Normalmente critico a mídia, principalmente o Correio Braziliense, mas hoje irei fazer algo diferente. Vou parabenizá-los pela reportagem sobre o Crack no Brasil.
Há uns dois posts atrás, quando discorri sobre um congresso de juventude, falei sobre a conversa que tive com o Blogueiro André Dutra (aluno de Relações Internacionais) referente ao avanço dessa droga no Brasil.
Lembro-me que há uns cinco anos atrás (meio redundante..rsrs), quando eu dava aulas sobre o tema no Proerd, sempre discorria sobre o “acordo informal” entre os traficantes do DF para evitar o crescimento do Crack em Brasília, já que o mercado era dominado pela Merla produzida nas cidades satélites. Creio que esse acordo acabou. Ele tinha o objetivo de “prorrogar a morte” dos usuários, já que a vida útil do usuário de Crack, naquela época era de aproximadamente dois anos!
Gostei da reportagem e recomendo…quem tiver assinatura do jornal poderá se aprofundar um pouco mais…
A droga que descobriu o Brasil
Antes restrito aos grandes centros urbanos, o crack chega às pequenas cidades. Série de reportagens mostra como a “pedra da morte” se tornou a mais recente tragédia nacional
Publicação: 25/11/2009 08:55 Atualização: 25/11/2009 09:45
O vaivém de pessoas pelas ruas confunde quem chega a Guayaramerín, na fronteira do Brasil com a Bolívia. No porto, às margens do Rio Mamoré, o movimento de passageiros é intenso. Filas são formadas à espera de uma vaga para voltar a Guajará-Mirim, em Rondônia, onde outro tanto de pessoas aguarda a vez de embarcar para o país vizinho. Os barcos lotados, o calor intenso e o perigo na travessia não impedem que mais de mil brasileiros cruzem diariamente a divisa para ir às compras. A muamba é o comércio que pode ser visto. Mas ali há outro, oculto e ainda mais lucrativo. A região Norte é uma das rotas de entrada da pasta de cocaína, a substância que, refinada no Centro-Oeste e no Sudeste, dá origem ao crack. A droga, antes vista apenas nos centros urbanos, invade o interior do país. Chega de Norte a Sul, onde as autoridades já tratam o tema como epidemia, um problema grave de saúde pública. A mais recente tragédia brasileira é uma pedra comprada por R$ 5 e consumida por ricos e pobres. Para revelar as histórias que envolvem o crack — a pedra da morte — desde a entrada no país até o vício devastador, 10 repórteres do Correio, do Estado de Minas e do Diario de Pernambuco percorreram 6.792km. Equipes de jornalistas estiveram no Plano Piloto, nas regiões administrativas do Distrito Federal, nos municípios das fronteiras do Norte e do Centro-Oeste, e nas capitais e nos interiores gaúchos, paulistas, mineiros e pernambucanos.
A invasão nos municípios do interior
Renata Mariz
Pradópolis (SP) — Tudo no crack vem carregado de uma velocidade vertiginosa. O efeito no cérebro, a fissura por mais um cachimbo, a transformação de corpos saudáveis em figuras esqueléticas, o despudor de roubar para aquietar o vício. No mesmo ritmo acelerado com que fabrica indigentes e criminosos, esfacela famílias e mata, a pedra elaborada dos restos da cocaína chega aos grotões do país. Difícil imaginar, há 20 anos, época dos primeiros relatos de uso do crack entre meninos de rua no centro de São Paulo, que a droga ganharia cidades minúsculas, atingiria aldeias indígenas, escravizaria trabalhadores de zonas rurais. Ao embarcar no pau de arara saindo do Maranhão, com a roupa do corpo e esperança de uma vida melhor, Saulo* também desconhecia a existência do que ele chama de “demônio”.
O homem pardo, com um rascunho de tatuagem no braço esquerdo e dentes deteriorados chegou a Barrinha, distante cerca de 35km de Ribeirão Preto (SP), com o intuito de trabalhar na lavoura de cana, há cinco anos. Faz três anos que ele foi apresentado ao crack por um amigo, também migrante. Com ganhos proporcionais à produtividade, variando entre R$ 0,20 e R$ 0,32 por metro de cana cortada, Saulo conta que a pedra o ajuda a ter mais disposição. “Mas nem todo mundo gosta de fumar na hora do serviço. Depois de voltar do trabalho é que o pessoal usa mais”, explica o maranhense de 28 anos que consegue receber mensalmente entre R$ 500 e R$ 700, dos quais metade serve para comprar a droga. “É um demônio, uma coisa sem explicação.”
Para Marcelo*, também de 28 anos, o crack se mistura com a própria vida. Ex-cortador de cana em Sertãozinho, outra cidade que gira em torno das usinas de açúcar e álcool no interior paulista, o jovem passou da maconha e cocaína para o crack. Começou a roubar bicicletas e carros para comprar a droga, chegou a ser preso. Hoje, perambula pela cidade de Pradópolis, cuja população estimada fica em torno de 15 mil habitantes, à espera de uma oportunidade de fumar. “Faço um corre pra um aqui, pra outro ali. Muita gente chega na praça sem saber onde comprar, sem ter o esquema, aí eu levo na boca ou vou buscar pro sujeito. Conseguindo 10 reais, eu já garanto uma pedra”, conta o rapaz de olhos azuis.