A velocista bielorrussa Krystsina Tsimanouskaya refugiou-se na Polônia nesta quarta-feira (4) após se recusar a retornar a seu país após participar da Olimpíada de Tóquio (Japão), em uma saga que lembra as deserções esportivas da Guerra Fria.
O caso envolvendo a atleta de 24 anos pode isolar ainda mais Belarus, que está sob sanções financeiras e econômicas do Ocidente após o recrudescimento da repressão do presidente Alexander Lukashenko contra a oposição desde o ano passado.
Após passar duas noites na embaixada da Polônia, a velocista de 24 anos entrou no avião no aeroporto de Narita usando óculos de sol decorados com as palavras “eu corro limpa” rumo a Viena.
Inicialmente, ela pegaria um voo para Varsóvia. Um porta-voz do governo polonês disse que, na última hora, ela optou por um voo com destino à capital da Áustria por temer por sua privacidade e segurança após a notícia sobre seu plano vir a público e repórteres reservarem assentos no voo.
As preocupações são particularmente grandes devido a um incidente ocorrido em maio, quando um avião da Ryanair foi forçado a pousar em Belarus e um jornalista dissidente foi preso, disse a fonte polonesa.
De Viena, ela foi para Varsóvia. A Polônia, que há muito tempo critica Lukashenko e abriga muitos ativistas de Belarus, concedeu a ela e a seu marido vistos humanitários.
A corredora causou um incidente diplomático no último domingo (1), quando disse que seus treinadores abreviaram sua participação nos Jogos de Tóquio, exigindo que ela fizesse as malas na Vila Olímpica e levando-a ao aeroporto contra sua vontade por ela tê-los criticado publicamente.
Ela se recusou a embarcar no voo e pediu proteção da polícia japonesa.
“Não voltarei a Belarus”, disse a atleta à Reuters na ocasião.
O Comitê Olímpico Nacional de Belarus informou que os treinadores decidiram retirar a atleta dos Jogos seguindo conselho de médicos a respeito de seu estado emocional e psicológico.
Um porta-voz do Ministério do Interior de Belarus não foi encontrado para comentar sobre a segurança do voo de Tsimanouskaya. Autoridades do governo bielorrusso pouco disseram publicamente sobre o caso dela.
Investigação do COI
O Comitê Olímpico Internacional (COI) iniciou uma investigação sobre a alegação de Tsimanouskaya de que foi retirada da Vila Olímpica, e disse nesta quarta-feira que recebeu um relatório da equipe bielorrussa.
“O COI está montando uma comissão disciplinar para estabelecer os fatos deste caso e para ouvir as duas autoridades [Artur Shumak e Yuri Moisevich], que supostamente se envolveram neste incidente”, disse o porta-voz do COI, Mark Adams.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, acusou o regime do presidente bielorusso, Alexander Lukashenko, de intolerável “repressão transnacional” no assunto.
O incidente chamou a atenção para Belarus, onde a Polícia reprimiu dissidentes após uma onda de protestos desencadeada por uma eleição no ano passado que, segundo a oposição, foi fraudada para manter Lukashenko no poder.
Autoridades bielorrussas caracterizaram os manifestantes antigovernamentais como criminosos ou revolucionários violentos apoiados pelo Ocidente e descreveram as ações de suas próprias agências de segurança como apropriadas e necessárias.
* Reportagem adicional de Karolos Grohmann, Parniyan Zemaryalai, Akira Tomoshige, Angie Teo e Pak Yiu.