Neste 1º de março de 2022, a Academia de Polícia Militar da Brigada Militar, a tradicional “Fonte de Líderes”, completa 106 anos de criação. Para homenagear esta importante unidade da Instituição, a “casa mãe” de seus oficiais, leia a seguir o resgate histórico escrito pela coronel RR Najara Santos da Silva, militar e historiadora.
A formação profissional na Brigada Militar e o aprimoramento de seus quadros vêm evoluindo ao longo dos anos, com o objetivo de que a Corporação acompanhe as transformações sociais, políticas, econômicas e culturais, desempenhe sua missão constitucional e atenda as demandas da sociedade de maneira satisfatória.
Para tanto, em 20 de junho de 1898, foram criadas as Escolas Regimentais, para atender aos praças. Simultaneamente, ainda que sem caráter público, mas patrocinado pelo comandante, funcionava o curso de preparatórios para oficiais e inferiores, que se destinava a elevar o nível intelectual dos oficiais e contava com os melhores professores de Porto Alegre, dentre os quais estavam o educador Alfredo Clemente Pinto, o capitão e professor João Vespúcio de Abreu e Silva, o educador e engenheiro militar Otávio Rocha, o professor e historiador Afonso Guerreiro Lima, e os professores Ildefonso Gomes, Antônio Gonçalves Moura Monteiro, Leopoldo Tietböhl, José Theodoro de Souza Lobo e Henrique Emílio Meier, entre outros.
No entanto, esses cursos deixaram de existir, em virtude das novas exigências para a inclusão na Corporação. Consequentemente, em 1º de março de 1916, o coronel Affonso Emílio Massot criou o Curso de Ensino, com duração de dois anos, para “proporcionar aos oficiais e inferiores da Brigada Militar meios de se aperfeiçoarem no conhecimento de várias matérias de instrução intelectual, sem sacrifícios pecuniários”.
Diante da necessidade de outra orientação ao Curso de Ensino, de modo que proporcionasse aos oficiais e inferiores o estudo de disciplinas fundamentais ao seu melhor preparo militar, o programa de ensino foi modificado e sua denominação foi alterada para Curso de Preparação Militar (CPM).
Alguns anos depois, em 19 de janeiro de 1922, foi criado o posto de aspirante a oficial da Brigada Militar, ao qual ascendiam os inferiores até a graduação de segundo-sargento, inclusive, desde que tivessem bom comportamento, aprovação no exame prático para o posto de alferes e o Curso de Preparação Militar.
Assim sendo, em 30 de janeiro do mesmo ano, após a conclusão do CPM, os inferiores Ramiro Barcellos Feio, Orácio Alves Machado, Cícero Augusto Wellausen, Justino Marques de Oliveira, Sylvio de Abreu Paiva, Paulino Padilha Gonçalves, Venâncio Batista, Adaucto Witt, Manoel Nunes da Costa e Camilo de Morais Dias constituíram a primeira turma de aspirantes a oficial do Centro de Instrução Militar
Em 6 de outubro de 1929, foi instituído o prêmio General Osório, destinado ao primeiro classificado no Curso de Preparação Militar.
Em 28 de agosto de 1934, foi aprovada a proposta encaminhada pelo coronel João de Deus Canabarro Cunha ao interventor do Estado, para que os Cursos de Preparação Militar, de Sargentos, de Transmissão e, mais tarde, de Educação Física Militar passassem a integrar o Centro de Instrução Militar (CIM), cujo diretor seria o oficial mais graduado da Missão Instrutora, com a incumbência de formar, aperfeiçoar e especializar oficiais e praças.
No ano seguinte, o comando do CIM recebeu ordem para que desocupasse o quartel localizado no Cristal e, por esse motivo, suas atividades administrativas foram interrompidas. Finalmente, foi publicado o decreto de criação do CIM, instalado definitivamente no quartel que havia sido usado pelo Grupo de Metralhadoras, na Chácara das Bananeiras, em 16 de maio de 1935, quando foi organizado como unidade de ensino.
Contudo, somente em 1937, foram estabelecidas as normas para o exame de admissão ao CPM, agora, considerado curso técnico-profissional, destinado exclusivamente aos sargentos da Brigada Militar e, excepcionalmente, a juízo do comandante-geral, aos oficiais efetivos, graduados e comissionados. Porém, os exame dos oficiais e praças deveriam ser realizados separadamente.
