Organizações não governamentais (ONGs) que atuam em defesa dos direitos de crianças e adolescentes de todo o mundo cobram das lideranças internacionais que participam da 27ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27) medidas imediatas que coloquem os direitos infantis no centro do debate para conter a degradação ambiental, o aquecimento global e suas consequências.

Várias entidades da sociedade civil que participam da iniciativa, como as redes internacionais Our Kid’s Climate e Parents For Future Global criaram a campanha #KidsFirst (ou #CriançasEmPrimeiroLugar) para mobilizar a população global a cobrar mais atenção aos direitos das crianças por chefes de Estado, líderes empresariais e ambientalistas presentes à conferência, no Egito.

Uma dessas entidades é o Instituto Alana, do Brasil, que enviou uma delegação de mães à cidade egípcia de Sharm el-Sheikh, onde se realiza a conferência do clima, que vai até o próximo dia 18. Com sede em São Paulo, o Instituto Alana defende a urgência de um plano de ação global que garanta justiça climática para as crianças, com especial atenção às de países do Hemisfério Sul.

A inspiração dos entusiastas da implementação de uma estratégia global é o chamado Plano de Ação sobre Gênero (do inglês, Gender Action Plan), aprovado durante a COP 23, realizada em 2017, em Bonn, na Alemanha. O objetivo desse plano é integrar aspectos das questões de gênero às discussões climáticas, em particular, a importância da participação das mulheres nas negociações nacionais e internacionais.

“O Plano de Ação para Crianças é uma proposta de acordo cuja missão será integrar as necessidades das crianças e garantir a plena participação destas em áreas como adaptação, empoderamento climático, finanças, balanço global e gênero de forma coerente, igualitária e significativa na implementação dos processos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima”, explicou o Instituto Alana. Segundo o instituto, desde a primeira COP, em 1995, o fórum de líderes globais jamais tomou uma decisão com o objetivo específico de proteger as crianças dos efeitos das mudanças climáticas.

As organizações à frente da campanha também pedem às lideranças políticas e empresariais mundiais a adoção de medidas que estimulem os países a substituir o uso de combustíveis fósseis por fontes de energia renovável e a apoiar um processo de transição que inclua a criação de um fundo econômico para amparar parte da população em caso de perdas e danos causados por fenômenos climáticos extremos, como inundações e ondas de calor.

As entidades também querem que as próprias crianças, que representam um terço da população global, sejam incluídas no debate sobre a crise climática. “[Em todo o mundo], há 1 bilhão de crianças extremamente vulneráveis a desastres climáticos, especialmente no Sul Global. Além disso, mais de 90% das crianças em todo o mundo estão respirando ar poluído. O principal impulsionador disso é a queima de combustíveis fósseis – e, no entanto, governos e corporações continuam a explorar novos combustíveis fósseis, desafiando a ciência”, alerta a Our Kids’ Climate em seu site.

De acordo com um relatório que o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apresentou nesta quarta-feira (9), só no Brasil, há cerca de 40 milhões de jovens expostos a mais de um risco climático ou ambiental e são justamente as crianças e adolescentes os mais vulneráveis aos eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas em curso.

“As crianças e adolescentes são os que menos contribuem para as mudanças climáticas, mas são os que vão sofrer as consequências de forma mais intensa e por mais tempo. Nesse sentido, a mudança climática é uma ameaça direta à capacidade da criança de sobreviver e prosperar”, afirmou a representante interina do Unicef no Brasil, Paola Babos, ao apresentar o documento em que a Unicef faz uma série de recomendações que vão ao encontro das propostas da campanha #KidsFirst, como a priorização da garantia dos direitos de crianças e adolescentes na implementação de medidas para fazer frente a crise climática.