Combate ao ‘capacitismo estrutural’, fortalecimento da educação inclusiva e uma legislação mais atenta às necessidades das pessoa com deficiência: esses foram alguns dos temas abordados na solenidade “PCD na garantia da Educação Inclusiva”, que aconteceu nesta quinta-feira (21) na CLDF. O evento foi conduzido pelo deputado Fábio Félix (PSOL), que preside uma frente parlamentar relacionada ao tema, e teve a participação de diversos atores engajados na luta pela causa.
Érica Curado, mulher autista e professora da Secretaria de Educação do DF, falou sobre o quão difícil é lutar contra os preconceitos enraizados socialmente e sobre a importância da educação nesse processo. “Com a educação inclusiva, a gente luta principalmente para quebrar os preconceitos arraigados com relação aos grupos minoritários. Temos que lutar pela diversidade dentro da escola. As crianças não nascem com preconceitos, elas são socialmente ensinadas e só a educação inclusiva pode nos libertar desses modelos preconceituosos”, afirmou a educadora.
Anna Carolina Rocha, servidora pública federal e ativista das pessoas com doenças raras e pessoas com deficiência, reforçou a necessidade de se pensar a escola como cenário ideal para se debater sobre a luta contra os preconceitos. “A gente tem que começar a trabalhar com urgência essa temática na escola, sensibilizar a população escolar sobre essas questões, de preconceito, de capacitismo, de respeito ao próximo. Quando eu faço uma palestra em alguma escola, percebo que as crianças estão abertas para receber essa informação, e, quanto mais novos, melhor”, declarou a ativista.
Fábio Félix também ressaltou a importância de se inserir no campo da educação o debate sobre a atuação do Estado com relação às políticas direcionadas às pessoas com deficiência. “A reflexão sobre a educação inclusiva é importante para a gente poder avançar em muitas outras áreas. Como a educação é um elemento de prevenção, por meio dela a gente também consegue mudar outras políticas públicas”, destacou o distrital.
Capacitismo Estrutural
Roselene Alves, doutoranda pela UNB e diagnosticada com autismo aos 38 anos, falou sobre a luta pela ocupação de espaços de poder por pessoas com deficiência. Segundo ela, debates sobre o tema em locais como a CLDF são essenciais para dar maior visibilidade à questão e para fortalecer a luta contra o ‘capacitismo estrutural’, termo que se refere ao preconceito contra as pessoas com deficiência que vai além das ações individuais, sendo, muitas vezes perpetuados pelas próprias instituições como parte do processo de estabelecimento e manutenção da ordem social.
“O resgate da participação social é o que motiva a gente a perseguir as ações para que nós, pessoas com deficiência, possamos ocupar os espaços que o capacitismo estrutural nos nega, declarou Roselene. Ela mencionou ainda algumas ferramentas fundamentais à inclusão. “Linguagem simples, audiodescrição são alguns recursos importantíssimos para que PCD’s possam estar incluídos na sociedade exercendo sua plena cidadania e seus direitos que o capacitismo estrutural nega”, concluiu.
“Devemos pensar a pessoa com deficiência como protagonista de sua vida”, diz palestrante
A escritora, palestrante, influenciadora digital e estudante de letras na UnB Clara Marinho relatou um pouco da dificuldade enfrentada pela pessoa com algum tipo de deficiência quando inserida nos espaços públicos convencionais. Segundo ela, que tem paralisia cerebral, as atividades mais simples, como andar de ônibus, tornam-se muito difíceis porque nenhum espaço é pensado para essas pessoas.
“É importante que a gente pense nas pessoas com deficiência como protagonistas da vida delas. Embora isso soe como romântico, na realidade a gente sofre muito com os espaços, porque eles não são pensados para a gente, para os nossos corpos” declarou Cara Marinho.
A solenidade aconteceu em memória ao Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro. Ao final da cerimônia, foram entregues 19 moções de louvor a pessoas com destacada atuação em prol da causa.
Fonte: Agência CLDF