No último texto utilizei a expressão SEMANA ZERO e alguns colegas que não são policiais ficaram curiosos para saber o que é e como funciona essa semana, sendo assim, vamos as explicações.
O concurso para soldado é diferente da maioria dos concursos existentes por aí. A fase de seleção leva bem mais tempo que os “normais” e quando entramos nosso curso de formação também é completamente diferente dos demais.
A primeira diferença é que não somos nomeados, somos matriculados. A segunda é que não tomamos posse, somos incorporados. Após isso, o processo de “mortificação” ou “despersonificação” é iniciado. Deixamos de ser “paisanos folgados e mimados” para nos tornarmos MILITARES ou melhor POLICIAIS MILITARES, seres sem IDENTIDADE! Nem paisanos, nem policiais, nem militares…
No primeiro dia chegamos felizes, cumprimentando os conhecidos, na maior expectativa. Todos arrumados, mulheres de salto, homens de roupa social…
De repente tudo muda. Somos apresentados a um “bando de loucos fardados” (era assim que eu os via) gritando e nos tocando feito boiada. Estava iniciando o ADESTRAMENTO. Gritos do tipo: “Correndo aluno, no pátio é correndo!”, “Vamos seu muxiba”, “Venha cá seu monstro!”, “Olha esse amarelo ridículo aqui!”, “fala ser desprovido de luz!”, “o que você tá querendo seu muquiço?”, fazem parte da rotina.
Outro ponto que me chamou a atenção e foi o ápice no narcisismo castrense foi quando fomos apresentados ao nosso novo “chefe supremo”. Esse fato chocou a muitos. Um tenente chega gritando dizendo que ele era o “emissário de Deus” e que tinha um recado para nós. Depois nos disse que iria nos apresentar ao próprio Deus aqui na terra e que deveríamos obedecê-lo e seguí-lo. Para minha surpresa fomos apresentados a um CAPITÃO, descobri naquele momento que o “capitão é Deus aqui na terra“. Durante muito tempo tremia ao ver um capitão no pátio do CFAP e depois de muito tempo de polícia quando chegava perto de um.
Após o primeiro choque fomos divididos em pelotões, os gritos mudaram, agora eram vários pulos em um sol ardente. O comandante gritava: “frente pra retaguarda, retaguarda, retaguarda…”, ficávamos horas rodando no próprio eixo e gritando em resposta: “rá!” Depois ele passou a gritar: “sentado, um, dois!”, respondíamos: “três, quatro!”, novamente ele gritava: “de pé, um, dois!” e respondíamos novamente: “três, quatro!”
Depois de exaustos passamos a ouvir os gritos: “se não aguenta pede baixa aluno!”. Lembro-me que alguns pediram…Isso durou uma semana, por isso o nome: SEMANA ZERO!
Após isso, iniciaram as atividades em sala de aula. Algumas coisas mudaram, mas a maioria continuou, até o coronel limitar o acesso de alguns oficiais aos alunos, teve um que não podia chegar perto dos alunos, mas usava um megafone e de longe gritava: “No pátio é correndo aluno, paga dez pro tenente!”
Semana zero no curso de formação!
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