Um ponto que poucos querem tocar, quando se fala em segurança pública, são as milionárias multas de trânsito em Brasília e no Brasil como um todo. Os pardais já foram alvos de várias críticas desde sua implantação. Os salários de agentes do Detran também. Pouco se discute sobre a atuação das Polícias Militares no trânsito.
O TOR (Tático Ostensivo Rodoviário), grupo operacional de repressão ao crime nas Rodovias e Estradas do DF tem quebrado “recordes” de apreensões de drogas diariamente. Um ponto positivo para atuação policial no trânsito, pois eles focam no criminoso e no crime, não apenas em infrações administrativas, mas mesmo assim, milhares de pessoas ficam “chateadas” ou até mesmo “indignadas” com as diversas abordagens realizadas pelas PM`s Brasil a fora, que na visão da sociedade apenas “multa” e “pune” o cidadão de bem. O trânsito sempre foi sinônimo de controvérsias em vários níveis.
O ex- governador Arruda tentou criar, em Brasília, a Companhia Metropolitana de Trânsito, mas as pressões de stakeholders influenciaram no processo. Neste caso, o Detran e seus agentes saíram fortalecidos. É possível que a PMDF perderia força e uma nova categoria de profissionais surgissem, neste caso, a PM também foi “beneficiada”. Ficaremos apenas nas suposições.
Acreditamos que a parte “administrativa” de trânsito não deveria constar das atribuições da Polícia Militar, mesmo via convênio, pois ela gera recursos para o Estado, mas custa caro para a imagem da corporação. Além de deslocar vários policiais do “combate” a criminalidade” para controle de talões de multas, viaturas, cones e policiamento trânsito.
Uma abordagem de cunho administrativo, com armas em punho, pode dar um ar de hostilidade desnecessário para muitas famílias. Quantas pessoas tiveram apenas aquela primeira impressão de uma abordagem policial para verificar documentos? Quantos não tiveram experiências ruins ao serem controlados por um por policial de trânsito?  A polícia militar deveria limitar-se apenas aos crimes de trânsito, buscas de armas  e de drogas, assim como faz o TOR.
Mas por que isso não ocorre? Somente este ano, o governo arrecadou R$ 161,4 milhões com multas de trânsito. Em primeiro lugar, estão as penalidades aplicadas pela Polícia Militar, que somaram R$ 76,6 milhões. Em seguida aparecem os flagras realizados por pardais em semáforos, que foram responsáveis por arrecadar R$ 44,3 milhões. Agentes do Detran aplicaram multas que somam R$ 20 milhões, mais de três vezes menos que o arrecadado pela PMDF. Já os veículos do DF em outros estados receberam penalidades em um total de R$ 4,8 milhões.
Pelos números não é um bom negócio retirar a Polícia Militar do convênio das multas, afinal é uma mão de obra barata, pois arrecada três vezes mais que o órgão que tem a responsabilidade de atuar no trânsito. No final, a Polícia Militar faz o trabalho do Detran, ganha menos que ele e ainda deixa seu próprio serviço, que é o policiamento ostensivo e manutenção da ordem pública, a desejar, pois seu efetivo é reduzido, não sendo possível abraçar o mundo.  O foco deve ser não o que é melhor para a sociedade, mas sim aquilo que traz melhores resultados para o Estado. Outro ponto importante é: o que é feito com o dinheiro das multas? Uma parte deve ir para educação dos condutores.
Nós sociedade, continuamos pagando o preço duas vezes. Pelas multas que pagamos, além dos altos impostos, e pela falta de policiais nas ruas, focando na redução da criminalidade, que é o que realmente nos incomoda. Enquanto isso, temos cada vez menos policiais nas ruas e cada vez mais bandidos atuando. Não é atoa que os índices de criminalidade só aumentam em algumas modalidades.  Neste viés, poderá chegar o dia em que policiais militares continuarão no trânsito por causa de sua arrecadação e agentes de trânsito (ou auditores como queiram) estarão correndo atrás de bandidos, dentro de uma verdadeira inversão de papéis.
Por Giuliana Cardoso, estudante de Pedagogia, estagiária da AD Agência de Notícias.