José Eduardo Cardozo recebeu ontem os representantes dos delegados federais para discutir a pauta de reivindicações da Polícia Federal e o clima, que já não era dos melhores, azedou de vez. Cardozo não só deixou os delegados a ver navios como desencorajou o presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Marcos Leôncio, a fazer qualquer mobilização:
– Não adianta fazer pressão, porque, sob pressão, ela não decide nada. …
“Ela”, no caso, é Dilma Rousseff, e a pressão que Cardozo diz que será inócua tem relação com o anúncio feito por ele em novembro do ano passado de criar uma gratificação salarial para policiais lotados em áreas de fronteira.
Diante das cobranças dos delegados, Cardozo agora diz que não há a menor chance de a promessa sair do papel. Na tensa reunião de ontem à tarde, diante da falta de perspectiva, Leôncio disse ao ministro que “sairia extremamente desanimado” da conversa, no que foi imediatamente respondido:
– Se eu fosse o senhor, também sairia.
“Sinto muito” 

Grandes operações ameaçadas

A suposta falta de compromisso de José Eduardo Cardozo com os pleitos dos delegados não é o único foco de tensão entre o Ministério da Justiça e a Polícia Federal. Na reunião que tiveram com Cardozo ontem, os representantes da categoria reclamaram bastante do “sucateamento” da PF e do risco de a falta de estrutura inviabilizar a continuidade das operações policiais. Diante da afirmação dos delegados, de que a falta de recursos poderia paralisar as grandes ações da PF, Cardozo respondeu:
–  Sinto muito. Não tenho nada a dizer para os senhores.
Diante do “sinto muito” do ministro, as diferentes categorias de profissionais ligadas à PF (peritos, delegados, escrivães, papiloscopistas…) resolveram formar um movimento único para evitar o “sucateamento da polícia” e atormentar Dilma Rousseff nos próximos dias. É só o começo da briga. Por Lauro Jardim

Moral com os delegados

Vaga no STF
Quem acompanha esse entrevero entre os delegados federais e José Eduardo Cardozo diz que o ministro é visto na Polícia Federal como alguém distante do órgão, que trata com descaso o trabalho da PF porque está pensando apenas na vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal.
Ironicamente, o mesmo pessoal da PF que desce a borduna em Cardozo enxerga em Márcio Thomaz Bastos uma espécie de “ídolo maior” do órgão. A gratidão dos delegados com Thomaz Bastos decorre do tempo em que ele foi ministro da Justiça e estruturou a corporação.
Por Lauro Jardim
Fonte: Veja.com – Radar On-line – 25/05/2012