A implementação do ensino militar em escolas públicas do Distrito Federal, por meio do programa Respeito nas Escolas, está longe de um consenso. Depois do anúncio feito pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), na última sexta-feira (11/1), de iniciar a parceria com a Polícia Militar em quatro colégios, o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) condenou a ideia e exigiu debate. Em seguida, foi a vez de os deputados distritais se manifestarem. No caso dos parlamentares, as opiniões estão divididas.
A polêmica sobre o tema no âmbito do Legislativo local começou com nota de Fábio Felix, do PSol. Ele acredita que, “ao anunciar a presença de militares nas escolas do DF, o governo Ibaneis dá um claro recado aos professores e à sociedade: ao tratar da educação, vai optar pelo caminho do silenciamento e da repressão em detrimento da autonomia e da formação para a cidadania”, diz o documento.
Para Félix, a proposta – que, segundo Ibaneis, começará em Ceilândia, Recanto das Emas, Sobradinho e Estrutural – “vai na contramão de um modelo de gestão democrático e não hierarquizado, que abre as portas da escola para a população”.
A discussão continua com Leandro Grass, deputado distrital da Rede. Ele acredita que o problema da escola não é a disciplina interna, mas os problemas sociais externos, como a violência e o desamparo familiar. “A militarização não implica na aprendizagem dos alunos. Pelo contrário, está na contramão da tendência mundial da educação, que é fortalecer a autonomia dos alunos”, disse.
Chico Vigilante (PT) engrossa o coro da oposição ao analisar que o projeto deve ser discutido com a sociedade. “Parece uma jogada de marketing. Não sou contra a medida, acho que tem de ser bem-feita, embasada, com cuidado para todas as escolas”, afirmou.
Ponderação
O líder do governo na Câmara, deputado Cláudio Abrantes (PDT), pondera: “É prematuro fazer qualquer tipo de avaliação. Temos três escolas militares no DF hoje, que têm nível de excelência elevado. Nelas, a militarização não mexe com a cabeça das crianças. É seguida a Lei de Diretrizes e Bases da Educação. Pelas experiências que observo, não há qualquer tipo de cerceamento de liberdade de jovens em escolas militares”, afirmou.
O deputado Hermeto (PHS) é policial militar e defende o modelo anunciado pelo governo. “As escolas militares resgatam algo que está perdido na sociedade: o civismo, o amor à pátria, tudo, claro, respeitando as diferenças de cada um”, apontou. Para ele, a Lei de Diretrizes e Bases precisa ser seguida, mas com a recuperação do respeito ao professor e à instituição escolar.
Favorável ao programa, o deputado Daniel Donizet (PRP) vê a iniciativa como um instrumento que vai aprimorar a formação dos estudantes. “Permitirá que as escolas se destaquem em relação à qualidade do ensino. O projeto-piloto muito provavelmente dará certo e será estendido para toda a rede de ensino do DF”, disse.
A parceria
O secretário de Educação, Rafael Parente, falou ao Metrópoles sobre a importância do programa. Segundo ele, antes de qualquer anúncio, houve uma conversa com os diretores das instituições de ensino e eles foram a favor da iniciativa nas quatro regiões sugeridas.
Ainda segundo Parente, é preciso resgatar o respeito nas escolas. “Vamos criar um ambiente propício à aprendizagem, com respeito ao próximo, ao professor. Se podemos fazer isso em parceria com modelos que dão certo, faremos. É uma experiência. Um piloto”, enfatizou.
SOS Segurança
O programa foi anunciado sob o guarda-chuva do SOS Segurança. Durante a cerimônia de lançamento, o governador Ibaneis Rocha afirmou que a previsão é inaugurar as quatro primeiras escolas neste ano: em Ceilândia, Recanto das Emas, Sobradinho e Estrutural. Depois, ampliar o projeto. “Esse ensino de excelência tem de ser estendido a todas as escolas do DF”, disse.
“A ideia é usar a estrutura de escolas já existentes, de 6º ao 9º ano e do ensino médio. Em um segundo momento, essas unidades passarão a ser em tempo integral. Serão investidos R$ 800 mil – R$ 200 mil por colégio. O modelo é o mesmo da escola da Polícia Militar”, afirmou o secretário Rafael Parente.
Os primeiros locais foram escolhidos devido ao “alto índice de criminalidade” nessas regiões, que têm estudantes com “baixo desempenho” escolar. O convênio com a Polícia Militar não vai tirar policiais das ruas. Levará, a cada escola, entre 20 e 25 militares (policiais ou bombeiros) que estavam com restrição médica ou na reserva.
Fonte: Portal Metrópoles