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Na manhã desta sexta-feira (20) um avião deve deixar São Paulo para buscar brasileiros isolados por toque de recolher no Peru por causa do covid-19. A repatriação dos turistas, anunciada nesta quinta-feira (19) pelo senador Fernando Collor (Pros-AL), já era cobrada por senadores há algum tempo.

No Twitter, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), publicou vídeo de turista preso havia dias num hotel em Lima, a capital peruana, sem previsão de voo para retornar ao Brasil.

 Já entramos em contato com o consulado brasileiro, mas está fechado, nem abrem o portão, e a embaixada nos manda aguardar, aguardar. Estão demorando demais  reclama o homem, que não se identifica no vídeo. Em outro vídeo divulgado por Álvaro Dias, esse turista diz ter andado 40 minutos até o consulado, que está fechado com uma notificação de número de emergência, que, segundo ele, não atende.

À Agência Senado, Alvaro Dias disse que estima-se que 3,5 mil brasileiros estão retidos no Peru, impedidos inclusive de transitar, presos no hotel, alguns sem dinheiro até para comer.

 Mantivemos contato com a diplomacia brasileira para agilizar alguma providência que possa permitir o retorno. Também existem brasileiros pedindo socorro em vários países, como Portugal e Angola. Por isso fizemos esse apelo ao Itamaraty, mesmo com a compreensão das dificuldades do governo em atender a todos, mas pedimos que adote providências com esmero e brevidade para que esses brasileiros possam se sentir amparados.

Pandemia de covid-19

O fechamento de fronteiras e o cancelamento de voos em todos os continentes por causa da covid-19 pegaram milhares de brasileiros em viagem para outros países de surpresa. Sem terem como voltar para casa, eles usam redes sociais e tentam contato com os gabinetes parlamentares em busca de socorro. A expectativa deles é de que o governo consiga voos privados, como esse primeiro da companhia aérea Gol rumo a Lima, ou envie aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), como aconteceu no início de fevereiro na operação que trouxe diplomatas e turistas que estavam na China.

O Itamaraty já recebeu dezenas de pedidos de ajuda que vêm de todas as partes: Portugal, Marrocos, Peru, Chile, Argentina, Republica Dominicana etc. Na maioria dos casos, brasileiros que se encontram no exterior não podem voltar porque as companhias aéreas cancelaram voos. Em muitos casos, os voos ficaram inviáveis economicamente, uma vez que grande parte dos passageiros desiste de viajar, ou não podem ser feitos porque houve o fechamento de fronteira. Viagens aéreas entre países foram uma das principais formas de o vírus se espalhar globalmente, causando a pandemia.

Brasileiros em Portugal

Um dos parlamentares que se mobiliza na tentativa de repatriar brasileiros no exterior, o senador Rodrigo Cunha (PSDB-AL), presidente da Comissão de Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor (CTFC), fez contato com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pedindo ajuda ao Itamaraty para trazer 18 alagoanos que estão em Portugal provenientes de um cruzeiro. Eles estão impedidos de remarcarem passagem de volta. Num ofício, Rodrigo ressaltou o risco de os brasileiros estarem desamparados em país europeu, onde a contaminação pelo coronavírus está numa escala mais avançada.

“O momento é grave e afeta o mundo inteiro. No entanto, não podemos deixar nossos compatriotas sem qualquer apoio ou ajuda num país estrangeiro, onde não contam com plano de saúde e vêm a cidade fechada sem saber a quem recorrer”, argumentou o senador, que também pediu providências à empresa TAP, que faz voos entre o Brasil e Portugal.

Um vídeo desses brasileiros que tiveram voos de retorno cancelados em Portugal foi postado no Twitter pelo senador Humberto Costa (PT-PE), intitulado “governo Bolsonaro se recusa a ajudar brasileiros que querem voltar ao país”. Ele mostra várias pessoas aglomeradas na frente da embaixada brasileira em Lisboa. Uma mulher, que se identifica como Arisa, conta que o embaixador, Carlos Alberto Simas Magalhães, teria recebido o grupo para dizer que não há dinheiro nem estrutura para dar apoio nem acomodação até que a situação se resolva.  

Humberto Costa pediu ao Ministério das Relações Exteriores (MRE) assistência urgente e a imediata repatriação dos prejudicados:

— O governo tem de botar voos da FAB para buscá-los ou requerer aeronaves de empresas privadas para o traslado de todos os que estejam nessa situação. Há um número grande de cidadãs e cidadãos brasileiros presos no estrangeiro, impossibilitados de voltar ao Brasil. Eles ainda enfrentam o problema do exponencial aumento do dólar e do euro frente ao real, o que dificulta ainda mais se manterem por lá  afirmou.

O senador questionou se o governo já tem um levantamento do número de brasileiros nessa situação e quais medidas o Itamaraty está tomando para agilizar a repatriação desses cidadãos impedidos de voltar ao país. Segundo o MRE, esse balanço ainda está sendo feito.

A embaixada brasileira em Lisboa, por meio do seu site, comunicou que trabalha com o governo português para “construir soluções que atendam aos brasileiros em necessidade”.

 Pede-se a compreensão da comunidade quanto à gravidade da situação, que em muito ultrapassa a capacidade humana e material dos postos em reagir nos prazos e condições habituais  diz o comunicado.

O Itamaraty diz que, com o apoio de consulados e embaixadas, a prioridade é coordenar com governos e companhias aéreas o retorno ao Brasil dos viajantes brasileiros buscando dar toda a assistência possível em cada caso. Segundo o órgão, nenhuma representação diplomática brasileira está fechada, apenas adaptaram o regime de trabalho, com horários especiais de atendimento ou teletrabalho em países assolados pelo coronavírus.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)