Uma caminhada pelo comércio de Ceilândia encerrou, na manhã desta quinta-feira (23), a edição do programa Jornada Zero Violência Contra Mulheres e Meninas na cidade. Integrantes e voluntários da Secretaria da Mulher, pasta idealizadora do projeto, distribuíram cartazes para serem afixados nos comércios, com os endereços e telefones dos equipamentos da rede de enfrentamento à violência de gênero.

Participantes do programa distribuíram cartazes no comércio de Ceilândia com informações sobre os equipamentos da rede de enfrentamento à violência de gênero | Fotos: Tony Oliveira / Agência Brasília

De acordo com a secretária da Mulher, Vandercy Camargos, a ação é um chamamento para que a sociedade saiba que a mulher tem condições de buscar equipamentos públicos para atendimento e acolhimento dentro da própria região administrativa. “A mulher tem que se sentir segura e amparada na sua cidade e o GDF, que inclui a Secretaria da Mulher, e parceiros trabalham em prol disso. Nosso objetivo, de fato, é zerar a violência”, destaca Vandercy Camargos.

Ceilândia é a quinta cidade a receber uma edição do programa e possui 20 equipamentos públicos que prestam atendimento à mulher: três centros de referência em assistência social (Cras), Casa da Mulher Brasileira, Administração Regional de Ceilândia, Centro de Especialidade para Atenção às Pessoas em Situação de Violência Sexual, Familiar e Doméstica (Cepav) Flor de Lótus, Pró-Vítima, Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas), cinco delegacias, sendo uma especializada em atendimento à mulher, dois batalhões da PM com Policiamento de Prevenção Orientada à Violência Doméstica (Provid), quatro conselhos tutelares e o Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam).

A subsecretária Irani Storni reforça: “Não queremos negociar e diminuir a violência, queremos zerar”

A subsecretária de Enfrentamento à Violência, Irina Storni, explica que a população não tem conhecimento desses equipamentos, por isso, em parceria com o Fundo de Populações da ONU (Unfpa), foi criado o programa Jornada Zero Violência Contra Mulheres e Meninas. “Afixamos cartazes no comércio para que toda a população tenha conhecimento de onde encontrar esse apoio. Caminhamos de comércio em comércio para fazer esse trabalho de conscientização. Não queremos negociar e diminuir a violência, queremos zerar”, ressalta Irina Storni.

Fátima Ribeiro, feirante do local, colocou um cartaz na banca em que trabalha e disse: “Com esse cartaz, a mulher que vem aqui e precisa de apoio pode olhar e saber que tem um local perto dela”

A feirante Fátima Ribeiro, 40 anos, trabalha em uma banca na Feira de Ceilândia há três anos e achou a iniciativa muito importante. Ela colocou o cartaz de forma bem visível em sua loja. “Muita mulher tem medo de pedir ajuda, de conversar com alguém. Então, com esse cartaz, a mulher que vem aqui e precisa de apoio pode olhar o cartaz e saber que tem um local perto dela. Na semana passada, minha filha de 15 anos presenciou uma mulher espancada aqui na feira. Ela correu e chamou uma viatura. Ela tem pouca idade e já tem essa consciência. Todos nós precisamos ter”, comenta.

O gerente Ademar de Moraes considera que a luta contra a violência é dos homens e mulheres: “O ser humano tem que se conscientizar e acabar com a violência”

Ademar de Moraes, 37 anos, é gerente de uma loja de calçados no centro de Ceilândia e recebeu a comitiva de forma acolhedora. “Violência contra a mulher é algo que nunca deveria existir. Na verdade, homem e mulher têm que entrar nessa luta. O ser humano tem que se conscientizar e acabar com a violência”, defendeu o gerente.

Jucemar do Nascimento já teve problemas resolvidos na Casa da Mulher Brasileira e, por gratidão, trabalha como voluntária nas campanhas

O exemplo arrasta

Jucemar Penha do Nascimento, 58 anos, era uma das voluntárias que estava distribuindo cartazes pelo comércio em apoio à ação organizada pela Secretaria da Mulher. A pensionista faz cursos na Casa da Mulher Brasileira, conseguiu resolver problemas pessoais e, como gratidão, é voluntária em ações que envolvam a casa. “Uma vez fui lá em busca de ajuda e consegui resolver meu problema. Eu cuido de três netos e, quando tenho curso e preciso leva-los, eles são bem cuidados e ficam na brinquedoteca. Fico tão feliz lá que tenho como minha segunda casa”, celebra Jucemar.

Jonelice Vieira, que chegou à casa com depressão, hoje se considera outra pessoa e participa das campanhas com muita animação

A doméstica Jonelice Vieira, 63 anos, também é frequentadora da Casa da Mulher Brasileira e estava entregando os cartazes pela rua com muita animação. “Minha vizinha conseguiu resolver o problema dela lá na casa e me levou para tentar me ajudar a resolver os meus. Gosto muito do trabalho que é oferecido lá. Cheguei com depressão e hoje já sou outra pessoa. Agora ajudo com muito carinho”, informa Jonelice Vieira.

Semana de ações

Nesta semana, Ceilândia recebeu diversas atividades do programa Jornada Zero. O primeiro encontro foi na segunda-feira, (20), na Casa da Mulher Brasileira, com a apresentação do projeto. Na terça-feira (21), equipe da Secretaria da Mulher caminhou pela região para apresentar os equipamentos da rede de enfrentamento à violência de gênero à comunidade.

Na quarta-feira (22), representantes da regional de ensino de Ceilândia participaram das atividades em um bate papo na Casa da Mulher Brasileira. O encontro, conduzido pela psicóloga Iêda Santana, foi feito para destacar a importância do engajamento da comunidade no combate à violência de gênero. A ideia foi de reforçar o papel das escolas e dos educadores para a identificação e para a prevenção da violência doméstica e familiar, para que sejam multiplicadores de informações sobre a rede de apoio e de enfrentamento a este tipo de crime, além de orientar a comunidade sobre onde encontrar ajuda, denunciar e buscar ajuda.

Ainda na quarta, servidores da administração regional se reuniram para falar sobre masculinidade tóxica, sobre a responsabilidade dos homens quando o assunto é violência de gênero e para discutir soluções para o machismo. Eles assistiram à palestra do psicólogo Luiz Henrique Aguiar, coordenador do Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam) da 102 Sul.