O Curso de Preparação Militar passou a ser denominado de Curso de Formação de Oficiais (CFO), em 1942.
O Centro de Instrução Militar recebeu a denominação, em 5 de abril de 1967, de Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Quadros (EsFAQ), que abrigava todos os cursos de formação e aperfeiçoamento destinados a oficiais e praças. Essa mudança estava relacionada à nova estrutura e competência das Polícias Militares do Brasil. Entretanto, durou pouco tempo e, em 24 de outubro de 1969, devido à reformulação do ensino, recebeu o nome de Academia de Polícia Militar (APM).
Finalmente, em 1998, com as mudanças do plano de carreira da Brigada Militar e os critérios para a formação de oficiais, o CFO foi substituído pelo Curso Superior de Polícia (CSPM).
Embora a Academia de Polícia Militar se destinasse exclusivamente à formação e especialização de oficiais, com a reestruturação da Instituição, em 22 de janeiro de 1998, tornou-se responsável pelas atividades de ensino desenvolvidas em todas as escolas: Escola Superior de Oficiais (ESO), Escola de Habilitação e Especialização de Praças (EsHEP), Escola de Bombeiros (EsBo) e Escola de Educação Física da Brigada Militar (EsEFBM). Essa estrutura foi mantida até 2002, quando a Lei de Organização Básica da Brigada Militar foi, mais uma vez, alterada.
Para a coronel Najara, “na Academia de Polícia Militar fomos forjados para o desempenho de funções de comando na Corporação. Aqui, enfrentamos adversidades, superamos nossos limites e aprendemos o significado de espírito de corpo. Além do conteúdo necessário à atividade policial-militar, recebemos ensinamentos sobre as tradições, ritos, valores e memória institucional, fortalecendo, dessa forma, um sentimento de identidade e pertencimento à Brigada Militar”, destacou a oficial.
Atualmente, a Academia de Polícia Militar é comandada pelo tenente-coronel Tales Américo Osório, e possui duas turmas do Curso Superior de Polícia Militar em formação: a mais antiga, cujo ingresso dos cadetes ocorreu em abril de 2021, possui 145 alunos; a segunda turma ingressou em janeiro de 2022, e possui 69 cadetes. As duas turmas se uniram, recentemente, em homenagem ao liceu que os acolhe e molda todos os dias… escreveram, por meio dos militares em forma, o número 106, em reconhecimento pelo aniversário da unidade.
Mais do que o aspecto visual do significado do número, o objetivo da “moldura” denota o orgulho, o sentimento de pertencimento dos alunos, bem como a alegria e satisfação da Brigada Militar em estar com a “casa cheia”, afinal, as unidades de ensino da Instituição encontram em seus alunos a razão de sua existência.
Para completar a homenagem, veja a seguir as percepções de diversos oficiais da Brigada Militar a respeito da nossa centenária Academia:
“Nossa formação na APM, herdeira do velho CIM, é o atestado não só do aprimoramento profissional, mas também da lapidação do nosso caráter e da conduta que trazemos do casa e carregamos pelo resto de nossas vidas, como militares e cidadãos”
Evaldo Rodrigues de Oliveira, coronel reformado, ex cadete e ex comandante da APM
“Gênese: Unidade origem que norteia toda nossa carreira”
Fábio da Silva Schmitt, major e ex cadete
“Legado da APM: 106 anos formando líderes e guardiões do povo gaúcho”
Leonardo Luizelli Altafini – capitão e ex cadete
“A vivência, o aprendizado e o exercício de funções na Brigada Militar, especialmente no período do CFO, de 1959 a 1962, onde a responsabilidade do oficial como líder, gestor e estrategista, moldou minha trajetória e, ao exercer o Comando-geral da Corporação, posso, acredito, resumir a responsabilidade maior do comandante-geral numa frase: o comandante-geral é o gestor do futuro, o dia a dia já está aí a correr, mas a obrigação de plantar futuro é do comandante-geral”
Coronel RR Jeronimo Carlos Santos Braga, ex comandante-geral e ex cadete
Parabéns, APM, 106 anos de história, forjando a liderança da Brigada Militar!