Minha vida é resultado de minhas escolhas e das pessoas a minha volta. Não tem sido fácil chegar até aqui. Há exatos cinco anos eu escrevia o texto mais difícil de minha vida (Perdi meu filho, mas o céu ganhou uma estrela brilhante). As sete da manhã do dia cinco de dezembro de 2011 eu perdia um filho querido. Cheguei exatamente na hora que ele tinha uma parada cardiorrespiratória e era atendido por uma equipe médica.

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Naquele momento lutei contra Deus. Eu o questionei o porquê de tantos jovens “vagabundos” estarem vivos praticando coisas ruins e meu filho, um exemplo de filho, naquela situação. Tive grande dificuldade em orar o “Pai nosso”. Naquele momento não saia o “Seja feita a Sua Vontade”. Tinha medo da Vontade Dele não ser a minha. Infelizmente eu tinha razão.

Nestes quatro anos tenho percebido que Deus tem sido bom para mim. A dor ainda é enorme. O nó na garganta hoje é o mesmo daquele dia. Neste momento as lágrimas teimam em escorrer pelo meu rosto. Resta-me apenas escrever, para tentar minimizar. Quero explodir neste momento. Minha garganta não quer deixar descer nem mesmo a saliva. Não tem sido fácil, na verdade o único dia fácil foi ontem.

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Mas tenho que continuar, não por mim, mas por ele, por minha família, por meus amigos. Pela manhã recebi uma ligação. Meu amigo Marcelo Santos, cabo da minha turma me ligou. Lembrou do dia. No cemitério ele foi a primeira pessoa a chegar naquele ano. Recebeu junto comigo o corpo do meu filho, ajudou-me a arrumar o caixão, juntamente com outra amiga, Andreia Lima, sobrinha da Sargento Paula do Riacho Fundo.

Naquele momento nunca me senti tão acolhido por amigos e pela Corporação. Ali senti o que é espírito de corpo. O coronel Pontes da Rotam foi uma das primeiras pessoas da Corporação que liguei. Nunca esquecerei do pessoal do BOPE e do Bpcães, meu filho era apaixonado por eles. Fizeram um corredor, o Cabo Luiz Cesar e o Coronel Paim foram muito parceiros. Muitos foram os amigos, já os citei em outros textos, Eudes, Cabo Euler, Marcelo Jesus, Edimar, o Alemão, administrador do Lago Norte a época e o Eudes foram excepcionais.

Quando meu filho morreu, eu tinha apenas quinze centavos em minha conta. Tinha a dor de perder um filho e a dor de nem poder pagar seu sepultamento. O Marcos (Alemão) e o Eudes Vieira, pagaram de imediato. Nunca esquecerei este gesto. Agradeço a Deus por tudo de bom e tudo de ruim que passei.

Quatro anos depois Deus restituiu muita coisa em minha vida. Minha filha mais velha é um orgulho, este ano disputou um campeonato brasiliense, um campeonato brasileiro e um campeonato mundial de vôlei. Chegou a ir para seleção Brasiliense, formou-se aos dezesseis anos, terminou o ensino médio. Deus me deu uma filha linda, que hoje está com três meses, Sophia, uma companheira abençoada, chamada Adriana, que me ajudou muito em minhas finanças. Deus me colocou em uma posição profissional que nunca imaginei, Assessor Especial, na Secretaria de Segurança Pública do DF, função ocupada na maioria das vezes por coronéis.

sophia

Sou grato a Deus por tudo. Em especial por me ensinar que saudade é quando a distância que nos separa é maior que o maior que sentimos, e olha que meu amor por Gabriel é grande. Tenho aprendido também que as lágrimas que derramo neste momento é amor que não cabe no peito. Elas escorrem lavando meu rosto, lavando minha alma, elas aliviam a pressão do meu coração, que neste momento quer explodir. Agradeço a cada amigo que chorou comigo, que orou por mim. Apesar de toda dor continuo de pé. Continuo sonhando. Continuo lutando. A vida continua para ele que partiu e para nós que ficamos.  Tudo isso parece que foi ontem, mas já se passaram quatro anos…