O último final de semana será inesquecível, pois aprendi grandes lições. A vida é cheia delas, precisamos ficar atentos. Quinta-feira por volta de onze horas da manhã liguei para o sargento Ribamar (China), para pedir um favor. Estava precisando de informações sobre um amigo que estava na UTI do Hospital de Samambaia. Ele me informou que estaria de serviço no dia seguinte e eu me propus a visitá-lo na sexta-feira. Não tinha ideia de que quase no momento da ligação meu amigo estava lutando contra a morte, vindo a perder a vida posteriormente. Minha primeira lição do final de semana: “Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje. Não existe amanhã, esforçar-te hoje!”

Na sexta-feira, ao invés de visitá-lo no hospital estávamos velando-o na Administração Regional do Riacho Fundo I. Um dia triste. Confesso que não tive coragem de entrar para ver o caixão, levou tempo para isso. Uma cena triste demais. Não tive coragem de seguir o cortejo que seguiu até a quadra 121 do cemitério campo da esperança. Nesta quadra já deixei algumas pessoas queridas. O final do dia foi terrível para mim, às dezenove horas já estava dormindo, acabei tendo até febre a noite. Algo impressionante! Acredito que a tristeza pode durar uma noite, mas que a alegria sempre vem pela manhã.

No dia seguinte, iniciei o dia ajudando nos afazeres de casa, uma faxina para relembrar os tempos de curso de formação. Após a faxina, aceitei o convite de um amigo para uma trilha rápida e um mergulho na Água Mineral de Brasília, enquanto a mulher terminava o almoço. Não foi tão rápido e não houve tal mergulho.

Começamos a conversar sobre a vida. Um dos embates era sobre “onde queremos chegar em nossa vida”. Somos amigos desde o segundo grau. Ele advogado e eu policial, ambos falando sobre projetos e desafios futuros, em alguns momentos falávamos que sabíamos onde queríamos chegar, mas muitas vezes não sabíamos como. Pois bem, enquanto conversávamos nos perdemos em uma trilha. Em pouco tempo achávamos que sabíamos onde estávamos, mas na verdade nos perdíamos cada vez mais. Descobri naquele momento que é mais fácil nos perdermos na vida do que nos encontrarmos.

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Como iríamos caminhar e dar um mergulho rápido, deixamos a carteira e telefones no carro. Dentro da mata encontravam-se dois homens perdidos, literalmente sem “lenço e sem documentos”. Cada momento era um ensinamento. Caminhamos por horas e horas com fome e com sede. Já quase no meio da tarde, encontramos um córrego onde saciamos nossa sede. A preocupação era a falta de comunicação, a fome e a noite que poderia chegar.

Após umas seis horas de caminhada chegamos próximo ao uma cerca, perto de um grande aterro. Andamos mata a dentro por meia hora onde encontramos água, mas decidimos voltar, pois imaginei que fosse o aterro da estrutural, mas não acreditei. Enigmaticamente encontramos um carroceiro e uma criança. Que nos apontaram Taguatinga para um lado e o “RCG” para o outro. Quando estamos perdidos “qualquer ajuda serve”, até mesmo uma “criança” ou alguém que nem sabe explicar direito o caminho.

Seguimos em direção ao “RCG”, tínhamos pouco tempo, pois a noite já estava caindo. Seguindo a cerca, em paralelo ao lixão, nos vimos em um corredor estranho. Várias árvores cheias de “urubus”, centenas deles. Uma cena macabra e fedida, além de placas furadas de tiros. Aceleramos o passo. Em silêncio ouvia meu amigo repetindo o salmo 23: “ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum.”

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Caminhamos bastante até chegar próximo a vários barracos sendo construídos, não sabíamos onde estávamos, mas uma senhora e uma criança mais uma vez nos apontaram o “caminho”, entramos cada vez mais na mata, como já estava escuro e o perigo aumentando resolvemos voltar e pedir a ajuda para a senhora. Retornamos!

A mulher do outro lado da cerca, mesmo com medo, nos convidou a ir até ela, falamos que estávamos perdidos, ela nos contou que era nova no local e que não conhecia muito dali, pois chegou há seis meses de Rio Verde – Goiás. Nos emprestou o telefone, mas como era de outro estado não havia crédito. Descobrimos que estávamos no final da cidade estrutural. Fizemos uma oração com a “dona Neuza” e ela pediu a um de seus quatro filhos que nos deixasse próximo a “Vila Olímpica”. Ali relembrei muito de minha infância, de minha origem. De lá, pegamos uma rua da cidade, até pararmos em um “churrasquinho”, onde o dono nos emprestou um celular e pudemos pedir ajuda. Cheguei em casa por volta de 22 horas, com fome, sede e muita dor por todo o corpo, creio que com início de desidratação, mas com muito bom humor.  Onze horas de muita aventura, onde tudo terminou bem!

Iniciamos a conversa falando sobre a importância de sabermos onde estamos para definirmos onde iremos chegar. Todas as vezes que pedimos ajuda, sempre ouvíamos a pergunta: “para onde vocês querem ir?” Percebi que é horrível a sensação de não ter um referencial para poder saber onde está. É triste a sensação de andar, andar e andar, sem saber para onde está indo. Definitivamente precisamos definir claramente o que queremos. Nunca nos esquecendo de onde viemos, onde estamos e para onde desejamos ir. Uma lição importante de toda história contada é que pedir ajuda quando está perdido é fundamental. Ela vem de onde menos esperamos. Sei para onde desejo ir, é possível que eu precise de sua ajuda durante a caminhada. Posso contar contigo?

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