Em seu discurso de posse, o governador Ibaneis Rocha (MDB) expôs sua grande preocupação com a segurança pública. Os constantes embates entre as forças de segurança, leia-se Polícia Militar e Polícia Civil, foram duramente criticados em sua fala inaugural, quando deixou clara sua intenção de submetê-las ao comando único do secretário de Segurança.
No evento de posse do primeiro escalão, foi observado o primeiro sinal prático dessa decisão política com a exclusão dos novos comandantes das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros. Mas a confirmação do empoderamento do secretário de Segurança, Anderson Torres, deu-se mesmo com o “decretão” de 1º de janeiro (39.610/19), no qual se materializou não só a vinculação das polícias Civil e Militar e do Corpo de Bombeiros à Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social do Distrito Federal (SSP-DF), mas também da Casa Militar.
O dr. Anderson já havia vencido outra importante batalha nos bastidores, a manutenção da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) na estrutura da Secretaria de Segurança, que mais uma vez foi cogitada. Diante de tantas experiências negativas de transferências do sistema penitenciário para outras secretarias, o dr. Anderson assessorou de forma correta o governador, que manteve essa sensível estrutura vinculada à SSP-DF.
Além disso, diante dos imbróglios jurídicos para a criação do Gabinete de Segurança Institucional, o governador, revelando mais uma vez sua preocupação com o equilíbrio de poder entre as forças, submeteu a estrutura existente da Casa Militar à SSP-DF.
Com isso, ganhou mais uma vez influência o dr. Anderson Torres, que comandará uma supersecretaria responsável pelas políticas de segurança pública, do sistema penitenciário, de defesa civil e, até mesmo, pela segurança palaciana e pessoal do governador, com um orçamento bilionário, talvez apenas inferior ao da Secretaria de Educação.
Assim, podemos concluir que o atual secretário de Segurança do Distrito Federal, seja pelas funções de extrema proximidade com o governador, como sua segurança pessoal, ou pelo orçamento invejável e grande poder político da área comandada, ganhou um status nunca desfrutado pelos comandantes daquela pasta desde o estabelecimento da autonomia do DF, talvez com tanta influência quanto os secretários de Fazenda e da Casa Civil.
Rafael de Sá Sampaio é presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Civil do Distrito Federal (Sindepo-DF). Bacharel em direito pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap/PE), cursou pós-graduação em segurança pública pela Academia de Polícia Civil (APC).