Em meio ao acirramento do clima entre o presidente Jair Bolsonaro e a Polícia Federal, o chefe do Executivo já tem o nome de um eventual substituto para o atual diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo. O chefe do Executivo cogita nomear para o cargo o delegado Alexandre Ramagem, atual diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Nas fileiras da PF desde 2015, Ramagem ganhou a confiança de Bolsonaro nos últimos meses. Ele integrou o serviço de inteligência da Operação Lava-Jato. Outro cotado é o secretário de Segurança do DF, Anderson Gustavo.
Depois de duas semanas esticando a corda contra a corporação, o presidente, nesta quarta-feira (4/9), voltou a estressar a relação com a instituição. A dificuldade para o Planalto e para o ministro da Justiça, Sérgio Moro, que comanda a PF, é que Valeixo insiste em não deixar o cargo.
Dentro da corporação, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem, a avaliação é de que ele deve permanecer no posto e aguardar os desdobramentos do caso. Uma saída agora soaria como perda de força da instituição, que briga para manter sua independência funcional frente ao Poder Executivo. Moro sofre pressão dos dois lados. O presidente da República jogou nas mãos dele a demissão do atual chefe da PF. Ontem, durante uma coletiva de imprensa sobre a Operação Luz na Infância, de combate à pedofilia, o ex-juiz saiu sem falar com os jornalistas, mesmo sendo questionado sobre a sua decisão em relação à troca de comando na entidade.
Uma declaração de Bolsonaro ao jornal Folha de S. Paulo acirrou o clima com os integrantes da PF. Ele destacou que Moro já tem o aval para mexer no comando da corporação. “Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar (o diretor-geral, Maurício Valeixo) quando quiser.” O presidente declarou ainda que o ocupante do cargo mais alto da polícia precisa ser “Moro Futebol Clube”, em referência à proximidade que deve haver entre o ministro e o diretor-geral da PF. “Mais difícil é trocar de esposa. Eu tive uma conversa a dois com o Moro…(o diretor-geral) tem que ser Moro Futebol Clube, se não, troca”, frisou. “Ninguém gosta de demitir, mas é mais difícil trocar a esposa. Eu demiti o Santos Cruz (ex-ministro da Secretaria de Governo), com quem tinha uma amizade de 40 anos”, disse ele à Folha.
No cabo de guerra pelo comando da PF, o atual diretor-geral tem ganhado apoio interno. Ele recebe pedidos para que se mantenha no cargo, independentemente das declarações do chefe do Planalto. “Valeixo não vai aliviar e tende a deixar o desgaste do presidente com a corporação. O desgaste maior é do Bolsonaro, que é político. O DG é um técnico”, disse um delegado lotado no Maranhão e ouvido pelo Correio. O presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, Edvandir Paiva, defende que Moro comunique seu ponto de vista sobre o caso. Por enquanto, a entidade aguarda os próximos passos para avaliar a situação.
Alexandre Ramagem integrou a equipe de segurança de Bolsonaro quando ele sofreu um ataque à faca em Minas Gerais, ainda durante a campanha eleitoral. A relação entre o presidente e Moro, que parecia ter sido apaziguada nos últimos dias, voltou a ficar conturbada por causa dos ataques do chefe do Executivo à PF.
A escalada de tensões teve origem quando Bolsonaro anunciou que o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, seria exonerado por questões de gestão e produtividade. A declaração gerou reação na corporação, e delegados ameaçaram uma entrega coletiva de cargos. O senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente, é alvo de uma investigação no Rio, por supostamente ter integrado um esquema de candidatura laranjas no PSL. A investigação está parada por conta de uma decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a suspensão de diligências utilizando dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e da Receita Federal sem autorização da Justiça.
Informações do Jornal Correio Brasiliense