A vida da única coronel da Polícia Militar do Distrito Federal na ativa, Cynthiane Maria Santos, 45 anos, sempre foi cheia de desafios, superação, quebra de paradigmas e provas de coragem. Quando foi aprovada no concurso da corporação, não sabia o que esperar da função. A persistência ao encarar as dificuldades, no entanto, a tornou referência e exemplo de coragem.
“É uma situação delicada e nunca atuei nessa função em um período eleitoral. Temos as limitações legais. Porém, encaro como novo desafio. A partir de agosto, estaremos prontos para essa fase”, garante Cynthiane Santos. Ela já começou a fazer treinamentos diferenciados e estratégicos para encarar a missão “de forma natural e dinâmica”.
Entre 2007 e 2010, Cynthiane trabalhou na coordenação da segurança de outra autoridade: o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Conta que a experiência no Palácio do Planalto foi enriquecedora. Com perfil popular, Lula era imprevisível.
A coronel recorda-se que um dia o petista seguia para o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e viu uma manifestação. Imediatamente, pediu ao motorista que parasse o carro e foi falar com as pessoas. “Elas ficaram tão surpresas que não souberam explicar o motivo do protesto”, diz.
Ela garante que adequa o trabalho de acordo com o perfil da autoridade. Assim como Lula, Rollemberg gosta do contato com a população. “O objetivo, então, é fazer com que seja o governador do Distrito Federal e vá até as pessoas de forma natural, como tem acontecido. Organizar para que tudo ocorra da melhor forma possível”, destaca.
Com batom nos lábios, pele impecável e excelente forma física, a militar se divide entre o vaivém no Palácio do Buriti, sede do governo local, a Residência Oficial de Águas Claras e os cuidados com o filho, um jovem de 21 anos. Mesmo com a agenda corrida, consegue tempo para fazer curso de francês.
Na sala da policial, ela reserva um espaço para os presentes de amigos e homenagens da corporação. Comunicativa e com sorriso no rosto, Cynthiane mostra, com orgulho, as caveiras coloridas, que representam o Batalhão de Operações Especiais (Bope), réplicas da oficial com a farda da Patamo e até mesmo uma bonequinha que a imita quando está à paisana. Nas horas vagas, a oficial vive uma rotina discreta e saudável.
Sobre possíveis preconceitos sofridos em um local predominantemente masculino, a coronel conta que esse é um problema superado. Hoje conquistou o respeito dos colegas de trabalho e superiores.
Em 1998, as mulheres tiveram que parar o Congresso Nacional para unificar os quadros da Polícia Militar. “Fazíamos o mesmo trabalho, tínhamos a mesma formação, desempenhamos a mesma função? Por que ficarmos em grupos diferentes?”, questionou a coronel. A Lei 9.713 permitiu que elas ocupassem as mesmas funções dos homens e acabou com as diferenças que impediam a ascensão feminina.
Ela era a única mulher da turma. Raspou a cabeça com máquina um, igual aos colegas, e passou quase cinco meses em treinamento intenso que testava a resistência física, o psicológico e a técnica. “Meu filho, que na época tinha três anos, me chamava de Pocahontas, devido ao meu cabelo. Gostava de deixar grande. Cortei em uma sexta-feira e, na segunda, já me apresentei para fazer o curso. Estava determinada e só desistiria se algo muito grave me deixasse impossibilitada”, conta.
Depois que eu fiz o curso, senti que as coisas começaram a mudar. Os homens não precisavam ser caveira para comandar ninguém. Acham que são melhores. Passaram a me olhar como igual só depois que conquistei a minha caveira. Hoje, o Bope é minha casa” Coronel da PMDF Cynthiane Maria Santos
Além disso, a policial foi a primeira oficial feminina da PMDF a viajar para o Timor Leste em uma Missão de Paz da Organização das Nações Unidas (ONU).
Empoderamento
A policial do Distrito Federal foi a primeira mulher no Brasil a comandar um batalhão de choque. Na época, ganhou destaque na imprensa local e nacional. Ela não imaginava a repercussão, pois achava que era algo natural na carreira.
“Uma vez, trabalhei em um jogo de futebol. Entrei no banheiro feminino e uma mulher me reconheceu. Sabe aquela coisa das mulheres se veem em você? Eu não tinha noção do que o meu empoderamento representava para outras. Foi emocionante”, conta.
À frente do Choque, Cynthiane passou por mais uma prova de fogo. Atuou na Copa das Confederações, em 2013, na Copa do Mundo e nas manifestações de junho de 2015. A tropa era empregada quase todos os dias. Em todas as ações, ela estava ao lado dos militares.
“Eu dizia que só tinha um filho, mas que a partir daquele momento, eu teria 400. Falava: se vocês estiverem certos, vou até o inferno defendendo. Mas se estiverem errados, tenho que ser a primeira a saber”, ressalta.
Fonte: Portal Metrópoles – Texto de Mirelle Pinheiro