Ao nos inscrevermos para o concurso de Soldado do Corpo de Bombeiros não tínhamos a menor noção do que iríamos enfrentar. Estávamos em busca de um emprego público, tão sonhado por todos. Éramos jovens, de 18 a 24 anos. Alguns de nós nunca haviam trabalhado. Foi a transição do ensino médio para uma vaga no Governo do Distrito Federal. As mais novas se apoiaram naquelas que tinham certa experiência: trabalho, casa, filhos. Em 1995, éramos 38 mulheres, vindas de famílias de várias regiões do País.

Uma mistura de costumes, valores e comportamentos a serem moldados em uma única vertente, o militarismo. As ordens  se  tornaram  nossa  linguagem. Vai!  Corre!  Se  apresenta!  Tudo  muito confuso… Nossos auxiliares de coordenação eram o porto seguro. Ao mesmo tempo  que  nos  pressionavam,  davam  ferramentas  para nos reinventarmos no universo militar. Sabiam que havia em nós uma força interior exponencial, que nos impulsionaria para as diversas especialidades da corporação. Aprendemos a conviver em grupo. Vivenciamos o confinamento. Compartilhamos pertences, comida,  água,  histórias.  Choramos,  nos  revoltamos,  pensamos  em  desistir. Experimentamos  uma  avalanche de  sentimentos  contraditórios,  unidos  as nossas  características  biológicas que,  mensalmente,  nos  tornavam  um  vulcão em  erupção. Aprendemos  com  as  precursoras  os  mais  sábios  conselhos,  os quais foram fundamentais para nortear nosso horizonte. A liberdade passou a ter  novo  sentido. Voltar  para  casa  passou  a  ser  um  prêmio.  Nossas  famílias tiveram  um  novo  olhar.  A  transformação  não  teria  mais  volta. Nos  tornamos Soldados do fogo. Sabíamos que o treinamento chegaria ao fim, e que a dura realidade  da  profissão  estaria  diante  de  nossos  olhos.  O  medo  era  o  maior desafio. Descobrimos que um corpo é composto por membros, e que ninguém atua  sozinho. Não  precisávamos  ser  perfeitas.  A  perfeição  se  mostrava  na unidade. Ao longo dos 25 anos de carreira nos tornamos mães, esposas, avós. Vencemos  o  preconceito  e  a  rejeição.  Nos  aperfeiçoamos  nas  técnicas e no autoconhecimento. Encontramos nosso lugar. Hoje, as marcas da profissão nos acompanham, novas adaptações para lidar. Somos gratas por todos aqueles que nos  ajudaram  a  trilhar  essa  jornada  tão  nobre  e  desafiadora. Nenhum  passo demos atrás! Temos orgulho da nossa história. Por onde passamos deixamos alguma lição e um pouco de nós. Tuma A-95/CEFAP.