A retirada da vacina contra febre aftosa no Estado de Goiás é um desafio que exige integração e ação compartilhada de todos os segmentos envolvidos na atividade pecuária. Órgãos públicos, entidades representativas dos pecuaristas, profissionais da medicina veterinária e fundo indenizatório precisam convergir seus esforços para que a transição do status de livre de aftosa com vacinação para livre sem vacinação se torne realidade o mais breve possível.
Este posicionamento foi defendido por autoridades do setor público, palestrantes e técnicos que participaram do 2º Fórum: Goiás Livre de Febre Aftosa Sem Vacinação, realizado na tarde desta sexta-feira (11/12), pela Equipe Gestora Estadual do Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância para a Aftosa (PNEFA). As ações para criar condições adequadas para suspensão da vacina foram o tema central de palestras que abordaram o panorama nacional da evolução do Plano, com foco nos avanços e ações que estão em execução para o alcance deste objetivo.
A organização do evento foi do Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) e da Agência Goiana de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária (Emater). O Fórum contou, ainda, com a parceria da Superintendência Federal de Agricultura, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), da Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Faeg/Senar) e do Fundo para o Desenvolvimento da Agropecuária em Goiás (Fundepec), que integram a Equipe Gestora do PNEFA em Goiás.
Na abertura dos trabalhos, autoridades públicas e dirigentes de entidades do setor produtivo destacaram a importância do Fórum, destacando a necessidade de somar esforços para que a suspensão da vacina se torne realidade. Fizeram pronunciamentos, o representante da Faeg/Senar, Marcelo Lessa; o superintendente Federal de Agricultura em Goiás, José Eduardo de França; o presidente da Agrodefesa, José Essado; o vice-presidente do Fundepec, Antônio Flávio Camilo de Lima; o presidente da Emater-Goiás, Pedro Leonardo de Paula Rezende; e o secretário da Agricultura, Antônio Carlos de Souza Lima Neto.
Avanços do PNEFA
A médica veterinária Ana Carla Vidor, da Divisão de Febre Aftosa do Departamento de Saúde Animal do Mapa, apresentou um panorama dos avanços do Programa estabelecido pelo Mapa para ser executado no período de 2017 a 2026. Ela enfatizou que a retirada da vacina só vai acontecer quando houver condições sanitárias favoráveis.
“Quando os Estados do Bloco IV vão retirar a vacina? Quando Goiás vai suspender a vacinação?” foram questionamentos retóricos formulados pela representante do Mapa. E ela respondeu: “Não haverá suspensão da vacinação sem que haja as garantias necessárias, tais como o cumprimento de todas as ações preconizadas pelo Mapa no PNEFA, processos eficientes de educação sanitária e comunicação para conscientização dos pecuaristas, existência de fundo indenizatório privado para garantir o patrimônio dos criadores e vigilância eficiente dos Serviços Veterinários Oficiais.
Ana Vidor afirmou que o maior ou menor prazo para retirar a vacina depende da agilidade dos Estados ou de parte deles na execução das ações. Conforme explicou, o Estado de Goiás ou um grupo de Estados que estejam em patamar mais adiantado no cumprimento do Plano podem se desmembrar do Bloco maior e requerer a retirada da vacina. Alertou, contudo, que um Estado com posição geográfica como Goiás precisa avaliar muito bem se é viável solicitar a suspensão isoladamente, porque faz limites com várias outras unidades federativas e terá de criar mecanismos eficientes de controle nas divisas.
Em Goiás
O gerente de Sanidade Animal da Agrodefesa, Antônio do Amaral Leal, fez um balanço das medidas já adotadas por Goiás para o cumprimento das ações do PNEFA. Ele reforçou que Goiás se prepara para alcançar o status de livre de aftosa sem vacinação o quanto antes. Discorreu sobre a estrutura da Agrodefesa, que conta com 90 Unidades de Atenção Veterinária em todas as regiões do Estado, além de laboratório de diagnóstico veterinário.
Leal falou, também, das atividades de sanidade animal, como a vigilância ativa e passiva para prevenção e controle de doenças nos rebanhos de Goiás; o cadastro dos estabelecimentos rurais; a rastreabilidade dos animais; a realização de estudos soroepidemiológicos de eficiência vacinal e circulação viral; as vistorias e inspeções de rebanhos; o atendimento a suspeitas de síndrome vesicular e outras doenças; a fiscalização dos estabelecimentos comerciais e da qualidade das vacinas; a fiscalização de eventos pecuários; a fiscalização do trânsito de animais; as vacinações assistidas pela Agrodefesa; a informatização dos processos com uso do Sistema de Defesa Agropecuária de Goiás (Sidago); e as parcerias com instituições de ensino para ações de vigilância sanitária.
Outra ação de suma importância destacada por Antônio Leal foi a necessidade e importância da notificação precoce de doenças pelo produtor rural junto ao Serviço Veterinário Oficial. Ele ressaltou que quanto mais rapidamente o problema for identificado e comunicado, mais eficientes serão as medidas a serem adotadas.
Fundo indenizatório
O diretor-executivo do Fundepec, médico veterinário Uacir Bernardes, disse que no processo de retirada da vacina contra aftosa as palavras-chaves são vigilância sanitária e emergência sanitária. “Temos de estar preparados para exercer vigilância efetiva e eficiente, da mesma forma que precisamos estar capacitados para as emergências sanitárias”, observou.
Ele citou o último caso de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, em 2005 e 2006, quando foram sacrificados mais de 77 mil animais e foram gastos cerca de R$ 46 milhões em indenização, com prejuízo projetado de R$ 1,2 bilhão para a cadeia produtiva. “O grande problema é que naquele caso o Serviço Veterinário Oficial só foi comunicado mais de dois meses após ser identificado, o que atrasou todas as medidas sanitárias para barrar o problema”, lamentou.
Uacir Bernardes também destacou as parcerias que o Fundepec possui com a Agrodefesa, oferecendo aporte financeiro para aquisição de veículos, equipamentos de informática, gasolina e até para pagamento de diárias, para que os profissionais do serviço veterinário possam cumprir com eficiência todos os programas sanitários do Estado. Por fim, disse que Goiás pode se alinhar a outros Estados limítrofes para avançar mais rapidamente na suspensão da vacina, incluindo a possibilidade de desmembramento do bloco.
Apoio na educação
Os médicos veterinários Antônio Pinto e Marcelo Penha, que representaram a Faeg/Senar no Fórum, discorreram sobre a contribuição que a entidade pode oferecer no processo de retirada da vacina, principalmente nas ações de educação e comunicação aos produtores rurais. Também ressaltaram que esse trabalho pode ser complementado pela atuação da Emater-Goiás, cujos técnicos têm contato direto com os produtores, com elevado poder de conscientização dos mesmos.
Antônio Pinto observou que a Faeg, o Senar e os Sindicatos Rurais têm boa capilaridade no Estado e desenvolvem atividades que estão em contato permanente com os produtores, dentre elas os cursos e treinamentos que realiza. “É boa oportunidade para conscientizar os criadores da importância da notificação ao Serviço Veterinário Oficial de possíveis ocorrências de doenças”, argumentou, acrescentando que a vacina será substituída pela vigilância constante.
Marcelo Penha reforçou a participação da Faeg/Senar que, segundo ele, mantém permanente envolvimento com produtores de animais de corte e de leite, especialmente por meio dos instrutores do Senar. Ele citou, também, os cursos de Educação a Distância (EAD), que têm tido grande adesão dos produtores. “O Sistema Faeg/Senar está pronto e chega na ponta”, garantiu.
Fonte: Agrodefesa