Nem bem estourou o Movimento de “9 de Julho de 1932” e os Batalhões da Força Pública bem como as Guarnições Federais no Estado (Exército Nacional) e do sul do Mato Grosso partiram para as diversas frentes de Batalha, nas áreas fronteiriças de São Paulo.
Diferentemente dos mais de 70 Batalhões de voluntários civis (treinados e comandados por integrantes da Força Pública), que tiveram gigantesca cobertura da imprensa de época, com a presença de multidões em suas partidas, as Unidades, compostas de soldados profissionais, tiveram saída quase anônima, exceto pelos familiares presentes nas Estações de Trem, quando possível.
Sediado desde 1927 na cidade de Bauru- SP, o 4º BCP- Batalhão de Caçadores Paulistas da Força Pública (hoje, 4º BPM/I- Batalhão de Polícia Militar do Interior) foi uma das Unidades que nos primeiros dias partiu para o front. Oito anos antes o 4º Batalhão teve importante participação na Revolução de 1924, apoiando os poderes constituídos. Tais fatos foram descritos por um de seus defensores, o então tenente Benito Serpa, autor de “A Verdun Paulista”.
Em 1932, sob o comando do major Genésio de Castro e Silva, com efetivo fragmentado, direcionado aos diversos campos de luta, a saber:
• Setor Norte, fronteira com o Rio de Janeiro,
• Setor Leste, área que margeia o Estado de Minas Gerais, e
• Setor Sul, nas divisas com o Paraná.
O cabo José Soares, incluso na 3ª Cia do 4° BCP da Força Pública, nascido em Piracicaba- SP, em 1902, era filho de Dona Antônia Soares o do Sr. Sebastião Soares. Com o estouro da Guerra, acompanhando seu Batalhão, partindo para o Setor Norte com sua Companhia, deixou esposa, Dona Ernestina Soares, e duas filhas menores, Dirce e Nelly.
Nosso protagonista foi designado para um dos subsetores mais mortíferos durante a Revolução de 1932, o famoso Túnel da Mantiqueira, verdadeiro “sorvedouro de vidas moças, que lutavam pelo grande ideal da Revolução”, localizado entre as cidades de Cruzeiro- SP e Passa Quatro-MG. Desde 12 de julho a área fora ocupada pelo Exército Constitucionalista.
Os primeiros Soldados da Lei, que tombarem naquele subsetor, ambos em 17 de julho de 1932, foram:
• soldado Mário da Cunha Canto, da 2ª Cia do 5° BCP- Batalhão de Caçadores Paulistas, da Força Pública (hoje, 5º BPM/I- Batalhão de Polícia Militar do Interior, com sede em Taubaté-SP). , e
• cabo Pedro Briante da Silva, da 3ª Cia do 2° BCP- Batalhão de Caçadores Paulistas, da Força Pública (hoje, 2º BPM/M- Batalhão de Polícia Militar Metropolitano, responsável por parte do policiamento ostensivo da zona leste da Capital).
Devido à intensidade da luta, seus corpos foram enterrados próximos da linha de frente e depois transferidos para o Cemitério de Cruzeiro- SP. Em 2002, seus restos mortais foram para sua última e definitiva pousada, no Mausoléu/Obelisco do Ibirapuera, eternizados ao lado de seus irmãos de armas.
22 de julho de 1932: 11 corpos de soldados constitucionalistas jaziam ao lado das trincheiras desde o início das hostilidades (dois deles naquele mesmo dia), nas ásperas encostas da Serra da Mantiqueira, a 1.200 metros de altitude.
Durante um dos entreveros entre as tropas constitucionalistas e as tropas federais- ditatoriais, o soldado José Soares seria mais uma vítima fatal, naquela guerra entre irmãos. Com 30 anos, uma bala assassina o prostrou para sempre.
Similar aos seus demais colegas tombados na refrega, seus restos mortais foram tumulados próximo de onde morreu, ao lado das trincheiras, na “terra de ninguém” (área em comum entre os dois exércitos entrincheirados).
Marcando o local, uma tosca cruz de madeira e uma placa de mesmo material identificavam a lápide com seu nome, pintada com tinta (ou giz) branca, envolvida com terra e pedras. A vegetação natural serviu de ornamento. Ao fundo, a vegetação e os picos cinzentos da Serra da Mantiqueira, testemunha do grande morticínio. Era o melhor que poderiam oferecer para honrar o seu nome naquele momento.
