Transformar uma escola pública tradicional em uma “escola cívico-militar” não é um trabalho fácil, pois exige paciência, tempo, dedicação e acima de tudo conscientização. Não é pela força, nem apenas impondo regras e punições que as mudanças virão. Elas passam pela mudança de mentalidade que gera a mudança de comportamento dentro da comunidade escolar.
Todo professor tem poder, autoridade e legitimidade para atuar, principalmente em sala de aula, mas é necessário conquistar a confiança da comunidade para potencializar tudo isso. O papel dos atores que atuam nas escolas cívico-militares pelo país deve ser restabelecer a confiança perdida na educação pública.
Com a confiança restabelecida, o professor voltará a ter poder, autoridade e legitimidade em sala de aula, isso é o verdadeiro “empoderamento” dos mestres. Para isso, o aluno aprende a respeitar o professor “apresentando-o” diariamente a turma para que possa exercer tal poder.
Neste processo sensível de construção do compartilhamento de uma Gestão Escolar, na qual se tem duas direções, sendo uma pedagógica/administrativa e outra disciplinar, alinhar o pensamento entre gestores é um grande desafio, maior ainda repassá-las aos demais membros da comunidade escolar. A mobilização interna e externa torna-se extremamente necessária.
O primeiro ponto que é preciso compreender é que trazer um modelo cívico-militar, como alternativa ao tradicional, é um verdadeiro processo de democratização do ensino. Grande parte das escolas militares estão em grandes centros, com regras para ingresso extremamente difíceis.
Criar escolas cívico-militares em regiões com índices elevados de criminalidade e baixos níveis de indicadores escolares é dar a oportunidade para aqueles que possivelmente nunca teriam a possibilidade de estudar em uma escola assim. Tais escolas ao final irão representar no máximo 1% das escolas tradicionais em algumas comunidades.
Outro ponto importante na construção de uma escola cívico-militar é que antes da hierarquia e da disciplina vem o respeito, pois ele é a base de tudo. Atos de desrespeito devem ser intoleráveis, tanto de aluno contra aluno, bem como de aluno professor, mas também de professor aluno. A partir daí, alicerçado no respeito, a disciplina é estabelecida e a hierarquia é respeitada.
Por último, uma escola cívico-militar precisa entender que para uma melhor aprendizagem a escola precisa ter pouca movimentação nos corredores, ou seja, os alunos necessitam ficar o máximo de tempo possível na sala de aula recebendo o conteúdo dos professores, além disso, ela precisa ser uma escola silenciosa e limpa. Alicerçados nestes três pilares básicos fica bem mais fácil ter condições para desenvolver um bom trabalho.
Por Aderivaldo Cardoso – Pós-graduado em segurança pública e cidadania pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília.