A derrota do crime
Vivo reduz os roubos e os furtos em 58,7% e 72,56%, respectivamente, no Hipercentro de BH. Câmeras garantem mais eficiência ao policiamento.
O representante comercial Carlos Antônio Braga, de 57 anos, foi vítima de roubo no hipercentro de Belo Horizonte em 2002, quando a Polícia Militar (PM) anotou 993 ocorrências desse tipo de crime na região. Em 2006, o vendedor Walisson Santos Silva, de 21, também fez parte da estatística, mas naquele ano o total de ocorrências foi 58,7% menor: 410. Outra queda expressiva (72,56%), no mesmo período, foi nos registros de furtos, que despencaram de 6.941 para 1.904. Os bons resultados são atribuídos a vários fatores, mas, principalmente, às 60 câmeras de videomonitoramento instaladas na área. É o que revela a dissertação Projeto Olho Vivo: a íris dos olhos da segurança pública, uma análise geográfica, assinada pelo sargento PM Ederson de Assis Carvalho, sob a orientação do professor Alexandre Diniz, e aprovada pelo programa de pós-graduação em geografia e tratamento da informação espacial da PUC Minas.
Esse é o único estudo acadêmico sobre o impacto do Olho Vivo no hipercentro de BH de que o governo estadual tem notícia. O militar enfatiza a importância dos equipamentos para a redução das estatísticas de violência por meio de outro levantamento: a quantidade de abordagens feitas pelos colegas de corporação a pessoas em atitude suspeita subiu de 2.540, em 2002, para 9.584 em 2006. “Cresceu 277%. O monitoramento por lentes tem se expandido em todo o país. E foi adotado com sucesso em muitas cidades do exterior, como Londres, Nova York, Washington, Paris, Berlim e Bruxelas. A criminalidade caiu em todas elas. E não foi diferente em Belo Horizonte”, diz. O sargento, que tem também o título de especialista em segurança pública e criminalidade, conclui que uma parcela dos bons resultados se deve a outras intervenções. Ele cita a instalação, em 2005, da 1ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), que reúne, no mesmo prédio, na Praça da Rodoviária, policiais civis e militares. Lista ainda o reforço do policiamento preventivo e a revitalização de espaços públicos, como a Praça da Estação. Diversos especialistas sustentam que trombadinhas e moradores de rua se afastam de locais que são recuperados da degradação. Mas Ederson ressalta a parcela das câmeras na redução das ocorrências: “Com certeza, mais de 80%, 90% das quedas de furtos e roubos se devem ao videomonitoramento”. O hipercentro é monitorado por 60 lentes. Outras 12 vigiam ruas e avenidas da região da Savassi e do Barro Preto, mas os resultados apresentados por elas não foram alvo da dissertação do policial. Da mesma forma, as 66 câmeras instaladas, em 2007, em bairros da Região Noroeste e da Pampulha. O Olho Vivo chegou ao hipercentro em 2004. Para apurar a evolução dos registros de furtos e roubos, o militar levantou os dados referentes aos dois anos anteriores à instalação dos equipamentos e aos 24 meses posteriores. Os resultados divulgados no estudo são comemorados por moradores e freqüentadores da região, como o representante comercial Carlos Antônio Braga. “Fui assaltado em 2002 e sei o que passei. Levaram minha bolsa e meu celular. Hoje, ando com mais tranqüilidade pela região”, diz. O vendedor Walisson Santos Silva, que também foi vítima de assalto, avalia que, atualmente, o cidadão tem mais segurança para andar pelas ruas e avenidas do hipercentro. “Depois do Olho Vivo, melhorou muito”, reforça. Lentes da Lei Segundo o tenente-coronel da Polícia Militar Cícero Nunes, comandante do 34º BPM, os chamados crimes violentos – homicídio, tentativa de assassinato, roubo, estupro e tentativa de estupro – caíram cerca de 30% na área na comparação entre o primeiro semestre de 2008 e o mesmo período de 2007, quando o Olho Vivo ainda não vigiava a região. As 66 câmeras foram instaladas na Região Noroeste e parte da Pampulha em agosto passado. “Os novos equipamentos vão complementar (as primeiras) para melhor qualidade da vigilância. O (34º) batalhão foi o que teve maior redução de criminalidade em BH (a média foi de 30%). Só na região da Pedreira Prado Lopes (favela) chegou em torno de 60%. O impacto do Olho Vivo é muito grande”, destaca o militar, adiantando que, dos novos aparelhos, um deve ser instalado no Bairro Padre Eustáquio, outro no Ouro Preto e três na região da Prado Lopes. O representante comercial Carlos Antônio Braga, de 57 anos, mora no Bairro Novo Progresso, na Região Noroeste, e apóia a ampliação do vídeo monitoramento na área. “A gente sente mais segurança”, diz ele, que já foi vítima de assalto na Rua dos Caetés, em 2002, quando o Olho Vivo ainda não estava em operação. Além da Região Noroeste, seis câmeras serão colocadas num dos mais importantes cartões-postais da capital, a Praça da Liberdade, que será um dos maiores corredores culturais do país, a partir de 2009 ou 2010, quando os imponentes prédios que abrigaram secretarias do governo estadual serão abertos ao público, pela iniciativa privada, com espaços destinados a cinemas e outros meios de lazer.
Manchas
As quedas expressivas podem ser observadas em mapas elaborados pelo sargento. Os de furtos e roubos têm manchas vermelhas que informam os quarteirões com maior número de ocorrências entre 2002 e 2006. Quanto mais forte a cor, maior é a violência (veja gráfico). “Mas nota-se que elas ficaram mais claras”, destaca Ederson. Por sua vez, o mapa que trata das abordagens segue o caminho inverso: quanto mais forte a tonalidade da cor, maior é o número de ações da PM. “Nesse caso, vê-se claramente que há maior incidência das abordagens a cidadãos em atitude suspeita, reforçando o trabalho preventivo da corporação”. O comerciante Lucas Amorim, de 65 anos, dono de uma lanchonete na Rua Tamoios, diz que abriu o estabelecimento há seis meses e que a redução dos furtos e roubos no hipercentro incentivou a família a apostar na abertura de um ponto-de-vendas na região: “O Olho Vivo contribuiu para que a lanchonete funcione sem problemas. Trabalhamos com mais tranqüilidade e o clientes se sentem seguros”.
Proposta é aumentar vigilância
Belo Horizonte receberá mais 17 câmeras do Olho Vivo em agosto: seis serão instaladas na Praça da Liberdade, um dos cartões-postais da capital, e 11 na Região Noroeste e parte da Pampulha, num quadrilátero que vai da Avenida Tereza Cristina à orla da lagoa, e da Avenida Antônio Carlos à BR-381. O investimento será de R$ 850 mil, e ampliará para 155 o total de equipamentos que vigiam o município. O governo também estuda a viabilidade de ampliar o serviço para a Região de Venda Nova e ao longo da Linha Verde, a via expressa que liga o Centro ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, em Confins, na Grande BH. Atualmente, além das 60 implantadas no hipercentro, há 12 no Barro Preto e na Savassi, e 66 em bairros da Região Noroeste, área monitorada pelo 34º Batalhão da Polícia Militar.
Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=667656