era um aluno regular”, confessa Daniel, que precisou interromper o ensino básico para cumprir o serviço militar obrigatório em 2013. No ano seguinte, voltou para o ensino médio e começou a vender cocadas..

Em 2015, após concluir os estudos regulares, o jovem percebeu que sua renda já não era suficiente. Ele foi fazer o curso técnico de edificações, também em Feira de Santana. Mal tinha dinheiro para os instrumentos necessários, chegando a usar o de seus amigos até receber a doação dos materiais de uma formanda. Foi então que ele decidiu vender água no semáforo..

“Pedi 12 reais emprestados, comprei dois fardos de água mineral e fui para o semáforo vender. No primeiro dia, ganhei 30 reais, tirando o valor do material. Desde então eu vendo água mineral todos os dias e vi que dava para administrar meu tempo para estudar para os concursos”, afirma.

Quando já estava formado no curso técnico, Daniel passou em engenharia no vestibular de 2018 da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), mas não pôde seguir na faculdade, que ficava a duas horas da sua casa. “Infelizmente, quando eu peguei a grade as matérias eram no turno diurno e eu tinha duas opções: ou eu passava fome e cursava engenharia, ou eu trabalhava e continuava estudando para concursos”..

A decisão deu resultado e ele foi convocado pelo Governo da Bahia para os exames pré-admissionais da Polícia Militar em 2 de outubro. Ele ficou na 11ª posição na classificação do concurso da Polícia Militar da Bahia para a região de Salvador, conforme publicado no Diário Oficial Estadual.
“A última etapa foi concluída na semana passada, sexta-feira (19), com o teste de aptidão física. Eu fiz o psicológico aqui; para mim era um pesadelo, graças a Deus fui aprovado. Minha família ninguém sabia que eu tinha sido aprovado e convocado”, declarou ele.

Fonte: https://noticias.uol.com.br/