Sempre que morre um colega durante uma perseguição policial (acompanhamento) um sentimento toma conta dos colegas: “como poderia ser evitado?”. Neste momento, percebe-se que policiais não são iguais aos “super-heróis” dos filmes, pois na vida real são mortais, deixam filhos, esposas e demais familiares, muitas vezes desamparados com a sua partida inesperada.
Pela manhã de hoje (31) tivemos a notícia da morte de um sargento da Rotam do Goiás, Leandro Caixeta, durante o atendimento de uma ocorrência. No DF, já tivemos centenas delas, algumas com a perda de colegas, quando isso ocorre nos fazemos milhares de perguntas. O Blog do Halk trouxe uma matéria interessante e oportuna intitulada: Falta de segurança nos veículos policiais, quase que um tabu nas polícias brasileiras.
Em 2013, após vários acidentes com colegas policiais, publicamos o seguinte texto: Por que policiais não usam cinto de segurança nas viaturas? O assunto foi polêmico e recebemos várias respostas que podem ser lidas logo após clicar no título da manchete. Muitos se revoltaram e criticaram tanto o texto quanto o autor.
Ainda em 2013 percebemos que alguns Airbags não estavam acionando nas viaturas por falta do cinto e mais uma vez alertamos por meio de outro texto: Uso do cinto é determinante para airbag cumprir função, infelizmente os acidentes fatais continuaram.
Já em 2016, após outro acidente fatal no DF, o Comandante-Geral à época, Coronel Nunes, editou uma Portaria tratando sobre o uso do cinto, publicamos o texto: Comandante Geral da PM edita portaria para que policiais usem cinto de segurança, os pontos principais foram:
1 – Os policiais militares deverão verificar as condições de funcionamento dos dispositivos de alarme sonoro e iluminação, estado geral de conservação dos pneus, eficiência dos freios, além de observarem o uso de itens essenciais de segurança, bem como quaisquer outras alterações que possam comprometer a segurança dos policiais, de outros condutores e pedestres;
2 – A Corporação providenciará cursos de aperfeiçoamento na condução de viaturas policiais militares;
3 – Será instaurada, de forma permanente, uma Comissão Interna para Prevenção de Acidentes (Cipa).
Agora em 2019, o Blog do Halk acende o debate com uma entrevista muito boa do ST Alan Campos, Instrutor de Pilotagem Policial e estudioso do assunto para alguns esclarecimentos e dúvidas.
O acontecimento mais recente envolveu dois policiais da nossa valorosa PMGO que durante uma perseguição na região do entorno do DF, sofreram um acidente grave e foram projetados para fora do veículo por não estarem utilizando o cinto de segurança.
Vários questionamentos nos chegaram e pedimos ao Instrutor de Pilotagem Policial ST Alan Campos da PMDF para nos trazer alguns posicionamentos. Então perguntamos:
Poderia o acidente ser evitado?
O acidente por definição é algo que acontece que foge da rotina comum ou que exceda as capacidades do envolvido, então, evitado NÃO mas minimizado. Deixe explicar, o agente de segurança sempre está próximo do limite de suas capacidades se expondo mais que qualquer um aos riscos, desta feita o nosso objetivo enquanto instituição e formadores é MINIMIZAR os acidentes e suas consequências, através de treinamento e equipamentos necessários.
O senhor fala em treinamento e equipamento, como você vê hoje esta questão?
É uma questão delicada e de certa forma longa para responder, mas podemos sintetizar. Em questão de treinamento, ou a Corporação não investe em treinamento de pilotagem policial ou quando faz se utiliza de meios não muito eficazes e com doutrinas já ultrapassadas e não testadas.
Na questão de equipamento podemos ir mais a fundo, começando respondendo o porquê dos policiais não utilizarem, o cinto de segurança. Eu vou direto ao ponto os bancos e cintos de segurança dos carros utilizados como viatura não atendem ao que o policial precisa.
Um policial equipado com cinto de guarnição e demais equipamentos não encaixa no desenho do banco, forçando coluna/lombar, bem como não acomodando os equipamentos. Um policial com o equipamento básico não consegue afivelar o cinto de segurança e quando o faz é com muita dificuldade. Se faz necessário equipar as viaturas com bancos “flat” na região lombosacra bem como reforço das molas de retração dos cintos e um acoplador em posição que não fique conflitando com o armamento na cintura. Além de se utilizar técnica correta, já testada e aprovada em outros países, para acoplar e desacoplar o cinto de segurança.
Temos ainda que levar outras coisas em conta que não vamos falar aqui como coletes que deem mobilidade, coldre de perna, fixador eficaz de arma longa e etc.
Existe solução para esta questão?
Já existem estudos na PMDF os quais dão suporte para as devidas correções, o que está faltando é uma harmonização e troca de informações entre as diversas áreas das Corporações, de forma que todos entendam que somos interligados e não isolados. Exemplo é uma compra de coletes tem que levar em conta também o piloto policial durante a sua atividade de pilotagem, bem como o policial no controle de distúrbio civil.
Temos que dar treinamento de pilotagem policial levando em conta estes detalhes como colocar e retirar cinto, mudança de faixa e etc.
Rever os regulamentos de uniforme os quais em alguns pontos impossibilitam a utilização correta dos equipamentos, como coldre de cintura.
Ao comprar carros para ser utilizado no policiamento levar em conta não só a motorização, mas a ergonomia, equipamentos policiais e etc.
É um debate polêmico, espinhoso, mas que precisa ser feito. Muito já se evoluiu na tentativa de comprar as viaturas que mais se adequam ao trabalho policial, mas muito ainda precisa ser feito. Cada vez que adiamos o debate sobre o tema pode ser uma vida que perdemos durante os acompanhamentos de marginais que poderiam ser presos por outros meios.
As vidas dos colegas policiais precisam ser priorizadas, isso passa pelo uso correto dos equipamentos de proteção obrigatórios
Redação/PICS com informações do Blog do Aderivaldo Cardoso e Blog do Halk.