Em Eclesiastes de Salomão ensina-se que: “O bom nome é melhor do que um perfume finíssimo, e o dia da morte é melhor do que o dia do nascimento. Nos ensina também que é melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos. Os vivos devem levar isso a sério! A tristeza é melhor do que o riso, porque o rosto triste melhora o coração. O coração do sábio está na casa onde há luto, mas o do tolo, na casa da alegria.” O dia de hoje foi um grande ensinamento. Hoje no enterro do Subtenente Delgado (Caveira 22) tive a oportunidade de viver o “outro lado da moeda” e de reencontrar amigos que não via há algum tempo.
Há praticamente oito meses eu enterrava meu filho e vivia o que aquela família estava vivendo. Percebi claramente hoje a importância dos amigos,o orgulho de ser policial e ainda pude sentir a dor que eles sentiram em outrora ao me ver naquela situação.

Não há dúvidas de que o subtenente Delgado cultivou um bom nome e que o honrou até seu último suspiro. Uma lenda na polícia militar, um excelente profissional, mas acima de tudo um ser humano fora do comum. Naquele pequeno espaço pude notar pessoas de diferentes órgãos, inclusive de outros estados. Lá estavam familiares, amigos, aprendizes e admiradores.

A dor da perda é contagiante. É estranho conversar com as pessoas e ser contagiado por tamanha dor. Ao conversar com uma amiga que fazia dupla com ele no MP faltou-nos palavra para expressar tal sentimento. Cada um que passava silenciava-se e solitariamente remoia suas dores, seus medos, seu vazio pela ausência. Mas a maior dor foi ao conversar com o amigo que descrevia a impotência ao tentar socorrê-lo no momento dos disparos. O amigo narrou a triste conclusão de que não somos “super-homens”, que somos mortais e que todo sopro de vida pode se esvair em poucos segundos. Somos heróis de “brinquedo” com roupas frágeis tentando salvar o mundo.
Embalado pelo som da marcha fúnebre o caixão carregado pelos amigos a passos lentos despedia-se de nós. Os “caveiras” enfileirados, com seus rostos cobertos, empunhando suas armas davam os últimos tiros de despedida, possivelmente a última coisa que ele ouvira antes de partir. O helicóptero jogava sobre nós pétalas de flores, trazendo uma brisa intensa que nos envolvia enquanto os “homens das forças especiais” entoavam suas preces. Em posição de sentido rendíamos honras a quem sempre nos honrou. Naquele momento nossos corpos, mentes e espíritos entravam em harmonia fazendo transcender aquele momento, por meio do amor que sentimos por aquela pessoa que tanto nos inspirou. Toda barreira que existe entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos foi quebrada. Naquele momento vencíamos a morte e permanecíamos de pé conectados com sua essência, observando sua matéria que ao longe também estava partindo. Continuamos de pé prontos para continuar a caminha nos próximos dias! Aos poucos nos dispersamos refletindo sobre aquele fato.
No restaurante o silêncio, a reflexão, o vazio. A comida não tinha o mesmo gosto, descia engasgada. Encontro alguns amigos que já fizeram o mesmo curso e dúvidas me consomem. Infelizmente, o que acontece lá permanece lá.
Vai em Paz nobre “CAVEIRA”, como li em um comentário de amigos:
“A GRANDE FAMÍLIA PMDF CHORA A SUA AUSÊNCIA!”