Durante um ano tenho aprendido a lidar com a dor da perda e o sofrimento . Um filho, um amor, um sonho. O grande sábio, Salomão, em seus textos disse: “Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onda há banquete, pois naquela casa se vê o fim de todos os homens; e os vivos que o tomem em consideração. Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração.”
Somos resultados de nossos relacionamentos, de nossas experiências passadas. Com a memória olhamos para o passado, mas com a imaginação vemos o futuro. Sempre penso nisso!
É estranho falarmos eloqüentemente sobre o mundo em que estamos, mas e o mundo que somos? Quem sou eu? Quem é você quando está só? Quais são suas dores, suas mágoas, seus sonhos, suas frustrações?
Não sabemos falar de nossas fragilidades, nossas inseguranças, nossas experiências fundamentais. Falamos muito do mundo em que estamos, esquecemos do mundo que somos, às vezes, fugimos de nossa realidade. Trabalhamos e convivemos com multidões, mas vivemos isolados em nós mesmos.
Uma visita a um lar abalado pela tragédia nos relembra a brevidade da vida e a necessidade de um viver sábio. Tal visita é melhor do que a visita a um lugar de festividade impetuosa. Tive a oportunidade de visitar a família de um colega de turma, morto em um acidente, recentemente, não tive palavras para expressar minha dor. Observei atentamente as sábias palavras do SGT MARCOS GARCIA da capelania, e descobri nossa fragilidade. A tristeza pode ter um efeito benéfico, moderando a alegria com a seriedade.
Tenho buscado refletir em meio aos meus conflitos existenciais e aprendido a me despir do orgulho e da vaidade. Aprendido com minhas limitações, erros e acertos. Buscado um amadurecimento e um respeito à vida e ao próximo, afinal, tudo aquilo que não respeitamos, nós perdemos! Nesse sentido deixo o texto abaixo para uma reflexão!
Solidão é fundamental
Por Hilda Lucas
Que me desculpem os desesperados, mas solidão é fundamental para viver. Sem ela não me ouço, não ouso, não me fortaleço. Sem ela me diluo, me disperso, me espelho nos outros, me esqueço. Sem ela os silêncios são estéreis e as noites sôfregas, povoadas de assombramentos e desejos insaciáveis. Sem ela não percebo as saídas, os milagres, os espinhos. Não penso solto, não mato dragões, não acalanto a criança apavorada em mim, não aquieto meus pavores, meu medo de ser só. Sem ela sairei por aí, com olhos inquietos, caçando afeto, aceitando migalhas, confundindo estar cercada por pessoas com ter amigos. Sem ela me manterei aturdida, ocupada, agendada só para driblar o tempo e não ter que me fazer companhia. Sem ela trairei meus desejos, rirei sem achar graça, endossarei idéias tolas só para não ter que me recolher e ouvir meus lamentos, meus sonhos adiados, meus dentes rangendo. Sem ela, e não por causa dela, trocarei beijos tristes e acordarei vazia em leitos áridos. Sem ela sairei de casa todos os dias e me afastarei de mim, me desconhecerei, me perderei. Solidão é o lugar onde encontro a mim mesma, de onde observo um jardim secreto e por onde acesso o templo em mim. Medo? Sim. Até entender que o monstro mora lá fora e o herói mora aqui dentro. Encarar a solidão é coisa do herói em nós, transformá-la em quietude é coisa do sábio que podemos ser. Num mundo superlotado, onde tudo é efêmero, voraz e veloz, a solidão pode ser oásis e não deserto. Num mundo tão volúvel, desencantado e ansioso a solidão pode ser alimento e não fome. Num mundo tão barulhento, egoísta, atribulado, a solidão pode ser trégua e não luta. Num mundo tão estressado, imediatista, insatisfeito, a solidão pode ser resgate e não desacerto. Num mundo tão leviano, vulgar, que julga pelas aparências e endeusa espertalhões, turbinados, boçais, a solidão pode ser proteção e não contágio. Num mundo obcecado por juventude, sucesso, consumo, a solidão pode ser liberdade e não fracasso. Tempo e solidão são hoje os bens mais preciosos, o verdadeiro luxo. Marque encontros com você mesmo. Experimente. Dê-se um tempo. Surpreenda-se. Solidão é exercício, visitação. É pausa, contemplação, observação. É inspiração, conhecimento. É pouso e também vôo. É quando a gente inventa um tempo e um lugar para cuidar da alma, da memória, dos sonhos; quando a gente se retira da multidão e se faz companhia. Quando a gente se livra da engrenagem e troca o medo de ser só pela coragem de estar só. Não falo de isolamento, nem ruptura ou apartamento. Adoro gente, mas mesmo assim, e talvez até por isso, precise de solidão. Preciso estar em mim para estar com outros. Ninguém quer ser solitário, solto, desgarrado. Desde que o homem é homem, ou ainda macaco, buscamos não ficar sozinhos. Agrupamo-nos, protegemo-nos, evoluímos porque éramos um bando, uma comunidade. Somos sociáveis, gregários. Queremos família, amigos, amores. Queremos laços, trocas, contato. Queremos encontros, comunhão, companhia. Queremos abraços, toques, afeto. É a nossa vocação. Mas, ainda assim, revendo o poeta, ouso dizer: é preciso aprender a estar só para se gostar e ser feliz. O desafio é poder recolher-se para sair expandido. É fazer luz na alma para conhecer os seus contornos, clarear o caminho e esquecer o medo da própria sombra. Existem pensamentos, orações, sorrisos, encontros e realizações que só acontecem quando estamos a sós. Existem curas, revelações, idéias, lembranças que só podem vir à tona quando estamos sós. Mesmo os momentos compartilhados só serão inesquecíveis se uma parte nossa estiver inteiramente só para apreender tudo que apenas a nós se revelará e tocará. Existe uma pessoa que só conhecemos se conseguimos ficar sós: nós mesmos! Seja amigo da solidão. Aceite seus convites, passeie com ela, desmistifique-a. Não corra dela, não tenha medo. Desassombre-se. Ouse a solidão e fique em ótima companhia.
Solidão é fundamental!
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