Estudo realizado pelo Instituto E+ – uma entidade nacional que discute temas relacionados à energia – apontou a importância da eficiência energética no Brasil. De acordo com a pesquisa, a transição para um novo modelo energético é um fator importante para que o Brasil possa avançar e se desenvolver. O relatório foi feito por José Goldemberg, professor emérito e ex-reitor da Universidade de São Paulo (USP). Ele atualizou uma análise sobre o mesmo tema produzida no fim dos anos 1990.
O trabalho avaliou o consumo de energia por pessoa (medido em toneladas de petróleo, uma forma de nivelamento das análises de diferentes fontes). Enquanto no Brasil este índice foi de 1,41 em 2017, na União Europeia ficou em 3,08. Segundo a projeção do autor do estudo, seriam necessários 20 anos para que o Brasil chegasse ao mesmo patamar do bloco europeu.
A diferença se expressa nas riquezas. O Produto Nacional Bruto (valores monetários auferido por pessoas ou por empresas brasileiras ou com sede no país) do Brasil era US$ 9.140 em 2017, enquanto o da União Europeia era de US$ 35.420.
Para José Goldemberg, nas últimas décadas as políticas para a área consideraram que a melhoria destes dois índices caminhava de forma conjunta, mas o estudo mostra que não. “Mesmo dobrando o PIB [Produto Interno Bruto], vamos ficar atrás da União Europeia. É preciso quebrar essa ideia de que energia e PIB crescem juntos”, argumentou o pesquisador durante o lançamento virtual do estudo, realizado hoje (19).
Ele lembrou que a solução do problema energético no Brasil passou, durante muito tempo, pelo aumento da oferta com a construção de novas usinas. Mas, para chegar ao nível de países desenvolvidos, em especial da União Europeia, o pesquisador defende uma nova abordagem, baseada em eficiência energética. Essa perspectiva implica aproveitar mais a energia gerada, com um uso mais eficaz.
“Podemos melhorar a capacidade energética usando equipamentos mais eficientes. Saímos da crise de 2002 [quando houve um apagão] porque lâmpadas e geladeiras foram substituídas. Há uma enorme gama de atividades em eficiência energética e é preciso introduzir com seriedade”, defendeu.
No Brasil, o tema já foi objeto de iniciativas, como o Plano de Eficiência Energética, criado pela agência reguladora do setor, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o Programa Brasileiro de Etiquetagem do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) – que identifica o nível de consumo de eletrodomésticos – e o Programa de Conservação de Eletricidade da Eletrobrás.
O professor da USP ponderou que os esforços relacionados ao ganho de eficiência ficaram muito restritos nos últimos anos às pessoas em suas casas. Mas precisam ser implementados também nos setores econômicos. Atualmente, o consumo energético por segmento é distribuído da seguinte forma: transportes (34,8%), industrial (33,8%), energético (11,2%), residencial (10,6%), comercial e público (5,2%) e agropecuário (4,4%).
“Empresas da área industrial podem melhorar processos produtivos. A Lei de Eficiência Energética foi utilizada apenas em equipamentos que se usa em casa. Mas nada impede que ela seja atualizada e aplicada para as indústrias. Podemos resolver o problema com uma multitude de iniciativas nos setores”, ressaltou.