Posteriormente, seus restos foram transladados para o Cemitério da cidade de Cruzeiro- SP.
Mesmo com absoluta superioridade numérica e bélica dos Ditatoriais, o Exército Constitucionalista resistiu até 12 de setembro de 1932 no Túnel, quando houve um retraimento geral dos Batalhões para o estabelecimento de nova linha de resistência, na altura de Cachoeira- SP. Posteriormente, novo retraimento, agora para a linha final, à frente de Engenheiro Neiva, último reduto do Exército Constitucionalista no Setor Norte, em Aparecida, cidade Paulista do Vale do Paraíba. Lá ocorreram as últimas batalhas no Setor até o Armistício, assinado em Cruzeiro- SP, em 02 de outubro de 1932, finalizando a Guerra Civil.
Após quase 70 anos dormindo o sono dos heróis, em 2002, ao lado de muitos combatentes mortos do famoso Túnel, foi inumado no Mausoléu/Obelisco do Ibirapuera, ocupando espaço imorredouro e perpétuo no columbário, em mármore de carrara.
Em Bauru- SP, sede do 4º Batalhão, no bairro Jardim Prudência, há em sua homenagem a “Rua Soldado José Soares”, paralela a outras ruas, que também homenageiam outros heróis do Batalhão da Força Pública, mortos durante a Revolução Constitucionalista de 1932. São as Ruas:
• Soldado Geraldo Alves de Carvalho,
• Soldado Arsênio Guilherme (grafado incorretamente na cidade pelo termo Alcênio Guilherme), e
• Sargento Manoel Rodrigues Rocha.
A cidade de Bauru- SP se destaca por homenagear os tombados durante a Revolução Constitucionalista de 1932, que partiram enquadrados no 4º BCP da Força Pública, pela restauração da ordem legal no país. Além do Jardim Prudência, presta reverência aos heróis falecidos nos seguintes bairros da cidade:
1. Fundação Casas Populares Salvador Filardi:
• Soldado Mário Rodrigues,
• Sargento Celso Moraes Pinto,
• Sargento Manoel Rodrigues Rocha,
• Sargento José dos Santos, e
• Sargento José Pereira (Reymão).
2. Jardim Nova Esperança:
• Cabo Francisco de Assis,
• Cabo Severino Nunes da Costa,
• Cabo Henrique Ivano Kammervorak,
• Cabo Pedro Barbosa,
• 2º Sargento José Mendes Leal,
• Sargento Manoel Faria Inojosa, aluno do CIM- Centro de Instrução Militar.
Uma homenagem aos 30 guerreiros do 4º BCP, hoje, 4º BPM/I, que perderam suas vidas durante a Revolução de 1932 para que hoje vivêssemos em uma Democracia plena.
Eles não morreram em vão…
FONTES:
BRUSSOLO, Armando. Tudo pelo Brasil: Diário de um repórter sobre o Movimento Constitucionalista. São Paulo: Editorial Paulista, 1932.
Cruzes Paulistas: os que Tombaram em 1932 pela Glória de Servir São Paulo. Disponível em: http://mh.itapetininga.com.br/1932/cruzespaulistas80.pdf Acesso em 01 set 2020.
MARQUES. Sérgio. Revolução de 1932: a partida da Força Pública ao Front. Último Segundo- IG. Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/policia/2018-07-11/revolucao-de-1932-sao-paulo.html. Acesso em 07 set. 2020.
_______________. Revolução de 1932: Pedaço de terra sagrado – o Túnel da Mantiqueira. Último Segundo- IG. Disponível em: https://ultimosegundo.ig.com.br/policia/2018-08-16/revolucao-de-1932-pm.html. Acesso em 07 set. 2020.
_______________. 1932: Túnel da Mantiqueira, Pivô do Setor Norte. Os Batalhões da Força Pública, Exército e Voluntários tomaram posição. Disponível em: https://destakpolicialonline.com.br/9-de-julho-revolucao-constitucionalista-de-32/. Acesso em 05 set. 2020.
SERPA, Benito. A Verdun Paulista: Episódios da Defesa do 4º Batalhão da Força Pública durante a Revolução de Julho de 1924. São Paulo: Gráfica Biblos, 1962.
Colorização da imagem feita por Filipe Prado, do Século XX: O Mundo em Guerra 2.0.