Palco de filmes vindos de várias partes do mundo, o 21º Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica 2020), seguiu a tradição das edições anteriores e trouxe em sua programação, além das atividades paralelas, com oficinas, mesas de debate e palestras, uma maratona de produções, entre curtas e longas-metragens.

Ao longo da semana do evento foram exibidas 37 películas, selecionadas nas mostras competitivas Washington Novaes e ABD Cine Goiás. E mesmo sendo promovido em um formato inédito, totalmente digital, em razão da pandemia de Covid-19, o Fica contabilizou 331 filmes inscritos, mesma média de outras edições.

A surpresa ficou por conta do Brasil, pelo maior número de participações neste ano, 226 no total, e, destas, 19 produções estão concorrendo à premiação, sendo sete só de Goiás. Para o secretário de Cultura, Adriano Baldy, isso só comprova o prestígio e a relevância que o Fica representa para o segmento audiovisual brasileiro.

A apesar das intempéries desse “novo normal”, a edição online do Fica 2020 agregou oportunidades para muitos que nunca tiveram a chance de poder acompanhar o festival na cidade de Goiás, berço do evento, e que nesse puderam ter o privilégio de assistir a todos os filmes, no conforto de suas casas, e torcer para o seu preferido. E tem filme rolando ainda nesta sexta-feira, último dia de exibições.

Em um leque de opções dentro da temática ambiental, os filmes trouxeram uma diversidade de abordagens, que vão desde denúncias, desastres ambientais, entre outras questões que, embora antigas nas tramas, continuam tão reais no cenário atual.

O longa goiano “Resplendor”, que abriu as exibições da Mostra Washington Novaes, com direção e roteiro de Claudia Nunes e Erico Rassi, traz a história do centro de detenção indígena, na cidade de Resplendor, Minas Gerais, local onde foram aprisionados e torturados indígenas de diversas etnias, sobretudo os povos Krenak.

As mazelas culturais de povos que sofrem as memórias do tempo de escravidão e discriminação, como os negros são retratadas em “Rio das Almas e Negras Memórias”, dirigido por Taize Inácia e Thaynara Rezende, e a tradição das festas folclóricas em contraponto a exploração do trabalho, são vivenciadas no longa-metragem “Mascarados”, de Marcela Borela e Henrique Borela, ambas produções também de Goiás

Outro destaque regional é “Parque Oeste”, dirigido por Fabiana Assis. A obra circulou em muitos festivais e foi premiada na 22ª  Mostra de Cinema Olhos Livres, de Tiradentes (2019), um dos festivais nacionais mais importantes, como Melhor Filme. Ainda em 2019, “Parque Oeste” também participou da 9ª Mostra Ecofalante, uma mostra de cinema ambiental conhecida no Brasil.

Internacionais

Na grade dos filmes internacionais, somaram 105 inscritos nesta edição do Fica 2020, sendo que cinco obras foram selecionadas para a etapa de premiação, com longas-metragens vindos da Malásia, Estados Unidos e Uruguai e dois curtas do Peru.

O documentário “Be’ Jam Be et Cela n’Aura pas de Fin” (Be’ Jam Be Esse Canto Nunca Terá Fim), da Malásia, dirigido por Caroline Parietti e Cyprien Ponson, retrata um drama que se assemelha a países como o Brasil, que sofre com os impactos de suas matas florestais. O cenário do filme se passa em Sarawak, na ilha de Bornéu (mais precisamente na parte que pertence à Malásia), onde o povo Penan enfrenta as mudanças causadas pela crescente ameaça de desmatamento.

Tem ainda o longa americano “Rodents of Unusual Size”, que é um documentário de 2017, financiado pela ITVS e dirigido pela equipe de Quinn Costello, Chris Metzler e Jeff Springer, sobre ratos gigantes invasores do pântano, que ameaçam a costa da Louisiana. O filme é narrado por Wendell Pierce com uma trilha sonora musical totalmente original da banda cajun Lost Bayou Ramblers.

Do Uruguai, o destaque é para o belo filme “Vida a bordo”, de  Emiliano Mazza De Luca, que traz um retrato da solidão, do trabalho e do sentimento de ausência a partir da jornada de quinze homens a bordo de um navio. A trama é sem diálogos, apenas com sons e imagens bem imersivas, revelando a sensibilidade da natureza em sintonia com a presença humana. Um tipo de filme que vale muito assistir na sala de cinema.

Do Peru, vieram dois curtas-metragens. O primeiro é Mamapara, do diretor Alberto Flores Vilca, que tem como personagem central Honorata Vilca, uma senhora analfabeta de ascendência quíchua, que mora com seu cão e se dedica à venda de doces. Quando começa a estação das chuvas, ela relata passagens de sua vida, até que, em uma tarde, algo fatal acontece que parece fazer o próprio céu chorar.

A segunda obra peruana é “La Ramada”, de Fernando Torres Salvador, que tem como pano de fundo um desastre ambiental, social e cultural e uma paisagem que desaparece devido a uma grande obra de infraestrutura.

Mostra ABD

Presenças marcantes no Fica 2020, os filmes goianos integram a 17ª Mostra ABD Cine Goiás, que teve 82 curtas inscritos, e selecionou 13 produções para a competição, cuja premiação leva o nome da produtora cultural Fifi Cunha, que foi uma das militantes do audiovisual em Goiás.

E tem personalidades conhecidas do público goiano nos roteiros, viu! Como o curta-metragem “Belkiss”, da premiada diretora Simone Caetano, que mostra a trajetória da pianista Belkiss Spenzieri, um ícone da música em Goiás, além do filme “Elder Passos / Veiga Valle”, dos diretores Carlos Cipriano e Carminha Lombardi, que remetem a nomes da cena goiana.

A mostra traz filmes de alunos e egressos do Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás (UEG), como os curtas “O Sinistro Caso dos Irmãos Gêmeos, dirigido pela professora e ex-aluna da instituição, Thais Rodrigues e Bárbara de Almeida; “Um Conto de Réis”, de Danilo Kamenach; “Do Peito ao Prumo”, de Tothi Cardoso, e a obra “Ainda Ontem”, dirigida pelo professor Rafael de Almeida, todos do núcleo da universidade.

Fazem parte da mostra ainda os curtas “Sontoku”, de Akira Ninomiya Junior, “O Tamanho da Pedra”, de  Hélio Froés, “Under the Sun”, do diretor Jonathas Veloso, “Tronco Partido”, do cineasta Isaac Brum, “A Mata Que Respiro”, dos diretores César David Rodríguez Pulido e Eliete Miranda, e “Julho”, dos realizadores Danilo Daher e Daniel Calil, muita coisa boa, viu!

Lembrando que a cerimônia de premiação, o gran finale, ocorre neste sábado (21/11), no Teatro Goiânia,  às 19 horas. Acompanhe tudo pelo canal do Youtube da Secult Goiás e conheça os vencedores da  21ª Fica 2020.

Secretaria de Estado de Cultura (Secult Goiás) – Secult Goiás