Certamente, pela qualidade de seu trabalho, você possui milhares de admiradores entre os policiais militares de todo o país. Por isso, causa tristeza os termos que utilizou em um artigo de opinião, na Folha, para falar de racismo, escolhendo muito mal seu exemplo, ao criticar uma ação legal, democrática e protetora da Polícia Militar de São Paulo.
Como jornalista, você sabe que a verdade não tem apenas um lado. Quando deixa de ouvir um dos lados e toma como verdade absoluta o que ouviu de um amigo, está, no mínimo, sendo imprudente, pois parcialidade sabemos que não existe em seu trabalho.
Seu texto, contudo, revela mais do que imprudência. Ao afirmar que a presença policial, tão desejada por muitos, é uma “honra duvidosa”, você externa preconceito e discriminação contra quase meio milhão de brasileiros que colocam diariamente a vida em risco para proteger pessoas que sequer conhecem, especialmente negros, pobres e minorias.
A Polícia Militar de São Paulo, preocupada com a segurança dos participantes daquele ato, que foi informado como sendo uma manifestação popular, desenvolveu planejamento, empregou recursos e dedicou seu tempo para proteger os participantes. Menos de um mês depois, no dia da consciência negra, os mesmos policiais foram fundamentais para garantir a segurança de um grupo de pessoas, diante de atos de violência praticados por vândalos infiltrados no ato público, os quais depredaram um supermercado. Se não houve pessoas feridas na ocasião, a Polícia Militar teve participação decisiva. Quem estava se manifestando democraticamente recebeu a proteção de dezenas de policiais militares, ou, nas suas palavras, uma “honra duvidosa”.
Se você, brilhante jornalista, tem hoje a liberdade de expressar a sua opinião, deve à honra duvidosa de ter a Polícia Militar garantindo este direito. De janeiro a outubro deste ano, mais de 150 mil pessoas tiveram a honra duvidosa de serem salvas pela Polícia Militar de maneira direta, sem contar aquelas que tiveram a honra duvidosa potencial de terem suas vidas preservadas em razão da apreensão de 6,5 mil armas de fogo e da prisão em flagrante delito de quase 75 mil criminosos, isso tudo apenas no Estado de São Paulo. Para que tudo isso fosse possível, 18 policiais militares morreram e 101 ficaram feridos.
No momento em que você elege os policiais militares como vilões, está fazendo justamente o que supostamente pretende combater: está discriminando uma classe social composta, em sua maioria, por negros e pobres, mas que são idealistas e acreditam numa sociedade melhor e mais justa. Pegou mal, Zeca!
Fonte: BLOG PMESP