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Foto: Arquivo / Agência Brasília

Na próxima sexta-feira (27) é celebrado o Dia Mundial do Grafite. A expressão cultural que colore ruas de todo o mundo ganha cada vez mais voz no Distrito Federal. Inicialmente ligados à cultura Hip Hop, os desenhos e ilustrações também são uma forma de expressão pessoal e abordam temáticas diversas como cidadania e respeito, sendo uma importante ferramenta de inclusão social.

Com intervenções silenciosas que transformam muros, fachadas e espaços públicos em grandes painéis de arte e contestação ao ar livre, os “tags”, “bombs”, “crews” conquistaram notoriedade entre o poder público e a sociedade. Atentos a temas de relevância social, a expressão cultural cativa seu público com uma linguagem totalmente interpretativa do que se espera de um mundo melhor pela ótica do artista.

Usado para definir inscrições feitas em paredes, existentes desde o Império Romano, o termo grafite, de origem italiana “graffito” (plural “graffite”) significa a “escrita feita com carvão”. Popularizado mundialmente na década de 70, nos Estados Unidos, as inscrições caligrafadas e os desenhos coloridos ganharam movimento organizado dentro das artes plásticas, proporcionando a criação de uma linguagem universal entre os artistas em defesa de causas sociais nas ruas.

No Brasil, esta modalidade de arte urbana apareceu no fim da mesma década, em São Paulo. Para os artistas do ramo, o grafite tem a missão de transformar vidas, tanto para quem cria, quanto pela ressignificação dos espaços. Por trás da criatividade e vontade de colorir a cidade, grafiteiros carregam o dever de discutir problemas sociais em forma de arte.

O Distrito Federal é pioneiro no reconhecimento da importância do grafite para a sociedade. Em 2018, em gesto inédito no país, foi instituída a Política de Valorização do Grafite, que prevê uma série de ações de incentivo e difusão da arte urbana por toda a capital. Com isso, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) elabora, junto a representantes do movimento, políticas públicas para o setor, que é essencial para o desenvolvimento social, a recuperação de espaços públicos e a geração de oportunidades para artistas locais.

Dentro das ações já desenvolvidas está a criação do Comitê Permanente do Grafite, grupo formado por membros do governo e da sociedade civil que tem o papel de discutir e executar melhorias para os profissionais, aprofundar e pesquisar as vertentes da arte urbana, além de implementar a cultura do grafite no contexto social do Distrito Federal. Um dos principais resultados desta articulação é a realização anual do Encontro do Grafite, mecanismo que socializa, valoriza e remunera os artistas, além de proporcionar a transformação social em áreas degradadas.

A celebração do dia do grafite marca a trajetória de vida dos artistas do DF e exalta o reconhecimento da aceitação da prática como arte. Com 38 anos de idade e 28 de carreira, o grafiteiro Douglas Fonseca, o Kordyal como é conhecido no meio, teve sua vida transformada pelo grafite. Membro do comitê permanente e um dos grandes nomes da arte urbana da cidade, ele conta que seu talento – antes visto com o olhar de discriminação – foi aprimorado por meio de capacitação, tornando-se sua fonte de renda atualmente. “O grafite me lançou no mundo das artes plásticas de um modo geral, gerando várias possibilidades de trabalho”, explica.

Douglas relembra que, nas décadas de 90 e 2000, o movimento era marginalizado, considerado pela sociedade como apenas mais um ato de vandalismo. O artista, que nasceu do “Pixo”, diz que sua evolução como grafiteiro também é resultado da democratização do acesso à arte no país. Ele relata que o reconhecimento mundial do grafite traz versatilidade a essa expressão artística, que funciona como trabalho e como meio de capacitação para estes artistas. “O grafite ganhou espaço no DF não só como arte, mas como decoração, moda e até terapia”, revela.

Para a grafiteira da Região Administrativa de Samambaia, Sabrina Falcão, conhecida como Nabrisa, o grafite é, acima de tudo, uma expressão. Ela destaca o grande reconhecimento da arte dentro das regiões mais carentes no DF.  “Na ‘quebrada’ as pessoas ficam felizes em me ver pintar, agradecem, oferecem um cafezinho e querem conversar sobre o que estou fazendo. Mas pintar no centro também tem sua importância, porque é ali que pessoas de todos os lugares passam”, descreve.

Outro ponto destacado por Nabrisa é a participação feminina no grafite. A artista reconhece que a arte urbana ainda é praticada majoritariamente pelos homens, mas percebe que as mulheres vêm garantindo cada vez mais espaço. “Quando uma mulher se expressa através do grafite ela traz a sua perspectiva sobre a vida e passa a ser protagonista da sua própria história”, completa.

Frases de amor, resistência e desabafo acompanham os desenhos durante a trajetória destes artistas. Nesta sexta-feira, as ruas serão as principais testemunhas dos traços de um exército de grafiteiros. Eles seguirão de forma independente com sprays, pincéis e tintas reproduzindo ideias e formas, alimentando uma arte que cresce e surpreende o público não somente pela maneira autêntica como complementa a arquitetura urbana, mas também pela forma como ressignifica as áreas de vulnerabilidade social da cidade

Fonte: Governo DF