Débora Pimentel é mãe de uma criança neuroatípica. Sem condições de pagar uma atividade para o filho de 7 anos no contraturno escolar, ela viu um espaço com quadra, salas multiúso, pista de atletismo e campo sintético na Quadra 203 do Itapoã e decidiu perguntar do que se tratava. É a Praça dos Direitos, equipamento da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF (Sejus) onde são oferecidas gratuitamente atividades esportivas, culturais e educativas.

“Ele está amando, chora para vir, já dorme falando: ‘amanhã quero ir lá para o projeto’”, conta a mãe. “Só estou vendo melhoria na vida dele. Se não fosse o projeto, ele ficaria em casa, sem nenhum tipo de esporte, de atividade. Já senti muitas mudanças, agora ele tem mais habilidade no jeito de conviver com as crianças, de brincar. A professora também falou que ele está muito bem na escola. Antes, ele era muito agitado, muito inquieto.”

“Esses espaços oferecem oportunidades para que todos tenham acesso à cultura, educação e lazer, independentemente de sua origem ou condição social”

Marcela Passamani, secretária de Justiça e Cidadania

O espaço no Itapoã é apenas um entre as cinco unidades do Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU das Artes) e praças dos Direitos espalhados pelo Distrito Federal. Três estão em Ceilândia – dois CEUs das Artes e uma Praça dos Direitos. O quinto – mais um CEU das Artes – está no Recanto das Emas.

Somados, os equipamentos podem receber até 6 mil crianças, de 4 a 18 anos. Os locais funcionam de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 12h. As inscrições nas atividades podem ser feitas, gratuitamente, a qualquer tempo – presencialmente e pela internet.

Entre os oito esportes oferecidos, estão atletismo, futsal e artes marciais, como karatê e jiu-jítsu. Há também oficinas de arte e cultura e danças urbanas, bem como atendimento psicológico e cursos preparatórios para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibular.

“O programa desenvolvido nos CEUs das Artes e praças dos Direitos promove a inclusão social em nossas comunidades”, comemora a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani. “Esses espaços oferecem oportunidades para que todos tenham acesso à cultura, educação e lazer, independentemente de sua origem ou condição social. A iniciativa integra pilares essenciais para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos possam se expressar, aprender e crescer juntos.”

Mundo novo

Não são apenas os pais que aprovam a iniciativa. As crianças e jovens também. João Pedro Rodrigues, 15, é aluno de karatê e diz que consegue “praticar o que não conseguia fazer antigamente”. Maria Vitória Gomes, 16, faz jiu-jítsu e afirma que, “após uns problemas em casa”, está “relaxando a mente”.

Erick Peterson, 6, lembra que, antes de se inscrever no futsal, “ficava em casa, de bobeira”. Ítalo Salviano, 7, também do futsal, tem feito consultas com psicólogo no local e garante gostar muito. Aos 18, Maria de Fátima da Rocha já pensa no futuro e, além do karatê, pratica atletismo, que vai “ajudar muito” em seu sonho sonho de passar no concurso da Polícia Federal.

“Um mundo novo.” É assim que Gabriella Mendes, 9, que faz aulas de karatê e dança, avalia o espaço. “Tudo é bom”, aponta. “Todas as atividades, para mim, são boas. Antigamente, eu fazia só balé. Mas agora, que eu faço dança, karatê, qualquer atividade, desenvolvi mais o cérebro, o corpo… tudo é demais para mim. Todas as pessoas daqui são demais.”

Quando a pequena fala em “qualquer atividade”, é porque cada aluno pode inscrever-se em duas – cada aula tem 50 minutos -, mas, fica livre durante o resto do turno para, se quiser, acompanhar outras modalidades que sejam do seu interesse.

Ministrar essas aulas é motivo de orgulho para Bruno Santos. Campeão brasileiro e pan-americano de kickboxing, ele ensina karatê na Praça dos Direitos do Itapoã. “É uma experiência bacana para mim”, relata. “Como eu sou da região, cresci dentro de projetos sociais, eu acho isso uma oportunidade de passar um pouco do que eu sei para essas crianças, porque aqui tem muito potencial”.

Comunidade

À parte as aulas para as crianças, os equipamentos também podem ser usados por outras pessoas ou grupos das regiões, conforme a disponibilidade. É o caso de Marlon de Sousa, que integra um grupo de bocha no Itapoã e, agora, desfruta da Praça dos Direitos. “Eu descobri aqui por acaso”, conta. 

“Eu pratico rugby, e a gente estava procurando um lugar para treinar, estávamos sem quadra”, prossegue o rapaz, que é cadeirante. “Foi quando eu vi a quadra e vim perguntar. Hoje em dia não é muito comum a gente ter espaços como esses, ofertando esportes tanto para PcDs [pessoas com deficiência] quanto para outras pessoas. E eu acho muito importante isso, porque leva qualidade de vida e dá uma certa independência para a pessoa.”

Fonte: Agência Brasília