A greve dos médicos do Distrito Federal, que já provocou um verdadeiro colapso nos serviços de saúde, não pode ser encarada apenas como um embate de interesses entre a categoria e o governo. É necessário considerar o impacto devastador que a paralisação está causando à população, especialmente aos milhares de pacientes que dependem do sistema público de saúde para suas necessidades mais básicas.
A determinação judicial que impõe uma multa diária de R$ 200 mil ao Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (Sindmedico) está sendo desconsiderada, prolongando uma crise que poderia ser evitada. O cenário nos hospitais e postos de saúde é alarmante: atendimentos essenciais foram suspensos, médicos faltam nos plantões, e a espera por procedimentos críticos aumenta exponencialmente. A saúde da população, sobretudo a mais carente, está sendo sacrificada em um jogo de forças que deveria ser resolvido por meio do diálogo e da negociação.
Embora as demandas da categoria sejam importantes, é preciso lembrar que o direito à greve não deve, em hipótese alguma, colocar em risco a vida e o bem-estar da comunidade. O juramento médico de cuidar da saúde das pessoas precisa ser o fio condutor das decisões da categoria, especialmente quando o que está em jogo é o atendimento de urgência e a continuidade de tratamentos que podem ser vitais.
Os médicos, com sua alta remuneração, que pode chegar a R$ 80 mil mensais, devem também considerar sua responsabilidade social. Trata-se de uma categoria privilegiada dentro do serviço público, e é essencial que esse privilégio venha acompanhado de um senso de dever em relação à população que tanto depende de seu trabalho. É compreensível que os profissionais de saúde lutem por melhores condições, mas a paralisação total dos serviços não pode ser a única estratégia. É preciso haver uma disposição maior para a negociação.
Ao invés de se manter em uma posição de resistência e descumprir ordens judiciais, o sindicato dos médicos deveria buscar alternativas que garantam a continuidade do atendimento, ao mesmo tempo em que as negociações com o governo avancem. Ceder em alguns pontos não é sinal de fraqueza, mas sim de maturidade política e de sensibilidade com relação ao impacto social de suas ações.
A população já está sofrendo as consequências de uma crise prolongada, e continuar a greve nessas condições apenas agrava o problema. O governo também precisa estar aberto ao diálogo, mas é fundamental que os médicos, como uma categoria com um papel essencial no bem-estar social, façam concessões. Voltar ao trabalho e negociar ao mesmo tempo é uma forma de mostrar que a categoria valoriza não só seus próprios direitos, mas também o direito da comunidade de ter acesso à saúde.
A greve, neste momento, está longe de ser a solução para os problemas do sistema de saúde do Distrito Federal. Pelo contrário, ela está aprofundando uma crise que já era grave. É urgente que os médicos retomem os atendimentos e se sentem à mesa de negociações com o governo, buscando soluções que equilibrem os direitos trabalhistas com o bem-estar da população. Afinal, a saúde pública é um bem coletivo, e sua manutenção depende de decisões responsáveis de todos os envolvidos.