Recentemente escrevi sobre um público seleto que tive a oportunidade de conhecer em uma CONFERÊNCIA LIVRE sobre segurança pública. Nesse evento tive a oportunidade de conversar com jovens de diversas cidades do DF, também conversei com um repórter do Ministério da Justiça, de maneira informal, que fez uma belíssima matéria sobre o evento!
Se eu não fosse curioso nem saberia, achei por acaso na net e resolvi compartilhar com os leitores do Blog!
Jovens do DF apontam novos caminhos para a segurança pública
(30/06/2009 – 11:42)
No último sábado (27), mais de 100 jovens do Distrito Federal trocaram o dia de descanso para debater um assunto que diz respeito a todos brasileiros: as causas e consequências da violência. Eles se reuniram na Câmara Legislativa, em Brasília, para realizar uma etapa preparatória livre da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública (Conseg).
A programação começou às 8h30 e incluiu palestras sobre cultura de paz, voluntariado, medidas socioeducativas e o papel da sociedade civil nas ações dos governos, além de trabalhos em grupo. Ao final do evento, por volta das 18h, os participantes definiram os princípios e diretrizes que, na opinião deles, devem orientar a construção de uma política de segurança para o país.
A integração entre polícia e comunidade por meio de projetos sociais e o planejamento participativo na implementação de políticas públicas figuram entre os seis princípios mais votados pelos jovens. Ao todo, eles formularam oito diretrizes. Em primeiro lugar, com 30 votos, foi defendida a promoção de programas de assistência psicológica para os profissionais de segurança pública. A finalidade, segundo os conferencistas, é melhorar o relacionamento entre a polícia e o cidadão.
“Às vezes, o policial julga a gente até pela roupa que a gente usa e erra na abordagem. Porque não podemos nos aproximar, trocar ideias, ser amigos e bater um futebol juntos?”, indaga Daniel do Carmo, de 14 anos.
Em seguida, com 31 votos, os jovens aprovaram a diretriz que sugere “a continuidade de projetos sociais voltados à prevenção do crime e da violência nas comunidades”. A jovem Maria Lícia, de 16 anos, acredita que o poder de mobilização é o principal vetor das transformações sociais. “Eu espero que esta Conferência abra espaço para a comunidade participar mais ativamente do processo de decisão. Ninguém é melhor para decidir o que a minha comunidade precisa do que eu, que moro nela”, sustenta.
Policial militar há 10 anos, Aderivaldo Cardoso (foto) fez questão de participar da conferência livre. “Eu também já fui adolescente e cresci na periferia. O que eu sempre pensei é que não queria ser igual à polícia que me parava nas ruas nessa época”, disse.
“Quando eu era mais novo minha namorada ficou grávida e eu vi o curso da polícia como oportunidade para sustentar minha família. Durante este curso eu tive contato com a filosofia de policiamento comunitário, que estava iniciando no Brasil, e me apaixonei”, conta Aderivaldo, que aprofundou o tema de polícia comunitária em curso de pós-graduação realizado por meio da Rede Nacional de Altos Estudos em Segurança Pública (Renaesp). “Eu sempre militei em movimentos sociais e aproximar a polícia e a comunidade era tudo o que eu queria”.
O ponto de vista de Aderivaldo instigou os jovens, que aproveitaram a oportunidade para fazer perguntas e aprender mais sobre a polícia. O participante Willian Wesley, de 19 anos, chegou à conclusão de que, se por um lado, a polícia julga o jovem pelo que ele veste, por outro, a população também tende a julgar a polícia pela farda e não consegue enxergar o policial como um cidadão. “A polícia tem que chegar na gente sem ser por este método de rotina que é o ‘baculejo’. O que deixa tudo mais difícil é a falta de diálogo”, sustenta Willian, que é morador de Itapoã – localidade conflagrada pelo governo federal como um Território da Paz, que reúne diversas iniciativas de combate e prevenção à violência do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci).
Caminho é o diálogo
Ainda pouco acostumado a participar de discussões como a da Conferência, o jovem Rogério J.A, que cumpre medida socioeducativa no Centro de Internação de Adolescentes de Planaltina (Ciap), venceu a timidez e contou um episódio vivenciado há poucos dias, quando foi liberado para visitar a família.
“Eu tô um pouco nervoso e tem até um policial aqui. Mas estes dias mesmo eu saí de casa só para ir até a esquina comer um cachorro-quente e chegou um pessoal que começou a fumar maconha perto de mim. Eu não ia dizer para os meus amigos ‘olha, não fuma perto de mim’. Chegou a polícia e bateu em todo mundo. A atitude da polícia podia ser a de conversar, perguntar para o jovem o porquê de ele estar nesta vida, como é a família dele”.
Mesmo tendo experiências negativas com a polícia, na avaliação de Rogério, o policiamento comunitário foi o assunto mais interessante do dia. “Eu nunca tinha ouvido falar no policiamento solidário. Acho que a polícia precisa entender o nosso lado e a gente também precisa entender o lado dos policiais. Eles têm os problemas deles. Muitas vezes vão trabalhar estressados até pela situação de ter que lidar com bandido. Essa relação da polícia com o jovem precisa melhorar”.
