Em 2017, as adições no estoque total de água do Brasil foram de 27 milhões de hectômetros cúbicos (hm³), contra redução de 33 milhões. É o que mostram as Contas Econômicas e Ambientais da Água (CEAA) 2013-2017, divulgadas hoje (7) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e elaboradas em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA).
Em 2013, a adição no estoque total de água foi de 29 milhões de hm³, contra redução de 35 milhões. “Ou seja, os valores foram proporcionalmente maiores do que aqueles apresentados em 2017”, disse à Agência Brasil o geógrafo Marcus Fuckner, coordenador de Conjuntura e Gestão da Informação da ANA.
As adições ao estoque brasileiro de água são formadas principalmente pela chuva e pelos fluxos de entrada de água no país, além dos retornos da economia e das famílias. Já as reduções são compostas pela evapotranspiração, pelos fluxos de saída de água, principalmente para o mar, e também pelas captações. Por isso, Fuckner disse ser importante avaliar a variação de cada um desses componentes que as contas de água apresentam para poder compreender a dinâmica do grande estoque de água nacional.
A precipitação (chuva) foi a principal responsável pelas adições de água em 2017, com participação de 51,1%, seguida das entradas de outros países a montante e de outros recursos no território (36,4%), além do retorno ao meio ambiente pelas atividades econômicas (12,5%). O volume de precipitação teve queda acumulada de 13% entre 2013 e 2016, voltando a crescer 6% de 2016 para 2017.
Geração de energia
A principal retirada de água contabilizada nas contas corresponde à geração de energia, consequência da característica da matriz energética brasileira, na qual predominam as hidrelétricas. Em 2017, a participação da hidroenergia na retirada de água foi de 83,0%, seguida por 0,8% na retirada total de água por esgoto e atividades relacionadas.
No caso do setor de esgoto, Marcus Fuckner destacou que também é computada a drenagem da água da chuva nas cidades. “Quando falamos dos usos em que uma parcela da água retirada é consumida, os chamados usos consultivos, aí temos as atividades com as maiores retiradas, correspondendo ao setor agropecuário e ao setor de abastecimento de água”.
Acrescentou que essas características, em termos de grandeza, têm se mantido estáveis ao longo da série temporal analisada nas contas. No caso da geração de energia, foi observado um aumento constante na retirada de água, ano após ano, acompanhando a demanda crescente da economia e da população. No caso da agricultura, os anos de 2014 e 2016 tiveram menores valores, como resultado de períodos de escassez nas regiões Sudeste e Centro-Oeste em cada um desses anos. Também em 2014 foi observada a menor retirada do setor de captação de água em relação aos demais anos.
Setor de abastecimento
A CEAA 2013/2017 mostra que cerca de 92% da água utilizada pelas famílias brasileiras são fornecidos pelo setor de abastecimento, ou seja, pelos operadores do serviço de água. “Essa água que chega em nossas residências se transforma em esgoto, retorna para o meio ambiente também por meio desse setor da economia, sendo coletada ou tratada por ele. Ou retorna in natura para os corpos hídricos, quando não há coleta, nem tratamento”.
Nos 8% restantes, principalmente em áreas rurais, as famílias captam água diretamente dos corpos hídricos para o seu uso e o retorno da água utilizada também ocorre de maneira direta no meio ambiente, informou o coordenador de Conjuntura e Gestão da Informação da ANA.
Segundo Marcus Fuckner, o estudo mostra ainda que há uma disparidade muito grande tanto no estoque, quanto no uso da água nas diferentes regiões, por parte das atividades econômicas e das famílias. As diferenças regionais são muito grandes, afirmou. “A Região Norte, por exemplo, se destaca pelo maior estoque e fluxo de água, tanto de entrada como de saída. Já a Região Nordeste pelo menor, sendo inclusive as reduções de estoque maiores que as adições, o que reduz mais ainda a disponibilidade de água nessa região, em que boa parte do território é caracterizada pelo clima semiárido”.
O geógrafo da ANA disse que em termos de retirada e consumo de água, o destaque é a Região Sudeste, em diferentes atividades econômicas e no uso das famílias, já que reúne maior população e maior dinâmica econômica. O Centro-Oeste do país, de maneira diferente, se destaca pelo uso da água na agricultura que depende da chuva, a chamada agricultura de sequeiro. A Região Sul se destaca na irrigação.
Plano Nacional
A nova edição das CEAA mostra que ocorreu grande variação temporal e setorial no estoque e uso da água no país ao longo do período analisado. “Isso é reflexo tanto de crises hídricas vivenciadas em diferentes regiões brasileiras, quanto do desempenho da atividade econômica nos diferentes setores”.
Marcus Fuckner ressaltou que a apresentação dos resultados das contas retrata um pioneirismo metodológico que o Brasil trouxe, “inclusive para o cenário mundial”, e contribui para diferentes políticas públicas, em especial para a gestão e regulação dos recursos hídricos no país. “Um exemplo é a oportunidade de contribuir para a elaboração do novo Plano Nacional de Recursos Hídricos no horizonte de 2021 a 2040, que está sendo iniciado, pois as Contas de Água apresentam de maneira muito clara que há diversos Brasis dentro de nosso país”.
Fuckner explicou que o hectômetro cúbico é utilizado nas tabelas de estoques das contas de água porque as grandezas são muito elevadas, o que demonstra o tamanho do país e o grande volume de águas. “Um hectômetro cúbico corresponde a 1 milhão de metros cúbicos e 1 metro cúbico, por sua vez, corresponde a 1.000 litros. Sendo assim, um hectômetro cúbico é igual a 1 bilhão de litros, o que faz com que os números sejam muito grandes e inadequados para serem apresentados nessa escala de litros, caso fosse usada essa unidade de medida de volume”, concluiu.