A área portuária do Rio de Janeiro, na região central da capital, inaugurou a primeira fase do Distrito de Arte do Porto, com 18 murais de graffiti assinados por seis artistas da cena urbana, totalizando 3,5 mil metros quadrados (m²) de área. O projeto, idealizado pelo diretor executivo do Núcleo de Ativação Urbana, Hiroshi Shibuya, pretende ser a maior galeria de arte urbana a céu aberto da América Latina, com mais de 11 mil m² de extensão.

 Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, apresenta murais de graffiti ao longo do Passeio Ernesto Nazareth, formando uma galeria de arte urbana a céu aberto

Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, apresenta murais de graffiti ao longo do Passeio Ernesto Nazareth, formando uma galeria de arte urbana a céu aberto – Fernando Frazão/Agência Brasil

Falando à Agência Brasil, Hiroshi Shibuya disse que essa é a fase 1A do projeto, que continuará até dezembro. A partir de janeiro, começará a fase 2, e assim por diante. A próxima etapa da fase 1 prevê entregar, até dezembro, mais 8 mil m² de arte, reunindo mais de 60 artistas e diversas expressões. “Não só muralismo e graffiti, mas estêncil [técnica de pintura que utiliza molde vazado], slam [batalha de versos], poesia, intervenções artísticas. Tudo isso faz parte do contexto artístico do Porto”, disse o diretor do núcleo.

Shibuya informou que já estão planejadas mais quatro fases, cada uma com seis meses de duração, totalizando cinco. “Conforme a gente vai adentrando o Porto Maravilha, a gente sempre encontra novas oportunidades de mapear, desenvolver e transformar. O objetivo é que toda região do Porto Maravilha seja ativada, não só a parte do Santo Cristo, mas o entorno da Rodoviária, Caju, Saúde, Gamboa, a área próxima ao Moinho Fluminense, o Boulevard Olímpico e diversas outras áreas aqui da região”.

 Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, apresenta murais de graffiti ao longo do Passeio Ernesto Nazareth, formando uma galeria de arte urbana a céu aberto

Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, apresenta murais de graffiti ao longo do Passeio Ernesto Nazareth, formando uma galeria de arte urbana a céu aberto – Fernando Frazão/Agência Brasil

Ressignificação

O projeto do Distrito de Arte do Porto pretende desenvolver o território do ponto de vista social e econômico. “A gente não fala só de arte, mas utiliza a arte como mola propulsora do desenvolvimento social e territorial da região”. Estão previstas ações de revitalização de instituições e organizações não governamentais dentro do Morro da Providência e de revitalização de fachadas dos comércios da Rua Santo Cristo.

Há estudos também para a criação de espaços mais humanizados dentro do Hospital do Câncer II (HC II), localizado próximo à Rodoviária do Rio. Hiroshi Shibuya disse que a ideia é chamar artistas mulheres para transformar espaços do hospital em ambientes mais humanizados, com mensagens de empoderamento e força.

“São basicamente mulheres falando para mulheres, ao desenvolver ambientes mais humanizados, quentes, que tragam um pouco mais de conforto para essas pessoas”, disse Shibuya. O HC II é referência para o tratamento de câncer ginecológico.

O projeto do Distrito de Arte do Porto tem apoio da prefeitura carioca, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro, da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto (Cdurp) e da Cury Construtora. O projeto vai construir mais áreas de convivência na região do Porto, antecipando-se aos projetos de construção imobiliária já em curso, melhorando o aspecto visual e aumentando a sensação de segurança no entorno.

Para as próximas etapas, estão previstos festivais de arte, música, cultura e poesia. Serão buscados também novos investidores para a área. “Tudo isso está sendo planejado para ser desenvolvido aqui, após o Distrito de Arte”.

Shibuya informou ainda que o Núcleo de Ativação Urbana foi criado no Porto Maravilha há cerca de sete anos, para ajudar no processo de desenvolvimento da região. “Tudo isso trazendo movimento, trazendo vida e qualidade para a região, que é uma das melhores do Rio de Janeiro, senão a melhor”.

 Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, apresenta murais de graffiti ao longo do Passeio Ernesto Nazareth, formando uma galeria de arte urbana a céu aberto

Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, apresenta murais de graffiti ao longo do Passeio Ernesto Nazareth, formando uma galeria de arte urbana a céu aberto – Fernando Frazão/Agência Brasil

O presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio (Cdurp), Gustavo Guerrante, falou sobre a vocação do Porto Maravilha: “Nós queremos consolidar a área como o maior hub (centro) de arte do Brasil. O Distrito de Arte do Porto vem em completo alinhamento com o bairro que queremos: vivo, com pessoas morando, trabalhando e cheio de cultura e atrações para cariocas e turistas frequentarem”.

Painéis

A obra produzida pelo artista Nadi em homenagem ao samba, com Beth Carvalho e Arlindo Cruz, é intitulada O último dueto. Já o painel feito pela artista Juliana Fervo reforça a liberdade profissional das mulheres, tendo como ilustração uma mulher que trabalha no setor petrolífero, levantando a discussão sobre equidade de gênero no mercado offshore (alto mar).

O artista ACME, por sua vez, ilustra histórias com líderes do movimento negro, com o apoio do Consulado-Geral dos Estados Unidos no Brasil, enquanto Airá OCrespo apresenta o mural Leite Derramado, sobre a desigualdade social, a partir de uma pintura ingênua que mostra a amamentação mas que, ao mesmo tempo, provoca profundas reflexões para quem vê.

Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, apresenta murais de graffiti ao longo do Passeio Ernesto Nazareth, formando uma galeria de arte urbana a céu aberto

Distrito de Arte do Porto, na Zona Portuária do Rio de Janeiro, por Fernando Frazão/Agência Brasil

Outros artistas, como Ananda Nahu e Marcelo Ment, ilustram o Distrito com temas que envolvem causas sociais, machismo estrutural e equidade.