Rogério acredita que o diálogo é melhor caminho para alcançar essa condição. “Eu nunca tinha participado de nenhuma reunião com este aspecto e eu gostei muito. Quem me convidou foi o diretor do Ciap e a monitora que coordena uma oficina de reintegração lá. Ironicamente, foi no Ciap que eu aprendi que posso ser alguém na vida. Lá dentro encontrei pessoas com quem eu posso conversar sobre assuntos diferentes. São pessoas que acreditam em mim mais do que eu mesmo acreditava”.
Mídia mais democrática
A inquietação dos jovens com o que consideram monopólio e a falta de controle social do sistema de radiodifusão permeou os debates e alçou a diretriz “propiciar e estimular a criação de meios de comunicação para valorizar as ações positivas da comunidade” para o terceiro lugar na lista de prioridades da conferência.
A participante Maria Lícia (foto) explica esta posição: “Eu moro no Vale do Amanhecer e lá só aparece na mídia quando acontece algo de ruim, mas nós também temos muitas iniciativas boas. Essa falta de visibilidade das ações positivas diminui a auto-estima dos moradores e gera muito preconceito com quem é de lá. Eu, por exemplo, já percebi que fica mais difícil conseguir um estágio a partir do momento que eu digo que moro no Vale”.
Na opinião dela, a comunidade precisa buscar alternativas para divulgar suas ações. “Se a grande imprensa não está dando valor para a gente, precisamos encontrar outros meios para mostrarmos o que estamos fazendo de bom na nossa vila. Se nós não construirmos nossa imagem, os outros lá de fora vão construir e essa imagem que eles fazem da gente tem mais alcance e vai prevalecer”, argumenta.
Outro problema apontado pelos participantes nesse campo é o excesso de violência veiculado por jornais, rádio e canais de tevê. Na avaliação do grupo, a cobertura jornalística faz deste assunto um espetáculo, promove a sensação de insegurança e contribui para a criação de estigmas na sociedade.
Próximos passos
A expectativa geral dos jovens é de que a 1ª Conseg resulte em mudanças
efetivas para a população. “Nós trabalhamos muito para este evento acontecer. O que mais me surpreendeu foi a disponibilidade do pessoal de acordar cedo e participar. Eu mesma acordei 5h30 da manhã para chegar aqui e arrumar tudo. Acredito que todo mundo que veio saiu daqui melhor do que entrou. Foi um debate muito importante”, diz Joyce Macedo (foto), de 19 anos, moradora do Vale do Amanhecer.
Willian Wesley compartilha da mesma opinião e defende que as sugestões colhidas no evento tenham repercussões práticas. “Essa atividade de hoje foi uma forma de mostrar para os jovens que a nossa opinião tem algum valor, que o que a gente pensa pode ter um resultado maior do que nós somos hoje e que a nossa união pode transformar não só o presente, mas também o futuro das próximas gerações”, ressalta.
O futuro é justamente a maior preocupação do participante Rogério J.A, que finaliza sua pena no Ciap no próximo semestre. “Por enquanto, eu volto pra casa a cada 15 dias. Depois, vai ser a cada fim de semana. Faltam cinco meses para eu ser totalmente liberado. Agora estou com a mente aberta e já tenho outros projetos. Futuramente eu quero um trabalho, um curso, alguma coisa que possa me dar uma realidade melhor do que cadeia ou caixão. Antes eu pensava em dinheiro, poder, drogas e nos amigos que andavam comigo”.
De acordo com Rogério, a conversa com esses amigos ainda é um entrave. “A minha relação com eles tá meio estranha. Eu ainda não me posicionei no lugar certo. Minha vida que eu tinha anterior, ela tá lá. Se eu quiser arma e droga, tá à disposição. Sempre é mais fácil encontrar isso do que encontrar um trabalho, uma oportunidade, paz e tranquilidade. Uns camaradas já me ofereceram várias coisas, eu desconverso ou digo que vou pegar depois, para não deixar sem resposta. Muitos amigos meus já morreram, outros estão presos e uns já mudaram de vida, porque isso também acontece. Mas eu ainda não sei direito. Não sei como vai ser. Ainda estou planejando o meu futuro”.
Ao final das discussões, em clima de descontração, os jovens foram para casa num ônibus fretado pela organização da conferência livre. Do lado de dentro, um violão embalava as vozes pelos hits da banda Legião Urbana: “E há tempos são os jovens que adoecem./ Há tempos o encanto esta ausente./ Há ferrugem nos sorrisos./ E só o acaso estende os braços/ A quem procura abrigo e proteção./ Meu amor,/ Disciplina é liberdade./ Compaixão é fortaleza./ Ter bondade é ter coragem./E ela disse: – lá em casa tem um poço mas a água é muito limpa”.
Para mais informações, acesse a Rede de Juventude do DF:
www.rededejuventude.ning.com
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Fonte: http://www.ssp.df.gov.br/003/00301009.asp?ttCD_CHAVE=86012