Há exatamente um ano, na madrugada do dia 05/12/2012, dava-se início a pior experiência de minha vida. Não conseguia dormir, ao fechar os olhos via meu filho em um lugar escuro caminhando e as vezes parando, muitas vezes sumindo ao longe. Cada passo que ele dava me fazia gritar: “volta Gabriel”, cada vez que ele parava me fazia dizer: “fica Gabriel”, lembro-me que em alguns momentos eu transpirava muito sem saber que estava dormindo ou acordado.
Logo cedo acordei, fiz uma postagem no facebook dizendo que passei a noite conectado com ele e posteriormente outra postagem onde praticamente eu descrevia o que estava vindo pela frente.
Tomei um banho, orei, baixei a cabeça enquanto a água escorria sobre mim, um grande incômodo, uma sensação horrível. Eu ouvia sua voz me chamando: “pai”, inconscientemente fui guiado aquele hospital, fui entrando hospital a dentro quase que em transe, não haviam barreiras, nem obstáculo, fui andando calmamente até a UTI, estranhando a ausência de vigilantes.
Ao entrar na UTI e virar a esquerda, uma grande surpresa, quase entrei em choque. A imagem que teima em voltar a minha mente é muito forte. A última imagem que restou enquanto ele lutava pela vida. Foram poucos segundos até a equipe me retirar, mas foi possível guardar muita coisa. Para um policial poucos segundos servem para fazer uma varredura completa. Naquele momento percebi o que estava acontecendo, ele estava tendo uma parada cardiorespiratória. Os médicos usam um desfibrilador em seu peito enquanto sua cabeça e seu corpo oscilavam em cima da cama. Desculpem descrever isso, mas preciso compartilhar esses momentos, eles me consomem a um ano. A última imagem que tenho é sua cabeça indo para traz com um tubo em sua boca, de tanta pressão na tentativa de salvá-lo já saia sangue de sua boca e penetrava no tubo, uma cena horrível para qualquer um, uma tortura para um pai.
Rapidamente me pegaram pelo braço, me levaram para fora. Alguns minutos tornaram-se uma eternidade. Tentava dominar minha mente para não perder o controle. Voltei-me para Deus. Você que está lendo esse texto já lutou com Deus? Já o questionou? Já o xingou e o desejou morto? Já propôs uma troca? Sua vida pela do seu filho? Já tentou controlar algo incontrolável? Fiz tudo isso.
Enquanto fazia tudo isso em minha mente, ouvia apenas ao longe a equipe que lutava pela vida do meu filho. Um apito chato, mas que indicava vida. O seu silêncio quase me matou.
Após lutar muito com Deus. Acabei me rendendo. Minha ultima oração foi um pai nosso, onde diz: “Seja feita a sua vontade”. Prometi aceitar o que viesse sem questionar. Tenho feio isso. Nenhuma palavra de maldição saiu da minha boca depois disso. Apenas tento superar a dor e a saudade…
Após essa última oração tudo silenciou ao meu redor. Logo depois vejo uma movimentação, alguns andam para um lado e para o outro. Uma enfermeira para no meio do corredor olha para mim, coloca a mão na boca e tenta sair rápido para não chorar ao ver a minha dor. Um jovem auxiliar senta logo a frente e começa a preencher alguns papéis. Eu já não sentia mais meu filho naquele lugar. Perguntei a ele se meu filho havia partido. Ele me diz que o médico iria conversar comigo. Ali tive a certeza do fato. O médico veio, olhou firme em meus olhos, apertou muito forte meu braço e me disse: “Perdão pai, a gente estuda tanto, tanto e não consegue vencer a morte. Desculpa por não conseguir salvar seu filho.” Vi tanta sinceridade naquele médico. Não tinha o que dizer. Olhei para ele é disse: “Doutor, só Cristo venceu a morte.”
Levantei a cabeça liguei para o meu pai e o informei do ocorrido, posteriormente para a mãe dele. Que missão ingrata me foi dada por Deus! Como dizer a uma mãe que seu filho não estava mais entre nós? Na primeira vez ela não acreditou, retornou e pela segunda vez tive que dar essa notícia tão dura. Mas o fiz, cumpri a missão que foi dada.
Pedi ao médico meu último momento com meu filho. Ele me liberou. Voltei a sala da UTI, alisei seus cabelos, toquei em seu peito ainda quente, beijei sua testa, fiz minha última oração naquele hospital. Deixei ali uma parte de mim. Um pedaço do meu coração…
Não imaginei que esse dia ainda me reservava outras surpresas…
Uma delas foi retornar para liberar o corpo, não sabia que precisaria reconhecê-lo. Outra imagem fortíssima. Uma maca, um saco é aberto, que sensação indescritível ver seu filho daquele jeito. Um esparadrapo no peito com o seu nome, um líquido já escorrendo de boca e suas narinas. Muito forte.
Agradeço a Deus pelos amigos que me sustentaram nesse momento. Pegamos o corpo e o colocamos no carro da funerária. A pior escolta da minha vida. Escoltar o próprio filho, fomos em silêncio escolher o seu caixão e posteriormente a sua sepultura. Só quem já passou por tudo isso consegue compreender o que estou falando. E o quanto tudo isso me faz sofrer…
Tenho lutado, procurado me manter em pé. Amanhã no dia de seu 16º aniversário (06/12/2012) lançaremos um instituto com o seu nome (Instituto Gabriel Brilhante), as 20h no Riacho Fundo I. Uma forma de me manter focado nessa terra. Os amigos que quiserem nos prestigiar estão convidados. Será no Centro de Ensino Telebrasília.
Meu maior receio é que as pessoas possam esquecê-lo. Um ser como ele não pode ser esquecido. Nos deixou muitas alegrias. A morte o levou, mas não pode sair vitoriosa. Acredito no poder do amor e que enquanto Gabriel estiver vivo em nossos corações ele estará entre nós. O instituto tem esse objetivo. Manter a memória dele viva. Ser uma inspiração para outros jovens para outras famílias.
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